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Pinóquio, personagem de Carlo Collodi
Pinóquio, personagem de Carlo Collodi| Foto:

No aniversário da Gloriosa, Jair Bolsonaro fez um pronunciamento à nação. Falou sobre a gripezinha, que foi promovida a “maior desafio da nossa geração”, interpretou à sua maneira o discurso do secretário da OMS e prometeu esforços coordenados.

Muita gente se apressou em comemorar: “Finalmente baixou o tom”. Baixou nada. Ele de vez em quando recua para pegar impulso e saltar mais longe; distende a corda para relaxar a musculatura e esticar com mais força. Nunca decepciona em ser a decepção que é.

Tanto que, poucas horas depois, publicou um vídeo em que um cidadão indignado fazia críticas aos governadores e mostrava o desabastecimento do Ceasa de Belo Horizonte. Era mentira. O Ceasa está abastecido, a denúncia era falsa, o cidadão era dublê de indignado.

Ao apresentador José Luiz Datena, Bolsonaro ensaiou desculpas. Não houve a devida checagem. “Parece que aquela central de abastecimento estava em manutenção”. Pois é, parece que a narrativa estava em manutenção. Ele sabia que era ou poderia ser mentira, mas pouco importa.

Importa que sua maneira de governar é mesmo essa: estourar quaisquer critérios minimamente objetivos que nos permitam distinguir os fatos dos fatos inventados. Estimular a contradição a tal ponto que já ninguém conte com a objetividade.

Nada aconteceu da noite para o dia. Ninguém foi enganado ou pego de surpresa. Desde a campanha, desde as primeiras sondagens na pré-campanha, desde quando fazia parte do folclore político carioca, Bolsonaro mente.

Bolsonaro mente quando defende o liberalismo econômico. Nunca foi liberal. Sua vida é uma sucessão de catatônicos mandatos. Nunca empreendeu, nunca votou nada que não fosse voto de categoria, nunca pisou fora das fronteiras do estatismo mais atrasado.

Bolsonaro mente quando se diz patriota. Sua pátria é o salário, é o benefício, é a classe, é a família. O seu Brasil é o Brasil do manda quem pode, obedece quem tem juízo; do sabe com quem está falando; do auxílio-moradia para comer gente.

Bolsonaro mente quando prega o conservadorismo. Nunca foi conservador, no sentido civilizado do termo. Seu conservadorismo é um lamaçal de preconceitos atávicos, autoritarismo de caserna e rebeldia à Constituição.

Bolsonaro mente quando anuncia um governo técnico. Os poucos nomes técnicos não podem trabalhar tecnicamente. Têm de fazer genuflexão à ignorância. São desmoralizados e desautorizados em público.

Bolsonaro mentiu e mente. Acreditou quem quis. Acredita quem quer.

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