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Apresentação da OSESP na Sala São Paulo Foto: Rubens Chiri
Apresentação da OSESP na Sala São Paulo Foto: Rubens Chiri| Foto:

Leandro Oliveira é pianista, compositor e regente. Trabalha na OSESP e é professor no projeto “Falando de Música”, ministrado na Sala São Paulo. Escritor e editor do site Ocidentalismo.

1 Fale um pouco sobre sua trajetória – formação acadêmica, musical e ingresso à OSESP.

Trabalho na Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de SP) desde 2003. Comecei como assistente musical do diretor artístico, na época o maestro John Neschling, e após algum tempo comecei a fazer o “Falando de música” – palestras que antecedem cada concerto da temporada sinfônica oficial da Orquestra, realizadas já há 12 anos.

Sou pianista, compositor e regente de orquestra por formação. Fiz um primeiro doutorado em Teoria da Comunicação, na USP – não completado por mera formalidade burocrática –, e agora outro, em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universidade Mackenzie. Sou mestre em musicologia pela UFRJ.

2 Como você entende o problema do financiamento de cultura? Acredita ser possível que o investimento privado dê conta de tudo?

A economia da cultura é algo muito estimulante, e embora tenha alguma experiência dos dois lados do balcão – como artista independente e como gestor –, não me considero um especialista.

Em termos gerais, de qualquer modo, a produção cultural deve sempre lidar com algumas tensões. Por exemplo, entre o apelo popular e as formas sem viabilidade comercial; deve, é claro, equilibrar a subversão e a conservação das linguagens e valores estéticos de dada sociedade. São aspectos sofisticados que convivem em toda cultura que se pretende viva e pulsante.

Mesmo sabendo tratar-se de um sistema hipercomplexo, o mais saudável é que nenhum desses aspectos, e alguns outros, vejam-se alijados como termos da equação do financiamento. E, evidentemente, é esse equilíbrio sutil e ideal que deveria estar nas premissas e expectativas dos agentes financiadores, e da atual regulação desejável por parte dos entes públicos.

Até que ponto o investimento privado pode dar conta de tal complexidade – eu não sei. O que é óbvio é que em nenhum lugar do mundo o mero voluntarismo privado pode dar conta de tais exuberâncias. E acho que é bom que seja assim.

3 Qual é o modelo da Fundação OSESP?

O modelo de financiamento da Fundação Osesp, que é também gestora da Sala São Paulo, é o da Parceria Público Privada (PPP). O modelo prevê um contrato entre o poder público e um ente privado, no caso a Fundação Osesp, com metas e prazos a serem cumpridos mediante um certo valor cedido pelo governo. Cria-se agilidade na execução do serviço, que talvez fosse inviável sob a administração direta. Quem precisa usufruir dos serviços públicos em geral há de saber quão precária pode ser a capacidade de operação do Estado.

Quando à época de sua instalação, a PPP da Osesp foi uma extraordinária inovação em gestão cultural do país. Ante os resultados em instituições geridas pelos mesmos moldes, como a Pinacoteca do Estado, o Theatro São Pedro, a São Paulo Companhia de Dança e o Museu do Futebol, após tantos anos, é possível defender que se tratar de um modelo absolutamente vitorioso.

Há vasta literatura que discute as vantagens e desvantagens a respeito das PPP da cultura. O que não é contestável são os resultados obtidos em São Paulo. Em poucos casos da história recente do país pudemos ver a relação virtuosa de qualidade com tamanha quantidade de produtos culturais entregues por essas instituições.

E sabe o que impressiona? Que aquilo que o estado de São Paulo conseguiu fazer nestes últimos anos não tenha inspirado iniciativas semelhantes em outros estados ou na capital federal. Entre as orquestras de alto nível, com planejamento e programação internacional, hoje temos no país, além da Osesp, apenas a Filarmônica de Minas Gerais. Num país de 200 milhões de habitantes, não é razoável. Vivemos essa ligeira esquizofrenia de vermos um caso de sucesso, um modelo de sucesso, transformado à força em exceção. Mas o país é assim em tantas coisas...

(continua amanhã)

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