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A literatura brasileira tem certa fama – má fama – entre alguns críticos e muitos leitores: a de ser menor, se comparada à portuguesa; a de ser provinciana, se compara à estrangeira; a de ser mesquinha, se comparada à universal. Eu mesmo, nuns tempos em que precisava afirmar rebeldia estética, cheguei a defender essa platitude.

Hoje defendo que se nossa literatura – ficção e poesia; também teatro – não é suficientemente reconhecida entre as grandes, isso se deve mais às circunstanciais restrições idiomáticas, geopolíticas e econômicas, que à suposta falta de méritos.

Porque os temos, e muitos. Basta ler com olhos descolonizados e, principalmente, ler o que nem sempre está na primeira prateleira do cânone.

Sabemos do que e de quem trata o cânone: obras e autores reconhecidamente bons, grandes e influentes, cujos nomes se sabe de cor como a escalação de times de futebol: Machado, Guimarães, Graciliano, Clarice, Drummond, Cabral, Gullar e os outros todos que o leitor sabe quem são.

Mas a riqueza muitas vezes se encontra no que chamo de história não (muito bem) contada da literatura nacional. Os criadores que parecem ter ficado longe do reconhecimento merecido: Lucio Cardoso, Octavio de Faria, Adonias Filho, JJ Veiga, Murilo Rubião, João Antônio, Orides Fontela, Marques Rebelo, Autran Dourado, Luiz Vilela, Pedro Nava, Herberto Sales. E, naturalmente, Osman Lins.

Osman Lins foi ficcionista, roteirista e crítico cultural. Discreto e combativo, fazia da literatura uma ética e uma perspectiva. Para ele, a ficção não era mimese, representação, denúncia, mas conhecimento e fruição. Um conto, um romance, uma peça ou um poema são objetos autônomos, seres vivos e mais vivos do que gente. A poética, para Lins, é um desvelamento. É onde o ser habita.

Publicou Avalovara, romance originalíssimo, além de A Rainha dos Cárceres da Grécia, Nove, novena e Lisbela e o Prisioneiro. Esses e outros textos ficcionais merecem um ensaio à parte. Adianto: não há facilidades. Antecipo: há recompensas.

Recentemente, com organização de Fabio Andrade, a editora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) reeditou dois seus livros de polêmica, num único volume: Problemas Inculturais Brasileiros: Do Ideal e da Glória e Evangelho na Taba. A reedição vem em boa hora.

São mais de 400 páginas de crítica literária e de cinema, anedotas culturais e políticas, reflexões sobre o livro e quem faz o livro, ponderações sobre a sociologia da arte, além de exemplos e maus exemplos, provas e contraprovas, do provincianismo e da preguiça de que nossa cultura (geral e literária) padece. Temos peixes pra vender, mas os vendemos muito mal.

E hoje, mais do que nunca, os peixes fedem.

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