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Foto de Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Foto de Jonathan Campos/Gazeta do Povo| Foto:

Depois de declarar que recriaria o Ministério da Segurança Pública, desmembrando-o do Ministério da Justiça, o que, na prática, esvaziaria os poderes efetivos de Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro negou o que afirmara e garantiu que tudo fica como está. “A chance no momento é zero”, jurou, mas “momento” é unidade de tempo sujeita às variações do clima.

No fundo ele sabe (se não sabe, lhe contaram) que a viabilidade deste mandato – e do próximo, a partir de 2022 – depende da sustentação de duas colunas: os odores de santidade de Sérgio Moro e a perícia econômica de Paulo Guedes. Bolsonaro, símbolo improvisado do antipetismo, precisa de Moro e Guedes mais do que estes precisam dele.

É bastante engraçada, por isso mesmo, a relação que o presidente estabeleceu com a imprensa. Imprensa que ele detesta, despreza, agride, ironiza e, com muito esforço, finge ignorar. Porque, afinal de contas, é a imprensa que lhe tem servido de estetoscópio político, com o qual ouve os reclames da opinião pública e os muxoxos dos simpatizantes. Ele, sem ela, não saberia o que comer no desjejum.

Decisões importantes têm sido tomadas assim: um nome é especulado, uma demissão é sugerida, um contingenciamento é anunciado, uma notícia é dada e, a depender das reações que se originam na mídia e rebatem nos correligionários, o nome especulado se confirma, a demissão se arrasta, o contingenciamento é suspenso, a notícia é fofoca.

O fato é que o projeto desse governo é tocar um governo sem projeto. Assim ninguém sabe o que virá. Governa-se empiricamente, por tentativa e erro, de acordo com o princípio do maior bem para o menor número, em meio a tramas comuns à velha política, agrados corporativos, equilíbrio institucional precário e tambores ideológicos. Bolsonaro decide reativamente, como quem blefa, a passos de Curupira, premeditando o breque.

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