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Desenhando o futuro.
Desenhando o futuro.| Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

No meio da pandemia da Covid-19, Perfeito Fortuna, criador do mítico Circo Voador no Rio de Janeiro, desabafou: ‘Como vou viver, se tudo que fiz na vida foi para juntar gente?’.

Pois, senti uma grande inveja por não ter sido eu o portador desse desabafo... saiba, Fortuna, o quanto você é importante, não somente para a arte e cultura, mas principalmente para a ‘cidade’. Cidade aqui entendida como o grande ‘cenário do encontro’: gregária, humana, amigável para todas as rendas, raças e idades.

E saiba também que, embora confinado numa tediosa quarentena, tenho a visão otimista de que a pandemia será controlada e, aos poucos, a vida normal será retomada, o encontro será celebrado com mais veemência e as cidades continuarão firmes no seu papel catalisador de ideias, experiências interativas e oportunidades.

A pandemia certamente moldará novos modos de viver, e para melhor. Parte do trabalho será remoto; edifícios de escritórios terão ociosidade, e isto, forçosamente, os obrigará a uma reconversão parcial para moradia, acelerando a materialização do conceito ‘vida e trabalho juntos’ que sempre defendi. O home-office, então, já é o conceito em estado puro.

Para a grande maioria da população que não tem a opção de se isolar numa casa de campo e que depende do trabalho presencial, é necessário garantir a mobilização das forças da sociedade para a contínua melhoria do transporte coletivo, dos serviços sociais, da geração de empregos descentralizados e do apoio à economia criativa e empreendedorismo, com a oportuna retaguarda das tecnologias de informação.

Vejo que a cidade compacta, mista, relativamente densa e caminhável, será cada vez mais o paradigma do ‘bom urbanismo’. Otimiza todas as infraestruturas, poupa energia, diminui as emissões nocivas, viabiliza o pequeno comércio, aumenta a segurança e facilita o encontro das pessoas.

E é evidente que mesmo com toda a parafernália virtual, gente continua sendo gente, ou seja, vive e se alimenta também de outra dimensão do ‘intangível’ – sonhos, arte, memória, cultura, identidade, solidariedade – que o presencial só faz multiplicar e fortalecer.

A nossa cidade de Curitiba é expressão viva dessa visão otimista. Ao longo da minha trajetória como prefeito, com a colaboração de uma grande equipe e de muitos sucessores, construímos os pilares de uma cidade solidária e sustentável. Claro, falta muita coisa, mas aqui é visível e evidente a primazia dos espaços públicos, dos pedestres, da mobilidade coletiva, dos parques, da identidade cultural e do ambiente para a criatividade e inovação.

Tenho o grande privilégio de abrir esta coluna, na certeza que, como uma verdadeira ‘acupuntura urbana’, possa renovar energias, inspirar novas visões e despertar produtivas iniciativas para as cidades.

Convido todos vocês para, mensalmente, partilhar reflexões e muitas ideias para o nosso grande habitat urbano com o mote, desde sempre, ‘cidade, cenário do encontro’.

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