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Ilustração: Felipe Lima
Ilustração: Felipe Lima | Foto:

A cidade ideal dum cachorro
tem um poste por metro quadrado.
Não tem carro, não corro, não morro
e também nunca fico apertado.
A cidade ideal da galinha
tem as ruas cheias de minhoca.
A barriga fica tão quentinha
que transforma o milho em pipoca
(…)
A cidade ideal de uma gata
é um prato de tripa fresquinha
Tem sardinha num bonde de lata,
tem alcatra no final da linha
(A Cidade Ideal, Os Saltimbancos)

Há muitas boas cabeças que se dedicam a reflexões sobre a cidade. A elas, começo pedindo desculpas para dizer que um dos pensamentos que acho mais relevante sobre o espaço urbano é o expresso pelo cachorro, a galinha, a gata e o jumento, que cantam A cidade ideal, no Saltimbancos de Chico Buarque. A disputa de narrativas, de ideais de cidade, me parece a melhor chave para entender os movimentos políticos municipais.

Ainda que as eleições para a escolha do novo prefeito de Curitiba estejam a distantes 18 meses, os grupos políticos já se articulam e colocam suas ideias e estratégias na mesa para a disputa do Palácio 29 de Março.

Um levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas e publicado em primeira mão pela Gazeta do Povo no último dia 21 mostra que quatro políticos saem na frente na corrida eleitoral: o atual prefeito Rafael Greca (PMN), o deputado federal e ex-prefeito de Curitiba Gustavo Fruet (PDT); o secretário estadual de Justiça, Trabalho e Família, Ney Leprevost (PSD); e o deputado estadual Fernando Franscischini (PSL).

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Pelo que defendem em seus mandatos no parlamento, por suas ações no Executivo, pelas alianças que fazem e pelos grupos que representam com maior força, cada um dos quatro já deu pistas de qual é sua cidade ideal.

Comecemos por Greca, por deferência ao cargo. A estratégia do atual prefeito vai ser a tradicional dos candidatos incumbentes: vender na campanha as realizações do mandato. A vantagem de Greca nesse ponto é que suas ações parecem estar agradando. Enquanto em 2017, ano em que assumiu a prefeitura, sua gestão era aprovada por apenas 27,9% dos curitibanos, na pesquisa feita neste mês de março, esse número subiu para 57,6%.

É amparado nessa aprovação que Greca difunde confiante sua cidade ideal: limpa, ordenada e bem cuidada. E para manter isso, o prefeito se apresenta como um zelador devotado e gestor hábil para fugir das amarras da burocracia. Sempre em antagonismo ao que chama de imobilismo da gestão anterior.

Como na política todo mundo precisa de um inimigo, Fruet agora se apresenta como um anti-Greca. Defendendo a tese de que as realizações do atual prefeito são fruto da redução do gasto social e do alinhamento do poder público com as elites econômicas, o deputado anda gastando a tecla em suas redes sociais fazendo comparações entre os dois governos, especialmente em duas arenas onde parece se sentir mais confortável: educação e assistência social.

Atacando áreas que acredita estarem descobertas pela gestão Greca é que Fruet apresenta sua cidade ideal: uma Curitiba acolhedora, com justiça social e respeito aos servidores públicos.

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Fernando Francischini nunca disputou a prefeitura de Curitiba. Já ensaiou, já disse sonhar com isso, mas nunca botou o time em campo. Ter optado pela Assembleia Legislativa em vez da Câmara dos Deputados parece um sinal claro de que ele deve disputar o cargo em 2020. Morando em Curitiba ele se aproxima dos eleitores, das lideranças e das questões locais. Com um discurso limitado na maior parte das vezes à segurança pública, ao antipetismo e ao moralismo forjado na escola bolsonarista, sua relação com questões municipais não é tão óbvia, mas certamente a cidade ideal de Francischini passa por uma Guarda Municipal empoderada e por uma educação infantil que resguarde os valores da família.

O último dos quatro candidatos que hoje estão no pelotão de elite é Ney Leprevost, que abriu mão do mandato de deputado federal para assumir uma secretaria no governo estadual. Assim ele fica próximo dos curitibanos e também do governo Ratinho Junior (PSD), que ao que tudo indica será um dos pilares de sua campanha. Leprevost é daqueles políticos de forma clássica na tradição paranaense: generalista e varejista. No parlamento e em secretarias municipais ou estaduais isso tem lhe rendido projetos que leva à tiracolo, como a linha Inter-hospitais e o Piá Bom de Bola. Para migrar dessas ações pontuais para a prefeitura de Curitiba, uma boa maneira é pegar carona na retórica pouco objetiva do governo de Ratinho Junior. Sendo assim, é razoável supor que a cidade ideal de Leprevost é inovadora, inteligente e 4.0.

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