Desde que The Intercept Brasil começou a publicar reportagens com base em mensagens privadas trocadas entre procuradores da Lava Jato e também com o então juiz do caso, Sergio Moro, o modo de atuação da força-tarefa tem sido alvo de escrutínio público. No Congresso Nacional, onde os assuntos da República costumam ser esmiuçados e comentados à exaustão, cada nova notícia gera uma onda de análises, críticas e discursos inflamados.
De modo geral, os parlamentares estão divididos entre quatro entendimentos distintos sobre o tema: os críticos antigos da Lava Jato, que agora têm mais munição para seus discursos; os deputados que defendem a força-tarefa no mérito da discussão e sustentam que as conversas entre procuradores e juízes são comuns no processo penal; um grupo de independentes, que sem julgamento prévio defende a necessidade de apuração dos fatos; e, por fim, aqueles para quem as mensagens são ilegais na forma, portanto não devem nem ter seu conteúdo levado em conta.
A maior parte da bancada paranaense no Congresso Nacional está nesse último grupo, que sequer leva em conta o teor das mensagens.
A postura negacionista é mais evidente no Senado que na Câmara, onde há vozes dissonantes. Desde que as reportagens começaram a ser publicadas, Alvaro Dias (Podemos), Flavio Arns (Rede) e Oriovisto Guimarães (Podemos) foram mais criteriosos nos questionamentos a respeito da ação dos jornalistas que dos agentes públicos da Lava Jato. Os senadores miram nos mensageiros, não na mensagem.
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Na bancada do Paraná, o porta-bandeira da defesa da Lava Jato é Alvaro Dias, que sempre demonstrou proximidade com o agora ministro Sergio Moro e com o procurador Deltan Dallagnol. Além da defesa irrestrita do ex-juiz e dos procuradores da força-tarefa, Alvaro tem apostado em críticas à produção jornalística feita com base nas mensagens vazadas.
A artilharia do senador está voltada para Glenn Greenwald, co-fundador do Intercept. Alvaro cobra investigações sobre a atuação do jornalista norte americano e diz que a Vaza Jato, como foi batizada a série de reportagens, é fruto do trabalho de uma organização criminosa. Ao reduzir à figura de Greenwald e toda a produção de um pool de veículos de comunicação que hoje envolve, além do Intercept, a revista Veja, a Folha de S. Paulo, El País, UOL e BandNews, Alvaro opta por um caminho narrativo que simplifica demasiadamente a realidade e, por isso, não dá conta de explicá-la. Colocando Greenwald como única figura por trás das reportagens e associando-o ao petismo, ele tenta fazer da Vaza Jato mais um capítulo da polarização política.
Oriovisto e Arns acompanham Alvaro nesses posicionamentos. Para o senador da Rede, “as mensagens divulgadas pelo site são produto de um ataque criminoso que deve ser rigorosamente investigado e punido”. “Qualquer possível relação entre este crime e a conduta do jornalista deve sim ser objeto de investigação”, sustenta Arns.
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A entrada de novos veículos de comunicação na cobertura e a consequente comprovação da veracidade do material por novos atores enfraquece a tese dos senadores paranaenses e os coloca numa posição exageradamente inocente. Os parlamentares deveriam se permitir, ao menos, o benefício de terem dúvidas e, como convém ao cargo, dirimi-las por meio das ferramentas adequadas.
Naturalmente, os senadores têm prerrogativas e convicções que permitem a eles fazer juízo próprio do que tem sido revelado pela série de reportagens. Entretanto, ao ignorarem o conteúdo das mensagens e limitar o debate à forma, os parlamentares fecham os olhos para informações de gritante interesse público e parecem abrir mão do pleno exercício parlamentar.
Na Câmara, onde são 30 os representantes do Paraná, os posicionamentos são mais diversos. Há desde os petistas pedindo o afastamento de Moro e Dallagnol dos respectivos cargos, ao deputado Filipe Barros (PSL), que requereu formalmente à Procuradoria Geral da República a prisão de Grennwald. Entre as duas pontas, há deputados que defendem sem tantas paixões a apuração cautelosa dos fatos.
A realidade, entretanto, não pede licença à bancada do Paraná. As reportagens abriram um abismo entre a força-tarefa da Lava Jato e os ministros do Supremo Tribunal Federal. A nova clivagem da política nacional tem rearranjado as forças políticas e impelido posicionamentos inesperados, como por exemplo o do jurista conservador Ives Gandra Martins. Mesmo tendo criticado o vazamento de mensagens privadas e defendido a importância da Lava Jato no combate à corrupção, ele afirmou, segundo a Folha de S. Paulo, que “Dallagnol abusou de poder que não tem”.
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