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Uma eleição raiz em Curitiba: mais uma vez, as mesmas ideias se enfrentam
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Mudam os nomes, as nuances do discurso e os objetos de disputa, mas tradicionalmente o pano de fundo das eleições para a prefeitura de Curitiba é o mesmo: dois grupos principais separados pelo modo distinto como pretendem administrar a cidade. De um lado o modelo democrático-participativo, de outro o tecnocrático-gerencial, na definição do professor Klaus Frey (que não é parente).

Recorrendo a essa formulação fica mais fácil perceber que Lerner, Requião, Vanhoni, Taniguchi, Richa, Fruet (pai e filho) e Greca são escalações momentâneas de times que nunca saem de campo.

No modelo tecnocrático-gerencial, que tem mais vitórias eleitorais em Curitiba, temos, recorrendo mais uma vez a Klaus Frey, uma gestão mais centralizadora e menos permeável à participação popular. Os órgãos de planejamento ficam isolados e “protegidos” das demandas da sociedade. Nas últimas décadas, os principais nomes desse campo foram Jaime Lerner, Cassio Taniguchi, Beto Richa e Rafael Greca.

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Foi esse modelo, por exemplo, que legitimou o fechamento da Rua XV de Novembro para o trânsito de veículos. Processo que levou apenas uma semana entre o anúncio da intervenção e a entrega da obra.

No campo democrático-participativo, as premissas de gestão são outras: “participação popular via conselhos gestores, orçamento participativo, fóruns de cidade e outros arranjos participativos visando promover a inclusão dos setores politicamente marginalizados em processos de decisão e deliberação política”, segundo o professor Frey. Em Curitiba, os principais nomes dessa tradição são Maurício Fruet, Roberto Requião, Gustavo Fruet e Ângelo Vanhoni, que embora nunca tenha sido eleito, sustentou a defesa desse modelo em duas eleições.

Desse pensamento derivaram, por exemplo, a voz ativa dos conselhos municipais e as diversas oportunidades de participação popular no Plano Diretor revisto durante a gestão de Gustavo Fruet.

O que vem em 2020

A menos de um ano para as eleições municipais de 2020, os discursos já estão na rua e está cada vez mais claro que a tradicional clivagem da política municipal vai organizar, mais uma vez, as forças locais.

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Rafael Greca disputará reeleição como herdeiro da tradição tecnocrática-gerencial. Repetindo o que fez em 2016, deve criticar os limites do modelo de gestão inclusivo e participativo. Para Greca e seu grupo, essa é a raiz do que levou ao que chama de imobilismo da gestão de seu antecessor, Gustavo Fruet. O excesso de audiências e a expansão dos processos decisórios tendem a retardar a ação do poder público e diminuir o poder concentrado nas mãos do prefeito. Esse método não combina com o perfil de Greca, que tem agido de modo centralizador e impetuoso.

Um exemplo é a questão do retorno do ligeirão na Praça do Japão. Entre 2011 e 2014, a prefeitura de Curitiba gastou cerca de R$ 16 milhões para desalinhar as estações tubo do eixo Norte-Sul com o objetivo de implantar um ligeirão na linha Santa Cândida-Capão Raso. Depois de concluídas as obras, foram mais de quatro anos até que o primeiro ligeirão circulasse. A demora se deu porque o ônibus não tinha onde fazer o retorno, já que os moradores do entorno da Praça do Japão não queriam perder um naco da praça para que os biarticulados fizessem a curva. Fruet levou a questão em banho-maria e deixou a prefeitura sem uma solução. Greca ignorou a mobilização dos moradores, foi à praça, explicou os motivos da prefeitura e colocou os ligeirões para rodar. Um triunfo do modelo gerencial sobre o democrático-participativo que certamente será explorado pela campanha do atual prefeito.

Das qualidades desse modelo é que nascem também seus defeitos. A principal crítica é em relação à falta de legitimidade das decisões tomadas sem participação popular. Há um exemplo claro em andamento. A prefeitura fez um evento no começo de novembro para apresentar seu plano de estrutura cicloviária, que pretende duplicar a malha de vias destinadas ao trânsito de bicicletas. Os grupos e associações de ciclistas da cidade, entretanto, que seriam os principais beneficiários da medida, estão insatisfeitos porque não participaram do processo de construção do plano e, por isso, apontam falhas em sua versão final.

É esse poder que resvala no despotismo que os herdeiros da tradição democrático-participativa vão atacar. Os olhos da burocracia, afinal, não alcançam todos os problemas de uma cidade complexa como Curitiba. Ainda não está claro quem vai ocupar esse posto em 2020, mas os principais candidatos são Gustavo Fruet e Goura, ambos do PDT, e João Arruda (MDB).

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