Tanto tem se acreditado na possibilidade de um outsider disputar com boas chances a presidência do Brasil em outubro que fica fácil imaginar um conselho de caciques partidários reunidos com recrutadores de RH buscando o nome certo em pilhas de currículos de CEOs, animadores de auditório ou, quem sabe, aquelas boas almas que devolvem o maço de dinheiro encontrado no chão.
A vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos, é a prova de que o mau momento dos políticos tradicionais não é fenômeno isolado no Brasil. Nos últimos anos, o que tem sido mais complicado é encontrar um lugar no mundo onde os candidatos mais institucionalizados têm nadado de braçada. Essa dificuldade é superada ao olharmos para o nosso próprio umbigo.
Não há um outsider ameaçando a ordem natural das eleições para o governo do Paraná. Mais do que isso, não há nem a expectativa e nem o desejo latente de que um nome não tradicional embaralhe o cenário eleitoral no estado.
Tenho uma hipótese para o que faz do Paraná essa variedade única de jabuticaba. Esse movimento de negação da política tradicional guarda estreita relação com o declínio dos partidos políticos. Sobram dados que provam esse descolamento entre partidos e a sociedade. Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Ipsos em agosto do ano passado, por exemplo, aponta que apenas 6% dos eleitores se sentem representados pelos políticos em quem já votaram.
Sobre este terreno de descrença nas instituições partidárias é que costumam vicejar candidatos sem trajetória na política tradicional.
Até aqui os argumentos estão em cima de um terreno seguro, sobre o qual há certo consenso inclusive na literatura acadêmica. Daqui para frente é que vem a hipótese que proponho.
Resumidamente: candidatos anti-partido têm poucas chances de prosperar no Paraná porque a renovação, as alianças e a formação política no estado não são feitas nas agremiações partidárias, mas nas famílias. Há, portanto, uma instituição acima dos partidos que garante a continuidade da mesma elite política no poder, com segurança suficiente para repelir pretensos outsiders.
Uma olhada para as pré-candidaturas que estão postas revela que nenhum dos principais candidatos ao cargo de governador é o único membro de sua família a participar da vida pública no estado. Essa característica da política paranaense é tão marcante que há mais de 20 anos um grupo de estudos na Universidade Federal do Paraná tem se dedicado ao estudo dessas famílias.
O pré-candidato que tem raízes mais antigas na política local de acordo com as pesquisas do Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP), é Roberto Requião. Um artigo feito pelo pesquisador Fernando Marcelino Pereira mostra que a história pública da família começa com o bisavô do senador, Justiniano de Mello e Silva, que foi deputado no Paraná provincial, entre 1854 e 1889. O filho de Justiniano, Wallace de Mello e Silva – avô do atual senador – foi deputado estadual em 1914 e seu filho, Wallace Thadeu de Mello e Silva, foi indicado pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto para a prefeitura de Curitiba em 1951.
A candidata Cida Borghetti (PP), ao casar-se com o deputado federal Ricardo Barros (PP), também passou a integrar uma dinastia da política paranaense que, considerando a filha do casal, a deputada estadual Maria Victória (PP), já está na terceira geração. A história começou com Silvio Magalhães Barros, pai de Ricardo, que em 1960 começou a carreira como vereador de Maringá. Depois da vereança, Silvio Barros passou pela Câmara Federal e foi prefeito de Maringá na década de 1970.
A história de Osmar Dias na política paranaense não remonta a gerações anteriores, mas nem por isso ele está fora da teia de relações familiares. Osmar e Álvaro Dias conviveram por três legislaturas no Senado Federal. Apesar do parentesco, os irmãos seguem carreiras políticas relativamente independentes.
Outro candidato com o nome posto, Ratinho Junior também tem laços familiares com a política. Seu pai, o apresentador Ratinho, começou a carreira como vereador em Jandaia do Sul. Em 1989, Ratinho assumiu uma cadeira na Câmara de Curitiba e no começo dos anos 1990 foi eleito para a Câmara Federal, onde ficou até 1995.
Com partidos menos poderosos que famílias, a renovação política do estado continuará sendo definida muito mais em almoços de domingo que em convenções e processos democráticos internos.
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