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2019 começa com um raríssimo alinhamento político entre a prefeitura de Curitiba, o governo do Paraná e a presidência da República. Posto de modo menos institucional, que é como as coisas parecem ser definidas, Rafael Greca (PMN) se dá com Ratinho Junior (PSD), que se dá com Jair Bolsonaro (PSL). O caminho livre de Brasília ao Centro Cívico pode poupar curitibanos e paranaenses de uma boa dose de problemas, ou pelo menos obrigar os gestores a renovarem o estoque de desculpas.

A obra-prima da ação engendrada por picuinhas políticas em detrimento do bem comum foi o modo como o ex-governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), lidou com a questão do subsídio ao transporte coletivo de Curitiba. O auxílio financeiro do governo estadual à prefeitura foi criado quando Richa era governador e Curitiba estava sob o comando de seu aliado, Luciano Ducci (PSB). Em 2013, Gustavo Fruet (PDT), desafeto de Richa, assumiu a capital ao derrotar Ducci. Na gestão do opositor, Richa não renovou o auxílio dado ao aliado. Com isso, a Rede Integrada de Transporte foi desintegrada e o sistema ficou sucateado. Em 2016, quando Fruet foi derrotado por Rafael Greca, Richa noticiou a retomada do subsídio. O anúncio foi feito um dia depois das eleições.

Com prova real dos interesses pouco republicanos da manobra, o ex-governador deixou claro que ter um adversário no Palácio Iguaçu era péssimo para o prefeito de Curitiba e, consequentemente, para a cidade.

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Em outros momentos, o próprio Richa queixou-se de tersido alvo de atos similares, impelidos pelos mesmos motivos. Quando ele era prefeito de Curitiba, o governador do Paraná era Roberto Requião (MDB). Em 2007, por exemplo, o então governador bloqueou o repasse de recursos para investimentos na capital, alegando que a prefeitura estaria inadimplente.

Não é apenas na relação entre governo estadual e prefeitura de Curitiba que as tintas partidárias e ideológicas interferem. Desavenças políticas também obstruíram o caminho dos recursos federais ao Paraná. E, mais uma vez, quem se queixou foi Beto Richa.

Os dois mandatos do tucano no comando do estado foram quase integralmente concomitantes com o petismo na Presidência da República – com exceção do período pós-impeachment de Dilma Rousseff (PT). Durante todo esse período, Richa sustentava que o Paraná recebia menos recursos que outros estados porque ele não estava alinhado ao Partido dos Trabalhadores.

As dissonâncias também foram vistas no Senado Federal. Os principais atritos se deram na análise de empréstimos ao governo do estado que foram submetidos à aprovação da Comissão de Assuntos Econômicos da Casa. Com assento no colegiado, o senador Requião dificultou algumas votações e chegou a votar contra um empréstimo de R$ 60 milhões destinado à assistência social no estado.

“Sou senador do Paraná, tenho que cuidar do meu estado. Sei que é antipático dizer que voto contra e sei que a visão concessiva e conciliadora do Senado vai aprovar este empréstimo, mas quero registrar aqui, com o meu voto, a minha oposição a um governo perdulário, ao governo pródigo, que colocará o Paraná em dificuldades”, afirmou Requião na Comissão ao justificar seu voto, segundo registro de reportagem de André Gonçalves, nesta Gazeta.

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No Senado, a substituição de Requião e Gleisi Hoffmann (PT) por Flavio Arns (Rede) e Oriovisto Guimarães (Podemos) deixa ainda mais evidente esse alinhamento das lideranças políticas. Os dois mantêm boas relações com Ratinho Junior e Rafael Greca e também parecem dispostos a se alinharem ao governo de Jair Bolsonaro.

Na maior parte dos casos, o alinhamento foi consequência das escolhas do eleitorado, mas no caso de Greca, a boa relação com o governo é fruto de sua visão política pragmática. O prefeito da capital entrou de cabeça na campanha de Cida Borghetti (PP). Quando Ratinho venceu as eleições, entretanto, ele não teve melindres em se aliar ao novo comandante do Palácio Iguaçu. Embora tenha recebido algumas críticas por sua posição política ondulante, Greca – e consequentemente a cidade – devem sentir os benefícios dessa parceria.

Naturalmente, essa afinidade política não gera nenhum avanço automático para o desenvolvimento regional. As vantagens decorrentes desse alinhamento só serão sentidas se as gestões forem capazes de avaliar, planejar e propor políticas públicas eficientes. É possível ser inoperante e fazer um governo ruim mesmo com a ajuda de amigos.

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