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A guerra na Ucrânia pode se prolongar por meses e talvez anos. Os Estados Unidos já enviaram mais de US$ 3 bilhões em ajuda militar para os ucranianos desde o início da guerra e se preparam para mandar mais US$ 20 bilhões ao longo dos próximos cinco meses.

Mesmo assim, os ucranianos ainda sofrem com a falta de material essencial. Não estamos falando apenas de equipamentos de visão noturna, de guerra eletrônica ou de sistemas de artilharia, mas de algo muito mais simples: coletes à prova de balas.

Quando cheguei à Ucrânia, logo no início da guerra, notei a apreensão de muitos combatentes da legião internacional com a falta de coletes. Ao pedir o equipamento às autoridades militares, eles eram aconselhados a ficar calmos, pois receberiam o equipamento ao chegar à frente de batalha.

Policiais e membros das Forças de Defesa Territorial (uma espécie de milícia formada por voluntários e conscritos ucranianos) também raramente tinham acesso a coletes. Tanto ucranianos como voluntários internacionais correram para as lojas especializadas, e o item desapareceu dos estoques privados tanto na Ucrânia, como na maioria dos países da Europa.

Em Londres, a fila de espera para comprar o item era de um mês. Na Polônia, os vendedores me disseram no início de abril que os estoques de coletes balísticos e capacetes se esgotaram nos primeiros dias de guerra. A única opção disponível eram velhos capacetes de aço da Segunda Guerra Mundial guardados para coleção.

Os ucranianos então partiram para a única solução que encontraram: fabricar os próprios coletes à prova de balas. Serralherias e confecções foram convertidas em fábricas e a produção começou. Apenas uma fábrica que visitei em Zaporizhzhia era capaz de produzir 150 peças por dia.

Hoje, segundo fontes ucranianas, praticamente todos os combatentes, tanto na linha de frente como em posições de defesa secundárias, têm acesso ao item de proteção.

Mas os coletes à prova de balas artesanais têm algumas desvantagens. A principal delas é o peso. Os coletes industrializados são feitos com placas de cerâmica e kevlar. Os artesanais são grossas placas de aço revestidas com borracha e colocadas em uma capa de plástico e nylon. Eles acabam pesando duas ou três vezes mais que os industrializados.

A outra desvantagem é que os testes de qualidade são bastante simples: ao receber um lote de aço, os ucranianos cortam uma peça na serralheria e disparam nele com as armas que possuem. Nada muito científico. Prevalece o empirismo da guerra: se o projétil vara a chapa, o lote de aço é devolvido.

Um colete artesanal vale em torno de R$ 900. Os industrializados podem chegar a R$ 3,7 mil. Mas os ucranianos estão fabricando para doar aos combatentes na frente de batalha. O colete artesanal protege contra tiros de fuzil, de calibres 7,62 e 5,56. Porém, não é muito efetivo contra estilhaços de granadas e bombas. Ele protege de tiros apenas parte do peito, do abdômen e das costas de cada soldado.

Ao menos, apesar do peso, o colete à prova de balas artesanal está dando mais coragem aos combatentes. E disso eles vão precisar muito.

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