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Pablo Iglesias
Pablo Iglesias em um programa do HispanTV, um canal de notícias em espanhol do governo do Irã| Foto: Reprodução/Youtube

As coisas mais perigosas são aquelas que se dão sem que ninguém as leve a sério. Hugo Chávez foi uma delas. Por anos, ele foi considerado um palhaço fanfarrão e o mundo não prestou atenção na poderosa arma de destruição em massa que ele construiu e usou contra o seu próprio povo: o socialismo do século XXI. A Venezuela se transformou em um cenário de terra arrasada e cresce entre muitos especialistas a suspeita de que a crise já ultrapassou o seu tipping point, em um mergulho sem volta na tragédia.

Algo muito sinistro está se passando na Espanha e muito perigosamente vem sendo ignorado em seu significado, profundidade e escala. Em março de 2014, um grupo de orientação socialista, oriundo de uma consultoria especializada em assessorar governos bolivarianos apresentou registro como partido político: o Podemos. Naquele mesmo ano, a legenda estreou nas eleições legislativas sem empolgar. Mas já em 2015 conquistou 21% dos votos válidos e decolou como a terceira força política do país.

Prestes a completar seis anos – apenas seis anos – o Podemos fincou bandeira no gabinete do primeiro-ministro Pedro Sánchez. Pablo Iglesias, fundador do partido, foi nomeado vice-presidente de governo além de ministro de Direitos Sociais. Nesta semana, Iglesias ganhou mais poderes. Pedro Sánchez mudou a legislação espanhola para plantar o líder do Podemos na comissão que comanda os órgãos de inteligencia de Estado.

Qual é o problema?

Pablo Iglesias começou sua carreira internacional assessorando nada mais nada menos que o falecido Hugo Chávez, como membro do Centro de Estudos Políticos e Sociais (CEPS), a tal consultoria que deu origem ao Podemos. Um ex-ministro do regime chavista relatou que de 2002 a 2012, Chávez determinou que fossem realizadas para o CEPS centenas de transferências que totalizaram 3,7 milhões de euros. Conforme o delator, os contratos eram uma fachada para criação de um partido de esquerda com viabilidade para disputar e vencer eleições na Espanha. Algo como “a conquista dos conquistadores”.

As provas já foram apresentadas. A origem ilegal do Podemos já foi provada, mas o partido transformou-se em algo difícil de se livrar. Chávez morreu em março de 2013, mas nos segue assombrando não só na Venezuela. Iglesias e o Podemos são a materialização dos planos chavistas de desestabilização. Os espanhóis estão nutrindo a besta que pode devorá-los.

Em 2016, o jornal espanhol ABC publicou documentos inéditos que mostraram que o duto de narco-dólares do chavismo foi ainda mais caudaloso para irrigar os cofres do Podemos. Um documento desviado do Palácio de Miraflores dizia “conforme o acordado no referido conselho de ministros, o conseguinte apoio econômico que esta contratação significará para a Fundação CEPS permitirá estreitar os laços e compromissos com reconhecidos representantes das escolas de pensamento de esquerda, fundamentalmente anticapitalistas, que na Espanha podem criar consensos de forças políticas e movimentos sociais, propiciando nesse país mudanças políticas ainda mais afins ao governo bolivariano”. Esse novo ato elevou o repasse aos espanhóis para mais de 7 milhões de euros.

Enfim, como o CEPS caiu nas graças de Hugo Chávez, dando origem ao Podemos? A Venezuela chegou a ter um dos terroristas mais famosos do planeta. O nome dele é Ilich Ramírez Sánchez, o Carlos Chacal, que cumpre três penas de prisão perpétua na França. Entre os vários fãs que conquistou, está o cientista político Jorge Verstrynge. Depois de um longo período de troca de correspondências, Verstrynge se transformou em um proficiente defensor do terrorismo como instrumento político. Membro do CEPS, ele passou a trabalhar junto ao governo chavista e plantou na cabeça do ditador a convicção de que o terror é uma poderosa “arma revolucionária”. Em 2005, Verstrynge lançou um livro defendendo o terrorismo islâmico como modelo de guerra revolucionária contra as potências ocidentais, principalmente os Estados Unidos.

Imediatamente, o livro caiu no gosto de Chávez que mandou fazer milhares de edições de bolso que foram entregues a cada um dos 30.000 membros das Forças Armadas da Venezuela. Pelas mãos de Chávez, os conceitos e experiencias do islã radical aplicados a guerras assimétricas que foram sistematizados pelo fundador do Podemos passaram a fazer parte da doutrina militar venezuelana.

Para conquistar o maior número de eleitores na Espanha, o Podemos se esquiva de sua origem chavista. Verstrynge foi para debaixo do tapete e as constantes denúncias de financiamento ilegal são tratadas como calúnias e fruto de teorias conspiratórias. Apesar de distante dos holofotes partidários, sempre focados na estrela Pablo Iglesias, Verstrynge é reconhecido como uma das mais influentes figuras da legenda e seu pai ideológico.

Nesta mesma semana, em que Pablo Iglesias ganhou o acesso irrestrito e controle da inteligência de estado, a filha de Verstrynge, Lilith, de 27 anos, ganhou um emprego no governo espanhol. Ela despachará ao lado de Iglesias, como uma de suas assessoras.

O mundo assistiu impassível a destruição da Venezuela. Qual será o futuro da Espanha? É complexo projetar. Fato inegável, entretanto, é que o presente é chavista. O resultado do trabalho dessa gente, o mundo já conhece. O sombrio é que, mais uma vez, o mundo assiste impassível.

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