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O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e da China, Xi Jinping, se encontram em Pequim
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e da China, Xi Jinping, se encontram em Pequim| Foto: Reprodução

No início de março, uma notícia maravilhosa incandesceu o coração revolucionário de alguns. A epidemia de coronavírus, que já paralisava o mundo e colocava em risco a vida de milhões de pessoas, estava com os dias contados. Cuba havia descoberto uma vacina. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), que por sinal é médica, vibrou: “Viva o povo cubano!”. O ex-senador Cristovam Buarque (Cidadania) vislumbrou os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro se curvando diante dos socialistas cubanos. E o destacado administrador de imóveis Guilherme Boulos (Psol) não perdeu a oportunidade: “De tanto gritarem ‘vai pra Cuba’ acabarão indo todos...”.

A descoberta não passava de uma ficção gestada dentro da máquina de propaganda cubana. Aliás, mais uma mentira entre as várias que fazem de Cuba uma ilha da fantasia.

Quem, por exemplo, nunca ouviu que Cuba tem os melhores indicadores de saúde do continente? Segundo as estatísticas oficiais cubanas, as taxas de mortalidade infantil da ilha são mais baixas que as dos Estados Unidos e do Canadá. Um milagre que se explicaria pelo espírito revolucionário de seus médicos diante da escassez de insumos provocado pelo bloqueio econômico que a ilha sofre (sobre o qual tratarei mais adiante).

Um estudo publicado em 2018 desvendou a engenharia dos maravilhosos números cubanos. O sistema de registro de óbito em Cuba recorre a uma artimanha grotesca. Mortes neonatais, que são aquelas registradas na primeira semana de vida da criança, são cadastradas como sendo fetais. Ou seja, como tendo ocorrido antes ou durante o parto.

Ou seja: um número importante de óbitos ocorridos nos primeiros dias de vida dos cubaninhos simplesmente desaparece. Ou melhor aparecem em um tipo de estatística bem conveniente para ilha e que quase ninguém presta atenção. A taxa de mortes fetais está entre uma das mais altas do mundo, chegando a ser seis vezes maior que a neonatal.

Esse número é impactado por uma prática assombrosamente tolerada pelo mundo. Para prevenir um impacto negativo nos números de saúde, o regime impõe o mais amplo programa de abortos forçados do planeta. Em Cuba são realizados 72,8 abortos para cada 100 nascimentos. Entre os motivos que levam o Estado a decidir interromper uma gestação é a identificação no pré-natal de gestações de riscos ou fetos com poucas chances de sobrevivência. Mas além dessa explicação, Cuba usa a interrupção massiva de gestações como método anticonceptivo. Algo tão trivial que alguns médicos chegam a comparar com uma “vacina contra gripe”.

Matando os bebês ainda no ventre das mães, Cuba mantém a boa imagem de suas estatísticas de saúde.

No ano passado, o regime cubano anunciou ter 100.000 médicos ativos em seus quadros. O que daria a ilha a maior proporção médico por 1.000 habitantes em todo planeta. Nada mais nada menos que nove. O triplo que disponível nos desenvolvidos Canadá, Reino Unido e França. O dobro do registrado na Finlândia, Alemanha e Austrália. Um espetáculo.

A conta, entretanto não leva em consideração que metade do contingente não está na ilha servindo aos cubanos. Esses médicos formam o principal produto de exportação de Cuba e prestam serviços em dezenas de países gerando receitas bilionárias para o regime, que em casos mais extremos chega a confiscar 90% dos salários.

No Brasil, a semiescravidão levava o nome de “Programa Mais Médicos para o Brasil” criado em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff em conluio com Organização Panamericana de Saúde (Opas), que pela intermediação do contrato embolsava 5% do salário dos mais de 15.000 médicos que passaram pelo Brasil.

A OPAS, por sinal é a entidade que dá o selo de qualidade para os números fajutos de Cuba. Braço da Organização Mundial de Saúde, a entidade não se difere da OMS. É uma colcha de retalhos composta por representantes indicados pelos estados membros. Imagine só que beleza.

Geralmente interpretados como entidades de onde se emana o que há de melhor, organismos como a Opas, a OMS, FAO e a própria Organização das Nações Unidas foram transformadas em cabides de emprego de luxo para diplomatas e amigos do poder.

A Bolívia de Evo Morales teve por anos uma amante de um dos ministros lotada em Nova York. Maduro despachou para ONU a filha mais velha de Hugo Chávez. Em 2017, o Brasil “vendeu” o voto em favor do polêmico Tedros Adhanom Ghebreyesus pelo direito de indicar alguém para uma das diretorias.

Nesta semana, o presidente Donald Trump anunciou a suspensão dos repasses americanos para OMS devido às falhas da entidade, mas em evidente retaliação ao alinhamento cada vez mais evidente de organização com os interesses chineses. Um erro.

Os Estados Unidos deveriam usar o poder financeiro que têm dentro dessas organizações. OMS, Opas e suas congêneres funcionam à base de dinheiro – para pressionar para um ajuste de proa dessas entidades. E não só os EUA. Trump deveria ser capaz de liderar uma reforma dos sistemas multilaterais que capengam em um mundo muito diferente daquele que emergiu do pós-guerra.

E se Trump insistir no remédio errado tenderá a ajudar a China na sua marcha para o Ocidente.

No início da semana, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, avançou sobre a sucursal da Opas no Brasil para tratar de “ações conjuntas” na região. Ele não avisou quais seriam, mas sua conta pessoal no Twitter exaltou a competência de Cuba em lidar com a epidemia.

Cuba é um estado parasita que não é capaz de seguir em frente sem um patrono. Foi assim durante três décadas em que foi sustentada pela então União Soviética. Quase veio a colapso nos anos 90 em uma década de solidão que ganhou o nome de “período especial”. Depois, passou a ser alimentada por Hugo Chávez que desviava os petrodólares do povo venezuelano para encher os bolsos do regime castrista. Chegou a enviar a título de doação/pagamento pelos serviços dos médicos-escravos 100.000 barris diários de petróleo para os Castro.

Quando as coisas ficaram ruins para os chavistas, que em 2012 mergulharam na em uma espiral de crise que os trouxe ao colapso atual, Cuba colou no Brasil. Embolsou bilhões de dólares surrupiados dos médicos escravizados no Brasil. Como a torneira fechou no final de 2018, a ilha voltou os olhos para o Oriente. A China está se consolidando como a nova babá dos gerontocratas cubanos. Ou tecnicamente falando, o novo “Estado hospedeiro”.

Cada vez mais influente nos sistemas internacionais, Pequim vê em Cuba um “porto” para ampliação de influência na região. Para Cuba uma redenção, para China uma oportunidade. A exportação de médicos é um poderoso instrumento da “diplomacia” dos dois países. Para Cuba, nutre a ilusão de que a ilha é um celeiro educacional. Para China, uma forma de limpar a imagem arranhada pela flagrante responsabilidade no alastramento do coronavírus pelo mundo.

O parasita não vive sem um hospedeiro. Não enfrentar a questão de forma correta só permitirá que o problema se agrave e se alastre. O tempo está acabando. Se o Ocidente não entender e agir de forma inteligente, o contágio será inevitável e poderá não restar mais vagas na UTI.

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