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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, fala com correspondentes internacionais por videoconferência no palácio presidencial em Caracas, 6 de maio de 2020
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, fala com correspondentes internacionais por videoconferência no palácio presidencial em Caracas, 6 de maio de 2020| Foto: Marcelo Garcia / Palácio de Miraflores / AFP

O ditador da Venezuela Nicolás Maduro é dono de um pensamento intrincado capaz de eclipsar as falas mais inteligíveis já pronunciadas pela brasileira Dilma Rousseff. São dezenas de canais no Youtube que se dedicam a publicar coletâneas dos discursos que os venezuelanos passaram a chamar de maburradas.

Mas, não é só pelos seus discursos atrapalhados que Maduro demonstra ser abissalmente inferior ao seu antecessor Hugo Chávez. Talvez por isso os chavistas encontram tanta facilidade parar separar o mandatário atual e o seu criador, falecido em 2013. Para eles, não existe chavismo sem Chávez. E desde que o comandante morreu, tudo que vem depois tem outro nome: madurismo.

Essa conveniência permitiu a cunhagem de uma expressão tão improvável como ladrão honesto, ou alcoólatra abstêmio: o chavista democrático. Este ser imaginário é todo aquele que se manteve fiel aos ideais de Chávez e se contrapõe a Nicolás Maduro.

Por mais insólito que possa parecer, muita gente séria e em postos chave pelo mundo embarcou na fantasia de que chavistas com longa lista de serviços prestados ao regime e ao crime transnacional se convertem em pessoas confiáveis depois que se rebelam contra Maduro por ele não representar os ideais genuínos de Chávez.

Os chavistas democráticos passaram a ser considerados peças centrais para recuperação da Venezuela.

É justamente a ilusão de que chavistas e maduristas são bandidos de espécies diferentes está na origem de uma das causas do fracasso das tentativas de se buscar uma solução para a crise que tragou o país.

O exemplo mais recente desse engano está encarnado no golpe fracassado que Maduro denunciou. Opositores venezuelanos depositam esperança e dinheiro – muito dinheiro – em uma ação mirabolante chamada "Operação Gedeão".

Em resumo, ex-militares venezuelanos que passaram os últimos meses treinando nas florestas da Colômbia desembarcariam na costa da Venezuela para iniciar uma insurgência. Eles tinham a promessa de que ao iniciar os ataques, teriam a adesão de moradores locais e militares ativos descontentes com o regime.

Quem colocou dinheiro na empreitada e quem perdeu a vida por ela (pelo menos oito mortos) acreditou na coordenação de um chavista democrático.

O arquiteto do golpe foi o general Cliver Alcalá. Um ex-chefe de operações de narcotráfico do Cartel dos Sois e homem com profundos vínculos com o regime iraniano e o Hezbollah. Alcalá, que está preso nos Estados Unidos desde março, viveu na Colômbia onde pleiteava um asilo.

Lá, entre opositores, empresários e membros de governos (assim mesmo no plural), Alcalá passou a ser considerado um aliado preciso. Pois afinal, ele vinha das entranhas do regime. E como um chavista em essência, ele poderia ser uns dos ingredientes do antídoto contra o madurismo.

Alcalá convenceu políticos e financistas a montar uma operação militar para derrubar Maduro. O roteiro era tão grotesco que até um “Rambo” ele fez questão de incluir. Com a ajuda de compatriotas endinheirados que vivem nos Estados Unidos, ele importou um ex-boina verde (o mesmo grupo de forças especiais do qual fez parte o personagem encarnado por Sylvester Stallone) para fazer parte do grupo paramilitar.

Desde que Maduro assumiu o poder em 2013, pelo menos quatro golpes montados com o suporte direto de chavistas democráticos foram debelados e só serviram para o regime aprofundar a repressão e calibrar o discurso de perseguido eterno. O golpe de Alcalá foi evidentemente montado para dar errado e ajudar Maduro a criminalizar a oposição e atacar os Estados Unidos.

Quando o presidente Jair Bolsonaro foi eleito, os venezuelanos acreditavam que o cenário estava perfeito para derrubar Nicolás Maduro. Os Estados Unidos de Donald Trump, a Colômbia de Iván Duque acabava de receber o reforço que faltava. Foi nesse ambiente que Juan Guaidó brotou como alternativa, planejada para curto prazo, já que a libertação por meio da força estava por vir.

Graves erros de leitura de cenário que incluíram, inclusive, a mais profunda ignorância sobre as leis brasileiras, por exemplo. Mas as várias oposições venezuelanas seguiram apostando na opção militar seja pela via de exércitos oficiais, seja por meio de mercenários, como se mostrou na “Operação Gedeão”.

Maduro tem vencido todas. Primeiro: todos os planos opositores nascem podres. Estão contaminados pelos colaboradores egressos do chavismo. Alcalá deveria ser o exemplo de como não se pode entregar a vida nas mãos de chavistas. O regime comandado por Maduro tem como arma principal o controle total das narrativas. Seja as próprias. Seja a de seus adversários. Pois elas são produzidas por seus infiltrados.

Cabe aqui uma ponderação. Na Venezuela existem oposições. O nível de penetração de Maduro varia de zero a 100, em cada um desses grupos. Portanto, não é correto colocar todos no mesmo patamar. Tampouco esses grupos são constituídos de gente ingênua. Está cada vez mais claro que todos sabem exatamente com quem andam. Abrem concessões em nome de um bem maior: a libertação. Só espero que os repetidos fracassos de união como os malandros construa a experiência de que não dá para chafurdar com os porcos sem se sujar.

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