O mais impressionante naquela operação de inteligência que levou à explosão simultânea de centenas de pager do Hezbollah é não haver registro de mutilados na América do Sul, mais especificamente no Brasil, onde há uma boa quantidade de membros da organização terrorista. Talvez as explosões tenham ocorrido, mas ninguém prestou atenção nas ocorrências.
Desde a sua fundação no início da década de 1980, a organização libanesa usa o Brasil como base. Espertos, aproveitaram-se da existência de uma comunidade enorme e integrada para se infiltrar. Nos primeiros anos, eles ficaram escondidos. Usavam o ambiente amistoso para se mimetizar. Depois veio o ativismo. Passaram a vender a ideia de que o Hezbollah é resistência e defesa do Líbano e dos libaneses contra o inimigo sionista.
A simpatia e o ativismo evoluíram para o recrutamento. Uma minoria, é preciso destacar, alistou-se nas fileiras do Hezbollah. Alguns trabalham fazendo e lavando dinheiro para organização. Outros colocaram a mão na massa e desembarcaram no Líbano para trabalhar nas atividades fins da milícia.
Negar a existência e ação criminosa do Hezbollah no Brasil faz parte do rosário de alegações de muita gente dentro dos órgãos de inteligência e segurança. Isso inclui a Polícia Federal, Abin e os militares
Em resumo o pensamento é o seguinte: para quê mexer com quem está quieto? Brigar com o Hezbollah significa atrair para o Brasil um problema que não existe no país: o terrorismo. É uma lógica que pouco importa se para explodir alvos no país vizinho, no caso a Argentina; o Hezbollah usou suas células baseadas no Brasil.
Os novos eventos no Líbano terão efeitos diretos na América do Sul e principalmente no Brasil. Como o país é uma colônia de férias do Hezbollah é inevitável que esteja ocorrendo neste momento (será algo que se intensificará) uma fuga em massa de membros do Hezbollah para o Brasil.
A Polícia Federal deveria estar atenta aos passageiros que chegam do Líbano, sobretudo aqueles com curativos de ferimentos recentes. Um indício de que sobreviventes da explosão sistêmica dos comunicadores do Hezbollah.
Além de caolhos, manetas e pernetas, obviamente há aqueles que chegarão inteirinhos, complicando a identificação, mas não devendo ser negligenciados.
Ignorar o Hezbollah, sua penetração pelo mundo e sua capacidade de deslocamento e instalação pelo mundo é um erro que o Brasil insiste em cometer.
Não querendo justificar, mas tentando entender os mecanismos que favorecem o Hezbollah, é preciso reconhecer o aspecto multidimensional da organização libanesa. Quando dizem que o Hezbollah é um partido político legítimo, com representação no Congresso é a mais pura verdade. Também quando dizem que o Hezbollah é uma organização filantrópica que dá assistência aos libaneses, também é correto. Quem afirma que o Hezbollah é uma organização paramilitar também acerta. E quem acusa o Hezbollah de terrorismo está coberto de razão.
A questão é que apenas a dimensão terrorista do Hezbollah é ponto de controvérsia para alguns. Uma cortesia que dá ao Hezbollah uma margem de ação e tranquilidade fundamentais para suas operações no exterior.
A comunidade libanesa no Brasil, que nada tem a ver com a violência e o terror, é usada como escudo humano muitas vezes com a conivência de líderes religiosos que evocam o conjunto comunitário como vítima de ofensas racistas, toda vez que algum barra-pesada do Hezbollah é identificado e exposto.
Entre os mortos nos bombardeios de Israel no Sul do Líbano, está o sheik xiita Ali Hassan Abu Haya, que trabalhou no Brasil por cinco anos e conforme um estudo da Fundação para a Defesa das Democracias (FDD), organização com sede em Washington, D.C., foi um doutrinador do Hezbollah.
“Abu Haya ensinava crianças e jovens brasileiros a versão iraniana e militante do islamismo xiita", disse o pesquisador Emanuele Ottolenghi a revista Crusoé. “Como um clérigo trabalhando para o Hezbollah no departamento internacional, sua função era ir até comunidades xiitas ao redor do mundo, como no Canadá e no Brasil, para convencer as pessoas a apoiarem o grupo terrorista e o Irã. Nas escolas, ele ensinava uma visão de mundo alinhada com o Hezbollah e a teocracia iraniana”, completou Ottolenghi.
A morte de um religioso com vínculos com o Irã, no centro das operações militares do Hezbollah e com passagem pelo Brasil, é apenas mais uma evidência da extensão e profundidade da presença da milícia xiita no Brasil.
A eclosão de um conflito no Líbano levará ao espalhamento de membros da organização terrorista pelo mundo e o Brasil será um destino preferencial.
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