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O papa Francisco, no Vaticano, 12 de fevereiro de 2020
O papa Francisco, no Vaticano, 12 de fevereiro de 2020| Foto: Filippo MONTEFORTE / AFP

O argentino Jorge Bergoglio, que no dia 13 de março – uma sexta-feira, por sinal – completará sete anos de pontificado, é uma das pessoas mais carismáticas do planeta. Um papa verdadeiramente pop. Mas Francisco, nome pelo qual responde desde que fora eleito no conclave convocado após a renúncia de Bento XVI, está longe de ser uma unanimidade até mesmo entre os católicos. Uma das razões disso é que ele escolheu acolher apenas um lado do rebanho, o da esquerda.

Não há que cair na tentação de chamar o papa de comunista. É muito simplista reduzir o comportamento de representante de Jesus na terra em uma opção política que, justamente, tinha entre suas premissas varrer a crença em Cristo. Mas Bergoglio não se contém. Literalmente, está na cara dele o termômetro de suas opções. No mais singelo dos gestos: o sorriso.

Em 2015, Francisco foi a Cuba e se derreteu diante do caquético Fidel Castro, que viria morrer no ano seguinte. Seus dois antecessores – João Paulo II (1998) e Bento XVI (2012) – também se encontraram com o ditador. Ambos criticaram abertamente a falta de liberdade na ilha e trataram da questão de presos e perseguidos políticos. Francisco foi subjetivo. Entregou ao ditador um livro escrito por um sacerdote que havia sido vítima do regime socialista, como forma de Fidel buscar uma reconciliação.

Pastoralmente louvável, pois, tal como ensinou Jesus Cristo, o papa mostrou para o ditador cubano que Deus está sempre com as portas abertas para os arrependidos. O exemplo mais extraordinário, narrado nos Evangelhos foi dado no Calvário. Pendurado na cruz, Jesus interagiu com dois criminosos que cumpriam a pena capital, cada qual ao seu lado. Um deles aproveitou a chance derradeira e se penitenciou. O outro preferiu desdenhar do filho de Deus à redenção. Segundo a tradição, o primeiro, que estava à direita, recebeu a promessa do paraíso. O outro, que estava à esquerda do Jesus, morreu sem o benefício. Não porque Deus o negara, mas simplesmente porque ele não quis.

O papa Francisco deu a Fidel mais uma chance de não repetir o erro do mau ladrão. Como pastor, ele estava coberto de razão. Mas e as demais ovelhas? Aquelas que jazem em prisões por pensarem diferente ou as várias outras que foram fuziladas no atacado acusadas de serem contrarrevolucionárias? Eu tendo a crer que elas estão nas orações de Francisco, mas passam bem longe de sua boca, de onde sempre sai um sorriso amigo para os bolivarianos. Que são aqueles com quem ele inegavelmente mais se identifica.

Naquele mesmo 2015, Francisco protagonizou uma cena bizarra ao lado do cocaleiro Evo Morales. O então presidente da Bolívia presenteou-lhe com uma escultura na qual Jesus está em crucifixo em forma de foice e martelo. A expressão petrificada do Papa em receber das mãos de Morales o símbolo de uma das maiores máquinas de perseguição de cristãos da história moderna se desmanchou no ar horas depois. No voo de volta para Roma, ele, tolerantemente, definiu o artefato como sendo um tipo de “arte de protesto”. Vá entender.

O papa Francisco trocou afagos com Nicolás Maduro e o chefe do Cartel dos Sóis, Diosdado Cabello. Maduro é líder do mais catastrófico processo de destruição política, social, institucional e econômica já registrado no Ocidente. Cabello, o seu amigão, é um traficante que transformou a Venezuela em uma espécie de Estado-Cartel. Eles não são os únicos, mas são os maiores responsáveis pela massa de mais 4 milhões de refugiados, pela fome, violência e total desesperança que assola os venezuelanos. Mas para eles, o Francisco foi só sorrisos.

O contraste se tornou absoluto quando Mauricio Macri foi ao Vaticano logo depois de eleito. O papa recebeu o seu conterrâneo com a mesma temperatura dos ventos que em julho chegam desde a Antártida. A carranca papal não passou desapercebida pelos argentinos que sempre a compararam com o sorriso genuíno com o qual ele sempre recebeu Cristina Kirchner.

Nesta semana, foi a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de manter correspondências com Lula no período em que ele passou preso em uma sala da sede da Polícia Federal em Curitiba, o papa o recebeu para uma audiência. Como Lula é do seu tipo de ovelha preferida, não faltaram sorrisos e demonstrações explícitas de satisfação. Lula, que não é bobo, deu uma de Fidel. Apareceu diante do papa pop, para buscar absolvição na terra.

Para Lula, um conselho: o sorriso de Bergoglio é bom para fazer política, mas não é sinônimo de redenção divina e muito menos de absolvição terrena. Ele pode ajudar a lembrar que, assim como no momento da crucificação, Jesus segue de braços abertos para oferecer o perdão. Mas para obtê-lo, é preciso querer. Volto a recorrer ao exemplo dos dois criminosos. Um só abraçou a oportunidade. Mas nem por isso deixou de ser ladrão.

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