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Caravana de migrantes da América Central, a maioria de Honduras, atravessa o Rio Suchiate, na fronteira entre Guatemala e México, 20 de janeiro de 2020
Caravana de migrantes da América Central, a maioria de Honduras, atravessa o Rio Suchiate, na fronteira entre Guatemala e México, 20 de janeiro de 2020| Foto: Johan ORDONEZ / AFP

No ano passado, 921.920 pessoas foram presas ao tentar atravessar ilegalmente a fronteira do México com os Estados Unidos. Uma média de 2.526 imigrantes barrados por dia. Eles tentaram se somar aos cerca de 11 milhões de ilegais que vivem naquele país. A maioria deles acredita que a América é o lugar da prosperidade e que tocando os pés no solo americano iniciarão uma jornada rumo ao sucesso. Nesta semana, centenas de centro-americanos enfrentaram a Guarda Nacional do México na tentativa de viver este sonho.

Enquanto os fotógrafos e cinegrafistas captam imagens perturbadoras de homens e mulheres, as engrenagens da indústria o tráfico humano, que alimenta essas rotas, seguem ativas enviando para fronteiras as suas vítimas. Apenas em janeiro deste ano, cerca 50.000 pessoas tentarão se juntar aos mais de que 44,5 milhões de imigrantes que vivem nos Estados Unidos, legalmente ou não.

O que acontece com a maioria dos ilegais que têm sucesso na travessia? Se afundam numa ilusão. O fato de, sob vários aspectos, viverem melhor que em seus países de origem, muitos deles sequer resvalam no padrão médio de vida de um americano ou das gerações anteriores de imigrantes. Os cérebros mais preguiçosos tendem a inferir que os Estados Unidos são um país excludente, ao invés de recorrer ao óbvio: não existe sucesso automático em nenhum lugar do mundo.

Um grupo de fiéis de origem latina, que se reúne em uma igreja evangélica nos subúrbios de Washington, D.C., é um repositório de histórias de fracasso que ajudam a entender o engano da migração a qualquer custo para América.

Em uma roda de conversa, uma mãe salvadorenha revelou uma chaga familiar. Abandonou a casa, os pais já idosos, as plantações, tudo o que ela definia como seu lar para proteger seu filho da má influência das pandillas, como são chamadas as gangues por lá. "Hoje, eu me sinto derrotada, perdi meu filho para elas. Bem aqui nos Estados Unidos".

Ela narrou como a MS-13, uma das organizações de crime organizado mais sangrentas da América Central, repete nas franjas da capital dos Estados Unidos o poder de recrutamento e ameaça que tem em El Salvador. Depois de tanto assédio na vizinhança de maioria latina, o garoto de 16 anos foi recrutado pelos compatriotas e agora presta serviço fazendo tráfico de drogas e extorsões. Duas das várias atividades que o MS-13 mais sabe fazer, além, obviamente, de matar com crueldade descomunal. Adoram esquartejar.

Uma das razões para que histórias como a descrita acima aconteçam é bizarramente translúcida. Ao desembarcar nos Estados Unidos, a maioria dos imigrantes insiste em viver de maneira exatamente igual à que vivia em seus países de origem. Repetindo mais vícios que virtudes e fertilizando em suas comunidades e, muitas vezes, guetos alguns dos mesmos problemas que eles alegam terem sido a causa de seu êxodo.

Mas esta não é a única explicação. A aglutinação por identificação de idioma e cultura é um processo, de certo modo, automático e saudável se ele não viesse acompanhado de um ingrediente fatal. A incompreensão de que o sucesso dos (e nos) Estados Unidos não se deve ao lugar, mas à adesão a uma ideia ou conjuntos de ideias que precisam ser absorvidas e literalmente imitadas. Valores esses, que se fossem replicados em El Salvador, Honduras ou Haiti fariam desses países o que os Estados Unidos são. Cada qual, obviamente, ao seu modo, mas bem diferentes do atoleiro em que se encontram há muito tempo.

E não se trata de uma virtude americana. Os países nórdicos, o Japão, a Alemanha, a Suécia… Cada um é o que é porque se constituiu sobre fundamentos. Mudar de vida não significar mudar de país, mas assumir esses conceitos. Mas, infelizmente, para muitos é mais fácil deixar o seu lugar de origem, que tirar de dentro de si o que há de mais daninho em seus países.

Não há esforço de integração. Aliás, no tempos atuais, sob o pretexto da "tolerância" e "diversidade" tem se estimulado o contrário. A "ideia" que forma a base de sociedades como a americana tem sido rapidamente diluída para acomodar vícios que se apresentam travestidos de "cultura".

É evidente que a pluralidade traz riqueza para qualquer sociedade. Mas permitir a corrosão de valores basilares em nome de um ambiente menos hostil para o imigrante não resultará em um país melhor.

Muitos americanos estão caindo na armadilha de que ser o que eles são é ruim. A negação deles mesmos por eles mesmos é a fratura que tem se dilatado a cada renúncia que são cooptados a fazer. Os americanos parecem cada vez mais submersos em uma certa vergonha dos Estados Unidos e tudo que eles representam. Fora da América, a mesma falácia prospera em relação aos americanos. Mas por que, então, um entre cada quatro imigrantes, em todo o mundo, escolheu os Estados Unidos como lar? Por que os hondurenhos e salvadorenhos que estão enfrentando a polícia do México não escolheram o Panamá? Ou, quem sabe, algo mais radical. Não se mudam para Cuba ou até mesmo a Venezuela de Maduro? Ah… nos Estados Unidos há mais oportunidades e dinheiro. É simples e verdadeiro. Mas a economia colossal e o ambiente mais favorável para quem trabalha poder progredir não é o que é por uma questão de geografia. Mais que um lugar, os Estados Unidos são uma ideia. E do jeito que as coisas vão indo, é uma ideia que está ameaçada de desaparecer.

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