Longevidade

Norton Melo*

Moradia para idosos ganha espaço na arquitetura

Norton Melo*
04/02/2022 10:20
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Envelhecer em ambientes saudáveis: o mercado imobiliário está começando a perceber as demandas de uma população cada vez mais longeva. | Bigstock

Boas notícias! Estamos vivendo mais e relativamente melhor. Melhores condições de saneamento, acesso à educação, medicamentos e tratamentos nos trouxeram avanços na longevidade global. Por outro lado, temos alguns desafios devido à velocidade no crescimento da população longeva. Um dos aspectos desse universo é o desenvolvimento de moradias que atendam o envelhecimento das pessoas e implementem facilitadores para as suas atividades de vida diária.
A lembrança destas moradias em algumas sociedades se relaciona aos asilos e manicômios, que se assemelhavam a unidades prisionais. Por esse motivo, quando se fala em moradia para pessoas idosas, a reação quase sempre é negativa. Mas não precisa ser assim.
Não se pode mais conceber que a cronologia seja o fator determinante para uma “classificação” de pessoa idosa. A longevidade pode (e deve) ser alegradora. A falta de modelos de negócios habitacionais que tenham mais empatia a esse segmento faz com que ocorram distorções sobre a imagem que a sociedade tem desse público, que atualmente está desassistido em suas demandas. Nós, profissionais de engenharia e arquitetura, ainda precisamos aprender a desenvolver projetos que ofereçam a manutenção das habilidades físicas, cognitivas e sociais, ao mesmo tempo que permitam o desenvolvimento de novas habilidades.
Dados da ONU revelam o crescimento da população idosa na América Latina da ordem de 71% até 2030 (só faltam oito anos). Trata-se do maior crescimento e velocidade de crescimento global. Países em que os empreendimentos habitacionais para a longevidade são consolidados possuem alguns modelos que podemos agrupar em Independent Living, Co-Living, Co-Housing, Assisted Living Facilities (ALF), Skilled Nursing Facilities (SNF), Rehab, Memory Care e Continued Care Retirement Community.
No Brasil, temos apenas dois modelos, que são os Lares de Idosos ou as Casas de Repouso, cujo enquadramento global seria algo entre Co-Housing e ALF, e as Instituições de Longa Permanência para Idosos, que seriam algo como um misto de o ALF e o SNF.
Ocorre que a falta de modelos enseja em resistência para o desenvolvimento de empreendimentos que sejam mais seguros, que estimulem a convivência e que estejam preparados para possíveis declínios nas capacidades motoras e sensoriais. Senior Living, sobretudo, trata-se de Moradia, Habitação, e não deve se constituir em modelos de clínicas ou hospitais.
Começam a surgir algumas correntes nas incorporadoras de maior vanguarda, que enxergam o público da longevidade carente de empreendimentos imobiliários capazes de lhes trazer melhores soluções e, sobretudo, de afastá-los da possibilidade de institucionalização. É o que se denomina “Aging in Place”, ou seja, permitir que a moradia seja segura e incorpore tecnologias e mecanismos que proporcionem o envelhecimento na sua própria casa/apartamento sem adaptações ou improvisos e sem aspecto de clínica.
Nesses empreendimentos são preservados aspectos de inclusão, transgeracionalidade, saúde e bem-estar por meio de ambientes e atividades projetados para tais finalidades. Trazem, evidentemente embarcadas no condomínio, empresas de atenção e prontidão, as quais podem também oferecer adicionalmente cuidados mais específicos e intensivos (home care).
Envelhecer em ambientes saudáveis é possível? Sem cara de clínica? Alegres? Motivacionais? Aqui no Brasil? Sim, perfeitamente possível e já temos movimentações nos estados do Sul e Sudeste. Tímidas, mas veremos uma grande virada no Real Estate nacional em breve.
Norton Mello* Diretor da Aging 2.0 em Curitiba e Engenheiro PhD. em Moradias para Idosos, com projetos arquitetônicos realizados nos Estados Unidos e no Brasil, dentre os quais o BIOOS, em Curitiba.