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Candidato “Bolsonaldo” é sintoma da crise existencial da esquerda
| Foto: Reprodução Twitter

Como acontece com frequência, primeiro pensei que era uma brincadeira da Internet, para em seguida constatar mais uma vez que no Brasil – especialmente na política – a realidade supera qualquer ficção. No município de Marituba, no Pará, um candidato a vereador apostou na semelhança física com o presidente Jair Bolsonaro para adotar o nome “Bolsonaldo”. Como se isso já não fosse suficientemente bizarro, o candidato é do... PCdoB, partido visceralmente contrário ao governo federal. Acredite se quiser.

Mas a história tem outros ingredientes curiosos. Tudo começou em 2018, quando diversos moradores da cidade passaram a chamar o metalúrgico e comerciante Enaldo Rodrigues Araújo, 63 anos, de Bolsonaro. Ele gostou tanto do apelido que resolveu fundir seu nome ao do presidente, de quem se diz admirador, surgindo daí “Bolsonaldo”. Imagino que as notícias se espalhem rápido por Marituba, como em qualquer município pequeno, e a popularidade de Bolsonaldo logo chamou a atenção das lideranças políticas da região. Ele virou uma celebridade local (até aí tudo bem, há quem vire celebridade por motivos mais fúteis).

Daí para partidos das mais variadas colorações ideológicas convidá-lo a se lançar candidato a uma das 15 vagas da Câmara Municipal da cidade foi um pulo. A campanha de Bolsonaldo aposta na distribuição de santinhos e já tem até jingle: “Vote no Naldo pra vencer. Bolsonaldo não promete, ele faz acontecer”, diz um trecho.

E porque ele escolheu o PCdoB? Ora, que pergunda mais boba: foi por ser amigo do presidente municipal do partido (e candidato a prefeito). Mas, indagado se é comunista, Bolsonaldo, que se declara cristão, respondeu: “Graças a Deus que não!”. E complementou, com uma sinceridade arrasante: “Eu não sou do comunismo, mas esse foi o meio mais fácil de chegar à eleição”.

O episódio representa, seguramente, uma lamentável tentativa de enganação, por parte do partido de Bolsonaldo, do eleitorado que apoia o presidente, bastante popular em Marituba. O vale-tudo para conquistar os votos dos incautos é assustador: como se não bastasse a prática recorrente de excluir a cor vermelha e outros símbolos associados ao comunismo em seu material de campanha, partidos de esquerda agora lançam candidatos que pegam carona na popularidade do presidente, sem qualquer constrangimento.

Somente à primeira vista se trata do comportamento de uma esquerda envergonhada que não ousa dizer seu nome: o que motiva essas práticas não é vergonha, mas cálculo: se a cor vermelha e a foice e o martelo não rendem mais votos, vamos de sósia de Bolsonaro mesmo, para ver se dá certo. Ele pode até se declarar cristão e anticomunista, o partido não se importa.

Mas o episódio é também sintoma da crise existencial profunda, do estado de desorientação e confusão mental da esquerda brasileira, que desde o impeachment de Dilma Rousseff não para de bater cabeça. Inconformada até hoje com a perda do poder, vive em estado de negação e não sabe para onde ir. Ora aposta no vandalismo, ora nas pautas identitárias, ora na cultura do cancelamento, ora em jogar em Bolsonaro a culpa pela Covid-19 etc.

Mas nada disso está colando: pelo menos segundo as pesquisas, com toda a sabotagem e com toda a torcida contra dos inconformados, a popularidade do presidente se mantém, e cada um desses movimentos erráticos só aumenta o abismo que afasta a esquerda dos brasileiros comuns.

O pensamento vivo de Bolsonaldo:

“Hoje mesmo fui ao banco e a atendente pediu uma foto, porque a mãe dela gosta muito do Bolsonaro. Se foto garantisse voto eu já estava eleito”;

“Não me considero nem de direita nem de esquerda. Sou neutro. Escolhi o PCdoB porque o candidato a prefeito do partido é meu amigo e fizemos esta parceria. Eu sou do povo, a minha luta não é partidária”;

“Quem vai dominar não é o partido, mas quem está dentro do mandato. Tem pessoas boas e ruins em todos os partidos";

“A situação do nosso município está complicada. Não temos assistência na saúde e sempre falta profissionais para atender a população. O desemprego também é preocupante. Vejo o sofrimento na vida do povo de Marituba. O pessoal falou comigo que estava na hora e resolvi aceitar o desafio”;

"Não tenho muito contato com essas coisas (comunismo). Não me interessei, porque sou pelo povo e não me ligo muito nesses assuntos";

“O povo que trocou meu nome para Bolsonaldo. Falei que isso tinha que estar na urna. É a voz do povo”;

“Tenho fé em Deus que vai chegar até ele (Bolsonaro) e que um dia ele vai vir aqui em Mirituba. Meu pai teve 22 filhos e muitos irmãos eu ainda não conheço. Quem sabe ele não é meu irmão?”.

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