(Disclaimer para evitar mal-entendidos: este artigo não é sobre o Brasil, mas sobre o imaginário Reino Democrático de Banânia – RDB.)
Banânia é um reino dividido, no qual metade da população despreza a outra metade. Uma metade – a autointitulada casta do bem – termina 2023 falando em amor e conciliação, mas todo o mundo sabe que é apenas um truque: em 2024 ela continuará odiando, perseguindo, censurando e enfiando a porrada na outra metade, rotulada como a casta do mal. Esta continuará a ser tratada como gente abjeta, cujo único direito é apanhar calada.
Para a perpetuação desta divisão da sociedade de Banânia contribuirão de forma decisiva o poder econômico, a Justiça e a grande mídia.
Em 2024, os três continuarão celebrando, mês após mês, a vitória da democracia de um lado só, da democracia relativa, da democracia sem povo – talvez na esperança de que a metade da população do reino que não gosta deles simplesmente desapareça, em um passe de mágica. Aí sim o amor triunfará.
Porque o fato é que, em Banânia, a mera existência de metade da população virou um problema para a outra metade. E há diversas maneiras erradas de lidar com um problema: é possível ignorá-lo, abafá-lo, escondê-lo, fazer de conta que ele não existe.
Mas o problema continua lá, teimoso, incomodando, sem solução. A casta do bem adoraria enfiar todo o mundo na prisão, mas infelizmente não é possível. Talvez o jeito seja criar, como na China, campos de reeducação para essa gente que teima em ter uma opinião diferente, mas isso levará tempo.
A sociedade inteira em Banânia parece estar se arrastando, como que presa em uma areia movediça
É notável o esforço da grande mídia para fazer um balanço positivo de 2023, mas a verdade é que, exceção feita a um pequeníssimo grupo de privilegiados, ninguém está feliz no Reino Democrático de Banânia.
Porque em Banânia se vive uma situação de anomia. Ninguém acredita mais nos políticos. Ninguém acredita mais nas pesquisas. Ninguém acredita mais nos números oficiais da economia. Ninguém acredita mais na Justiça. Ninguém acredita mais nas campanhas publicitárias lacradoras. Ninguém acredita mais no terrorismo ambiental. E ninguém acredita mais no noticiário que tenta convencer os cidadãos de Banânia a aceditarem em tudo isso.
Vende-se otimismo na mídia e nos canais oficiais do reino, mas basta caminhar nas ruas para constatar que está todo mundo cansado e desanimado. Cansado do bom-mocismo fake, da ostentação de virtude nas redes sociais, do relativismo moral, da gastança dos poderosos, das decisões monocráticas que sempre beneficiam o mesmo grupo e a mesma agenda.
Mesmo aquela parcela da população que seria supostamente beneficiada por essas condutas já se deu conta de que a adrenalina de apontar o dedo não resolve nada. Na prática, a sua (dela) vida não melhorou. Porque lacrar e apontar o dedo pode gerar um prazer momentâneo, como uma droga – mas não melhora em nada a vida de ninguém, muito menos a do usuário.
E os boletos não param de chegar, e os preços nas gôndolas do supermercado não param de aumentar. Para surpresa de ninguém, especialistas alertam para a estagnação da economia de Banânia em 2024. Mas não é só a economia que ficará estagnada: a sociedade inteira em Banânia parece estar se arrastando, como que presa em uma areia movediça.
A casta do mal é a que mais sofre, naturalmente, mas percebo uma certa aflição também na casta do bem. Porque o tempo está passando e, a rigor, pouca coisa aconteceu em 2023. Para a casta do mal, resta torcer para que estes anos passem depressa. A vida virou um grande compasso de espera, e esperar que a situação não piore já parece otimismo.
Foi assim ao longo de 2023, e em 2024 não será diferente. Basicamente teremos mais do mesmo: Banânia continuará tristemente dividida, inexoravelmente dividida, irremediavelmente dividida.
Mas nunca se sabe, surpresas acontecem. Em Banânia, até o passado é imprevisível.
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