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Sobrou para o estrogonofe
| Foto: Divulgação

Nem a guerra escapa da lacração.

Para protestar contra a invasão da Ucrânia pela Rússia, o tradicional Bar da Dona Onça, no centro de São Paulo, retirou do cardápio seu tradicional estrogonofe.

O prato, como se sabe, teve origem na Rússia dos czares: teria sido criado por um cozinheiro francês da aristocrática família Stroganov, em São Petersburgo. Com a Revolução de 1917, nobres que fugiram da Revolução de 1917 levaram o estrogonofe para a França, onde a receita sofreu algumas adaptações e se espalhou para o mundo.

Nada disso importa. O estrogonofe está cancelado.

Segundo a chef da casa paulistana, a decisão foi tomada em solidariedade ao povo ucraniano, atendendo a “centenas de pedidos de clientes” (oi?), com a intenção de utilizar a cozinha como “ferramenta de educação política”: “É uma forma de falarmos que eles não estão sozinhos, já que eles não podem falar porque vivem em uma ditadura”, declarou a politizada chef. “Cabe a nós protegê-los também”.

Agora sim, a guerra acaba! Podem avisar para as lideranças ocidentais que não são mais necessárias sanções econômicas contra a Rússia. Fontes do Kremlin informaram que, quando soube que um bar de São Paulo cortou o estrogonofe do cardápio, Vladimir Putin teve uma crise de nervos e decidiu que vai retirar suas tropas da Ucrânia. Depois dessa demonstração de força de um botequim paulista, não restava mais nada a fazer.

Coitado do estrogonofe.

Cortar o prato de origem russa do cardápio para protestar contra Putin é o equivalente culinário de retirar das estantes das livrarias e bibliotecas os livros de Tolstoi e Dostoievski; ou de censurar exposições de artistas russos do século 19; ou proibir a encenação de peças de teatro russas, ou a exibição de filmes de cineastas russos.

É apenas uma estupidez, mas vivemos tempos tão estúpidos que ideias assim podem parecer bonitinhas para a turma do ódio do bem, cuja única preocupação é ficar bem na fita. Proibir, censurar e cancelar é com eles mesmo.

E a cretinice não se limitou ao Bar da Dona Onça. Alguns restaurantes em São Paulo também pararam de servir o drink Moscow Mule (vodca, suco de limão siciliano e xarope de gengibre).

A pergunta que não quer calar: será que algum ucraniano se sentiu mais protegido depois que o Bar da Dona Onça retirou o estrogonofe do cardápio?

O episódio me trouxe a memória uma atriz que, alguns anos atrás, decidiu pintar uma unha de branco para pedir a paz no planeta; e uma influenciadora que, para protestar contra o machismo, postou um vídeo dançando sem música. E agora mesmo leio que outra atriz postou no Youtube estes dias um vídeo aos prantos, dizendo que não consegue parar de chorar, por causa da Guerra da Ucrânia.

Gente...

Resisto a crer que é só vontade de aparecer: será que é bom para a imagem e o bolso de famosos e de restaurantes passar vergonha em público? Duvido. Algo mais grave deve estar acontecendo com a cabeça das pessoas.

PS 1: Nunca fui ao Bar da Dona Onça, mas dizem que o seu estrogonofe era mesmo muito bom. Já que não dá mais para comer lá, segue a receita do prato tal como era preparado na casa, que achei na internet:

Ingredientes:

150 g de filé cortado em tirinhas
1 colher (sopa) de cebola picada
1 colher (sopa) de azeite extravirgem
100 ml de creme de leite fresco
30 g de champignon
10 g de mostarda
1 colher (sopa) de conhaque
5 g de páprica doce
1 colher (sopa) de molho inglês
sal e pimenta a gosto

Modo de preparo:

“Em uma frigideira, coloque o azeite e a cebola, e refogue. Depois, coloque a carne e refogue um pouco mais. Flambe com o conhaque. Acrescente a páprica, a mostarda, o molho inglês, o creme de leite e o champignon, e deixe reduzir.”

Rendimento: 1 porção

PS 2: Parece que o Bar da Dona Onça voltou atrás e devolveu o estrogonofe ao cardápio. Putin já pode respirar aliviado. Mas o que será dos ucranianos?

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