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Banquetes de senadores e deputados custam até um “auxílio emergencial”
| Foto: Pixabay

600 reais são suficientes para manter uma família durante um mês? 300 reais servem como “auxílio emergencial”? Senadores e deputados acham que são suficientes, pelo menos para pagar os seus banquetes custeados com dinheiro público. É uma espécie de auxílio-alimentação, mas sem limites. O rei da alta cozinha é o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do PP e uma das principais lideranças do Centrão no Congresso.

Em 13 de agosto, Nogueira pagou R$ 687 por uma refeição na Churrascaria Rodeio, em Brasília. Mais do que a “ajuda emergencial” do início da pandemia da Covid-19. Só a picanha para duas pessoas saiu por R$ 318. No dia 4 daquele mês, ele já havia pago R$ 694 em almoço no sofisticado Marcelo Petrarca Restaurante. O “prato da boa lembrança” ficou por R$ 250 – exatamente o que o ministro Paulo Guedes propôs para o novo auxílio.

O senador havia oferecido um banquete para sete pessoas na Confraria Chico Mineiro, em 30 de maio, no valor de R$ 415. Mas só cobrou R$ 380 do Senado. Em 21 de setembro, ele foi reembolsado em R$ 407 por um almoço em Araçariguama (SP), no restaurante de “sabor português” Rancho 53. O prato principal foi arroz de bacalhau. No Xhow Alimentos, no Rio de Janeiro, gastou R$ 419.

Mas Nogueira reduziu muito o valor das suas refeições depois que o Senado passou a divulgar a nota fiscal dessas despesas. Ele costumava frequentar o roteiro gastronômico do bairro nobre paulista Cerqueira César, incluindo os restaurantes Nakka e Amadeus. Em Brasília, pagou R$ 2,8 mil por uma refeição no restaurante português A Bela Sintra e R$ 3,2 mil no Dom Francisco. A maior despesa foi feita no Coco Bambu Frutos do Mar, em 2011 – R$ 6,8 mil em valores atualizados.

Os maiores banquetes de senadores

O senador Telmário Mota (PROS-RR) gastou R$ 588 na churrascaria Xurima em Boa Vista, mas não detalhou as despesas. Em março, ele havia gasto R$ 352 na mesma churrascaria, mais uma vez sem detalhar o cardápio. Os senadores podem oferecer banquetes para convidados. E Telmário também teve o seu momento de sofisticação. Serviu a cinco convidados um cupim com gremolata com batata brava e postas de dourado com azeite de coentro, no restaurante do Senado, por R$ 298 – meio “auxílio emergencial.

O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) – aquele que escondeu dinheiro na cueca – ofereceu um desses banquetes no restaurante Comidas Regionais, em 2019. Ele acompanhou 14 lideranças indígenas do seu estado em visita ao presidente Jair Bolsonaro, no dia 7 de maio. Após o evento, levou todos para jantar por conta do contribuinte.

Chico foi batido por Elmano Ferrer (PP-PI), atual 2º secretário do Senado. Em 31 de janeiro, torrou R$ 922 em 16 “refeições” no restaurante Maria dos Santos Brito, em Parnaíba. No mês seguinte, gastou R$ 319 no restaurante do Senado num almoço para seis pessoas.

Deputados mais próximos dos R$ 300

Na Câmara, os gastos ficam um pouco abaixo porque os deputados não podem pagar a conta de convidados. Mas muitos deles gastam até R$ 250 por uma refeição – igual à proposta de Paulo Guedes. Foi exatamente o valor pago por Luiz Antônio Corrêa (PL-RJ) na Chicago Prime Parrilla em 25 de novembro. Em 6 de dezembro, gastou mais R$ 271 na mesma parrilla. Já havia estado por lá em30 de agosto, quando pagou R$ 199 por uma picanha angus com palmito pupunha e arroz com brócolis. Na Churrascaria Majorica, pagou R$ 198 por um “banquete especial”.

O auxílio deve ser fixado novamente em R$ 600 até junho e em R$ 300 até dezembro – valor pago nos últimos meses de 2020. Ficou próximo da conta de Nilson Stainsack (PP-SC) na Nau Frutos do Mar, em dezembro: R$ 256. Otto Alencar Filho (PSD-BA) gastou R$ 252 na Casa de Palha em 31 de janeiro. Só a picanha de 600 gramas saiu por R$ 241 – quase um “auxílio”. Vanderlei Macris (PSDB-SP) pagou R$ 242 por uma refeição na Souza Churrascaria em novembro.

Luiziane Lins (PT-CE) gastou R$ 232 na Nóz Cozinha Aromática, em outubro. Comeu um “Tacho de frutos do mar” por R$ 179. Bibo Nunes (PSL-RS) comeu salmão com crosta de gergelim por R$ 228 no Porto Alegre Comércio de Alimentos. Ricardo Silva gastou R$ 230 para comer uma costela dianteira acompanhado de um baião de dois.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não teve despesas com alimentação nas duas últimas legislaturas. Mas já fez refeições por conta do contribuinte. Em abril de 2013, gastou R$ 346 no restaurante Porta Azul. Em novembro de 2011, já havia gasto R$ 496 no sofisticado Antiquárius, no Leblon, Rio de Janeiro. Esses valores foram atualizados pela inflação.

Fretamento de aviões no Amazonas

O estado do Amazonas viveu uma grave crise sanitária em 2020 – crise que voltou ainda mais forte neste ano. Mas três deputados federais continuaram percorrendo o estado em aviões fretados, o que resultou numa despesa de R$ 619 mil – dinheiro que poderia ter sido utilizado no combate à Covid-19. Só o deputado Sidney Leite (PSD) gastou R$ 279 mil. No maior roteiro, ao custo de R$ 82 mil, em dezembro, esteve em 21 cidades.

Nas redes sociais, ele afirmou que estava realizando em Maués “uma verdadeira maratona na cidade e no interior”, durante cinco dias, para entregar 20 mil brinquedos e 8.500 cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade social. Avisou que também houve sorteios de brindes como fogão, geladeira, televisão, ventilador, motor rabeta, entre outros. Fotos publicadas no Facebook mostram a aglomeração na entrega de brinquedos e cestas básicas.

Em plena pandemia da Covid-19, Sidney Leite faz aglomeração em Maués para entregar brinquedos e cestas básicas/Fecebook
Em plena pandemia da Covid-19, Sidney Leite faz aglomeração em Maués para entregar brinquedos e cestas básicas/Fecebook

Silas Câmara (Republicanos) torrou R$ 206 mil com aluguel de aviões. O fretamento mais caro custou R$ 49 mil. Átila Lins (PP) gastou mais R$ 134 mil, sendo R$ 99 mil de setembro a dezembro.

Mas há outra modalidade de gastos com aviões: a compra de combustível com dinheiro público. O senador Ciro Nogueira gastou R$ 191 mil com aquisição de combustível para aeronaves, sendo R$ 75 mil em dezembro do ano passado. O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) torrou mais R$ 105 mil nessa modalidade, abastecendo o seu avião particular nos aeroportos de Porto Velho e Ji-Paraná.

O blog questionou os deputados e senadores se os banquetes e gastos em restaurantes sofisticados não seriam inadequados em tempos de pandemia e muitas despesas do governo federal. Não houve respostas.

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