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Gastos sigilosos de Bolsonaro com cartões corporativos somam R$ 2 milhões em dois meses
| Foto: Alan Santos

Após quatro meses com despesas em torno de R$ 200 mil, os gastos sigilosos do presidente Jair Bolsonaro com cartões corporativos somaram R$ 2,1 milhões em agosto e setembro. O aumento repentino das despesas coincide com um período de muitas viagens do presidente pelo país para visitar obras de infraestrutura, habitação e reforma agrária, em ritmo de pré-campanha eleitoral.

O blog fez o levantamento dos gastos no Portal da Transparência e registrou pagamentos de cartões nos valores de R$ 958 mil em setembro e R$ 1,16 milhão em outubro. Mas os pagamentos são sempre relativos aos gastos do mês anterior. Questionada se o aumento de despesas foi consequência das viagens presidenciais ou aconteceu por outro motivo, a Secretaria-Geral da Presidência não respondeu. Sugeriu que o pedido fosse encaminhado pela Lei de Acesso à Informação, cuja resposta demora normalmente um mês.

Os gastos são sigilosos porque, supostamente, a sua divulgação poderia colocar em risco a segurança do presidente da República. Esses dados são divulgados somente após o término do mandato presidencial. Mas as despesas com diárias e passagens de servidores para os locais visitados pelo presidente mostram claramente onde ele foi e qual a sua programação. Além da comitiva presidencial, também as equipes precursoras de assessoria e segurança fazem muitas despesas. Nunca é demais lembrar que os gastos com cartões são bancados com dinheiro público dos impostos pagos por todos os brasileiros.

Gastos de Bolsonaro com cartões só aumenta

Nos primeiros nove meses deste ano, os gastos sigilosos de Bolsonaro com cartões já somam R$ 6 milhões, apesar da suspensão das viagens nos meses mais críticos da pandemia da Covid-19. O blog não considerou os pagamentos de janeiro porque foram relativos a despesas feitas em dezembro do ano passado. Em fevereiro, as despesas do presidente somaram R$ 1,2 milhão, sem considerar a despesa com o avião presidencial que foi buscar 34 brasileiros que estavam em Wuhan, na China – mais R$ 740 mil.

Em 2019, primeiro ano de governo, os gastos de Bolsonaro com os cartões corporativos somaram R$ 7,5 milhões – 34% a mais do que foi gasto no último ano do governo Michel Temer (R$ 5,6 milhões) e 12% acima das despesas do último ano completo do governo Dilma Rousseff (R$ 6,7 milhões).

Bolsonaro chegou a anunciar pelas redes sociais, em agosto de 2019, que mostraria o extrato do seu cartão corporativo. Em 24 de abril deste ano, afirmou que o seu cartão tinha gasto zero desde o início do seu governo. Mas não informou que as despesas com o Palácio da Alvorada e com hospedagem, alimentação e passagens para servidores nas suas viagens e deslocamento dos seus familiares são pagas com outros cartões, utilizados por servidores da Secretaria de Administração da Presidência.

Obras e ajuda emergencial

Em 17 de agosto, Bolsonaro visitou Sergipe. Esteve na inauguração da Termoelétrica da Centrais Elétricas de Sergipe (Celse), em Barra dos Coqueiros, e visitou a fábrica de Fertilizantes Nitrogenado (Fafen) em Laranjeiras. Era o início do avanço Bolsonaro sobre o eleitorado petista, que tem no Nordeste um dos principais redutos.

Quatro dias depois, o presidente participou de inauguração de moradias populares e obras contra a seca em Ipanguaçu e Mossoró, no Rio Grande do Norte, na companhia do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. No palanque, anunciou que o auxílio emergencial para trabalhadores informais e desempregados seria estendido até dezembro, ainda sem valor definido.

Bolsonaro esteve na cerimônia de retomada do Alto-Forno 1 da Usina da Usiminas, em Ipatinga (MG), em 26 de agosto. No dia seguinte, fez “visita técnica” às obras de ampliação do Aeroporto de Foz de Iguaçu (PR), participou de cerimônia de lançamento da pedra fundamental para a duplicação da BR-469 e fez mais uma visita técnica à Itaipu Binacional.

Em 3 de setembro, provocou aglomeração num evento com cerca de 2 mil pessoas em Piraquera-Açu, no Vala de Ribeira (SP), durante o lançamento do projeto de uma ponte no município. Dois dias depois, fazia visita à obra da pista de pouso e decolagem do Aeroporto Congonhas (SP), em companhia do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.

Afagos a militares e ao agronegócio

Além de buscar novos eleitores, Bolsonaro também tratava de agradar os antigos aliados. Em 10 de setembro, o presidente e sua comitiva participaram da cerimônia de encerramento do Curso Especial de Habilitação para Promoção a Sargento, no Centro de Instrução Almirante Alexandrino, no Rio Janeiro. No dia seguinte, chegava a Barreiras e São Desidério, na Bahia, mais uma vez acompanhado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcício de Freitas, para visitar as obras da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol).

No dia 17 de setembro, participou da inauguração do Complexo Solar Coremas, uma usina solar fotovoltaica, no sertão da Paraíba. Mais um agrado aos nordestinos. Mas o presidente não esqueceu ninguém. Para prestigiar o agronegócio, esteve em Sinop (MT) no dia seguinte, para visita à usina de etanol Inpasa e o lançamento do plantio de soja, além da entrega de títulos fundiários.

Nos dias 23 e 24 de setembro, mais um agrado aos militares. Pernoitou na Academia Militar das Agulhas Negras, onde fez uma palestra, e participou da formatura matinal dos cadetes, ao lado dos ministros da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e da Casa Civil, Braga Netto – todos sem usar máscaras de proteção contra a covid-19.

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