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Em live nas redes sociais no dia 8 de agosto, o presidente Jair Bolsonaro prometeu abrir o sigilo do seu cartão corporativo. Mas até agora nada.
Em live nas redes sociais no dia 8 de agosto, o presidente Jair Bolsonaro prometeu abrir o sigilo do seu cartão corporativo. Mas até agora nada.| Foto: Carolina Antunes/PR

O presidente Jair Bolsonaro prometeu em 8 de agosto abrir o sigilo do seu cartão corporativo. O objetivo seria mostrar que não gastou milhões em dinheiro público. Dois meses depois a fatura continua em segredo, mas parte dos gastos sigilosos de Bolsonaro no cartão corporativo veio à tona, após solicitação feita pelo blog via Lei de Acesso à Informação. São despesas pessoais de Bolsonaro que começaram a ser pagas com cartões antes mesmo que ele tomasse posse como presidente, durante o governo de transição, quando estava hospedado na Granja do Torto.

A maior parte dos gastos foi feita com almoços e jantares para o presidente e a sua equipe de transição, no Torto e no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde se reuniram os grupos de trabalho. Em 19 de dezembro do ano passado, foi servido jantar para 40 pessoas na residência oficial do presidente eleito. Em 21 de novembro, outro almoço para o presidente e mais 15 pessoas no CCBB. Mas também houve compra de picanha, filé mignon e filé de salmão para atender a cozinha da residência oficial. Houve até “chá de panela” pago com dinheiro público.

Os pagamentos feitos com cartões corporativos para atender às despesas de Bolsonaro e de sua família após a posse são classificados como “reservados” e ficarão sob sigilo até o final do seu mandato, como aconteceu com governos anteriores. Mas os gastos feitos pela equipe de transição foram desclassificados juntamente com as despesas do presidente Michel Temer. Também estão sob sigilo os gastos feitos na festa de réveillon que aconteceu no Torto. O blog obteve os arquivos da movimentação desses cartões nos governos Lula, Dilma e Temer.

É bem verdade que os gastos de Bolsonaro no cartão corporativo antes de tomar posse, pelo menos na Granja do Torto, foram mais modestos do que nos governos petistas. Não havia, por exemplo, o combo cachaça, uísque e vodka verificado nas planilhas de Lula e Dilma.

Tudo do bom e do melhor nos cartão corporativo de Bolsonaro

O primeiro registro sobre a estada de Bolsonaro na Granja do Torto aparece nos arquivos da Presidência da República no dia 21 de novembro. Diz que “as despesas realizadas” visavam atender à residência oficial, “devido à estadia do sr. presidente da República eleito e sua comitiva”. A justificativa dos gastos foi assinada pelo administrador da residência.

Um dia antes, porém, o chefe de gabinete do presidente eleito já havia solicitado o envio de 15 refeições, ao meio-dia do dia 21, para a sala de reuniões do gabinete de transição no CCBB. O menu trazia mignon recheado com brie e risoto de rúcula com tomate seco e salmão grelhado com batata corada e arroz negro com amêndoas laminadas.

No dia 26, uma extensa lista de compras para a residência oficial “para atender às demandas do presidente eleito e equipe de apoio” incluía 6,5 quilos de filé mignon e 4,5 kg de picanha. No dia seguinte, foi servido jantar na Grande do Torto – caldinho de legumes com alho poró, rosbife com batata corada no forno com alecrim e salmão grelhado com alcaparras e arroz à grega. Nada parecido com o pão com leite condensado que Bolsonaro comeu durante a campanha.

Já no dia 27 de novembro, a despensa do Torto foi encorpando. Chegaram 7,5 kg de salmão e 5,5 kg de pescada amarela, em meio a compras normais de mercadinho. No mesmo dia, foi servido almoço para o presidente eleito e mais 18 pessoas no CCBB. Comida simples: frango surpresa ao molho agridoce com purê de batata e filé de badejo com alcaparras salteadas na manteiga. No dia seguinte, mais um almoço para o presidente e 18 pessoas, dessa vez na residência oficial.

Pratos preparados com sofisticação

Bolsonaro almoçou e jantou no Torto no dia 4 de janeiro. O cardápio foi de filé de frango à parmegiana com farofa de cebola e bacon refogado no açafrão a pescada amarela grelhada no alho dourado. Teve também filé mignon ao molho rústico com risoto de rúcula com tomate seco. Tudo do bom e do melhor. No dia seguinte, chegou mais reforço para a despensa: 11 kg de lombo suíno, 18 kg de filé mignon, 10 kg de salmão, 4 kg de linguiça e um espeto para churrasco.

Naquele mesmo dia, o almoço tinha lombo suíno assado ao molho cítrico de laranja com farofa crocante de cebola refogada no açafrão. No jantar, tinha picadinho de filé na ponta de faca com polenta e salmão grelhado com raspas de limão siciliano, acompanhado de batata noisette salteada na manteiga. O paladar do presidente ia ficando cada vez mais refinado.

As compras continuavam chegando no início de dezembro – mais 5 kg de bacon, 6 kg de picanha, 9 kg de bacalhau, 24 kg de pescada amarela, 26 kg de filé mignon e uma garrafa de Cointreau. No dia 19 de dezembro, aconteceu um jantar para 40 pessoas na Granja do Torto. Os pratos principais foram filé mignon ao molho de vinho do Porto e pescada amarela com raspas de limão siciliano. Tudo incluído nos gastos de Bolsonaro no cartão corporativo.

"Chá de panela"

O presidente eleito foi se acostumando com as compras feitas com cartão corporativo, não apenas com alimentos. Houve uma espécie de “chá de panela”, com a compra de ralador, boleiro, peneira de aço, várias frigideiras para tapioca, suporte para filtro de café. A nota fiscal informa que uma omeleteira custou R$ 70. Duas frigideiras revestidas de cerâmica custaram R$ 100 e R$ 130. O preço da petisqueira chegou a R$ 200. O presidente não pagou do próprio bolso nem os três repelentes de insetos, no valor total de R$ 47.

A família Bolsonaro também tinha o hábito de tomar café da manhã e da tarde com pães da confeitaria Belini, uma das mais tradicionais de Brasília.

A maior parte do detalhamento de gastos, por meio de notas ficais, mistura despesas da residência da Granja do Torto e dos Palácios do Jaburu e Alvorada. Isso impossibilita checar valor dos alimentos adquiridos para atender às necessidades da residência onde Bolsonaro estava hospedado.

“Vou abrir o sigilo”

Em nome da transparência, o presidente afirmou, em 8 de agosto, que tornaria público os próprios gastos no cartão corporativo. “Eu vou abrir o sigilo do meu cartão. Para vocês tomarem conhecimento quanto gastei de janeiro até o final de julho. Ok, imprensa? Vamos fazer uma matéria legal?".

Ele acrescentou: “Agora, gostaria que a imprensa fizesse uma matériazinha com meu gasto com cartão corporativo. Não vou falar quanto gastei, não, está desafiada a imprensa. Vou com vocês, na boca do caixa, digito a senha e vai aparecer todo meu gasto com cartão corporativo", ressaltou. O gesto não passou de uma fanfarronice. Assista abaixo!

Bolsonaro não explicou que não é o próprio presidente da República, com o seu cartão pessoal, que paga as despesas feitas nos supermercados, padarias, açougues. Essas despesas são pagas por servidores da Presidência. Se quiser mesmo ser transparente e mostrar como são pagas as suas despesas pessoais, ele terá que quebrar o sigilo de todas as despesas feitas com cartões corporativos pela Secretaria de Administração da Presidência. Mas o presidente sabe que não pode fazer isso. Estaria descumprindo a lei.

A Presidência entende que a divulgação desses gastos, seja com alimentação, hospedagens, aluguel de carros, etc, representa uma ameaça à segurança do presidente, do vice e de seus familiares. Por isso, são mantidos em sigilo. Mas, na verdade, escondem uma série de mordomias concedidas ao mandatário da nação.

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