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O ex-presidente Lula
Alto consumo de bebidas alcoólicas chama a atenção nos gastos com cartão corporativo quando Lula era presidente da República.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

O fim do sigilo sobre os gastos com cartão corporativo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou alguns hábitos de consumo da presidência durante o governo do petista que incluíam cachaça de R$ 390 a garrafa, uísque envelhecido e vodka Absolut, além de carnes como picanha especial, filé mignon, bacalhau e muita rabada – o prato predileto dele. Tudo comprado com dinheiro público.

Reportagem publicada pelo blog no dia 5 de outubro mostrou que, no governo Dilma Rousseff, as compras para o Palácio da Alvorada também incluíam cachaça, vinhos, carnes raras e camarão de R$ 230 o quilo. Ela também alugou uma lancha por R$ 30 mil para passear no carnaval de 2012. Todos os valores citados na reportagem foram atualizados pela inflação.

O sigilo das compras com cartão corporativo é mantido até o final do mandato para proteger a segurança do presidente da República e de seus familiares. O blog solicitou ao Palácio do Planalto, por meio da Lei de Acesso à Informação, em 7 de agosto, o acesso a todos os documentos que registram as despesas de Dilma, Lula e Michel Temer. Após um longo processo de autorização, os arquivos – em meio físico – foram abertos e analisados pela reportagem nas dependências da Presidência da República nos últimos 15 dias. Os gastos de Lula chamam atenção pelo alto consumo de bebidas alcoólicas.

Cachaça e uísque 12 anos: passa no cartão corporativo

No dia 19 de fevereiro de 2010, as compras na Casa do Vinho para atender às necessidades do Alvorada incluíram 6 garrafas de vodka Absolut, 6 de uísque Johnnie Walker Black, 6 de cachaça Havana – por R$ 400 a unidade – e mais 18 garrafas de vinho. A conta fechou em R$ 5 mil. Quatro dias mais tarde, a compra de 12 garrafas de uísque e 3 vodkas foi destinada à Granja do Torto, residência do presidente da República.

Nova compra foi realizada em 22 de março de 2010, na mesma loja. Foram mais 7 garrafas de uísque, 6 de vodka e 5 de cachaça Anísio Santiago – também por R$ 400 –, produzida na Fazenda Havana, em Salinas (MG), com envelhecimento de 12 anos. Mais R$ 4 mil na conta do contribuinte. Em abril, novo reforço de 6 vodkas, 6 uísques, 6 espumantes proseccos e 4 cachaças Anísio Santiago, num total de R$ 3,8 mil.

Bacalhau dessalgado, picanha, rabada

As compras feitas nos governos de Lula e Dilma tinham os mesmos endereços, com poucas variações. Mas cada um tinha as suas preferências, ou extravagâncias. No início de março de 2010, foram gastos R$ 7,7 mil com 42 quilos de filé mignon, 14 kg de picanha, 6,5 kg de linguiça ouro, 2,6 kg de bife ancho e 1 kg de bife de chorizo – peças muito usadas em parrillas – na Confraria da Carne. Na Distribuidora de Carne Morro Redondo foram comprados mais 25 quilos de costelinha suína, além de outras peças mais simples. O destino de toda essa carne era a despensa do Palácio da Alvorada.

No Mercado Municipal, foram adquiridos 22 quilos de bacalhau dessalgado em março. Mais 8 quilos de lombo de bacalhau foram comprados na loja La Palma. Na Kalamares, foram buscar 3 quilos de camarões e 8 de coxa de rã. Na Peixaria do Guará, o preço do camarão custou R$ 172. A sofisticação foi mantida na Saborela, onde foram adquiridas 2 latas de azeite de trufa Truffol, a R$ 124 a unidade; e queijo holandês, por 163 o quilo.

Para a sobremesa, sorvete Cariri, a R$ 120 o quilo; e 243 sorvetes. Teve também bolo de três quilos com pasta decorada  e 200 bombons por R$ 790.

Os churrascos da Granja do Torto

Havia ainda a despensa da Granja do Torto, local mais apropriado para jantares e churrascos mais descontraídos. No final de janeiro de 2010, a residência presidencial recebeu 17 quilos de filé mignon, 9 kg de rabada e 11 kg de bacalhau – a R$ 190 o quilo –, tudo comprado na Confraria da carne. Em 25 de março, um reforço de 17 kg de filé mignon e 10 de rabada, adquiridos na Reisman. No dia 6 de abril, foram comprados mais R$ 59 quilos de filé mignon, 10 quilos de coelho inteiro e 10 quilos de rabada bovina, tudo na mesma loja. Tudo pago com cartão corporativo da Presidência.

Para atender a todos os gostos, chegaram ainda 25 quilos de lombo de bacalhau do Mercado Municipal, comprados por R$ 170 o quilo. No La Palma, o preço do lombo de bacalhau chegou a R$ 185 o quilo. Na Peixaria do Guará, foram comprados ainda 6 quilos de camarão rosa GGG por R$ 170 o quilo. E não poderia faltar a coxa de rã – mais 10 quilos. Para a sobremesa, 2 quilos de sorvete de tapioca por R$ 119 a unidade.

Viagens, filhos, ex-presidentes

Na próxima reportagem, o blog apresentará as despesas pagas com cartão corporativo nas viagens nacionais e internacionais. Nos eventos locais, é necessária a mobilização de um grande contingente de seguranças, policiais e até militares, o que resulta em gastos com transporte, alimentação e hospedagem.

Na gestão de Dilma, aparecem relatórios de despesas dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), além de gastos com os familiares dos presidentes durante os seus mandatos.

O cartão de pagamento do governo federal é um cartão de crédito criado para pagar despesas eventuais de pequeno valor e também compras em caráter sigiloso. Podem comprar quase tudo, como alimentos, combustível, passagens aéreas, medicamentos, material para construção, material impresso, etc.

Cartão foi usado em "recepções a chefes de Estado”

A assessoria de Lula foi informada sobre o conteúdo dessa reportagem, que revela compras feitas sob sigilo com cartão corporativo para atender às necessidades do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto, tais como camarão GGG, bacalhau dessalgado, picanhas, bife ancho, rabada, além de bebidas como uísque 12 anos, vodka Absolut e cachaça Anísio Santiago. O blog questionou em quais jantares, eventos, reuniões eram servidos esses alimentos e bebidas, e o que era destinado ao consumo pessoal do então presidente Lula.

A assessoria do Instituto Lula respondeu que “o mandato foi cumprido de acordo com a lei, sem nenhuma tentativa de extensão ou busca de nova reeleição. O governo fazia inúmeros eventos e recepções a chefes de Estado e autoridades estrangeiras, que na época, diferente de hoje, visitavam bastante o Brasil. Tais eventos constam da agenda da presidência da República, que era e continua sendo pública e também pode ser consultada pelo repórter”.

A nota enviada pela assessoria acrescenta: “Em 2010 Lula concluiu o segundo mandato de presidente da República, para o qual foi democraticamente eleito pela população brasileira. Tinha 87% de aprovação no final do mandato [foi enviado link para reportagem sobre o tema], o Brasil cresceu 7,5% naquele ano, o país tinha grau de investimento e excelente imagem no mundo. O mandato foi cumprido de acordo com a lei, sem nenhuma tentativa de extensão ou busca de nova reeleição”.

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