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O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, na final da Libertadores entre Palmeiras e Santos, no Maracanã.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, na final da Libertadores entre Palmeiras e Santos, no Maracanã.| Foto:

“Extremista! Antidemocrático! Terraplanista! Desrespeitoso! Desonrado! Desastroso! Sem-vergonha! Vassalo!” Tudo dito num fôlego só, com exclamações. Ataca-se a pessoa, já que não dá para atacar seus argumentos, contra-argumentar. Xingamentos não vencem fatos. Quase sempre, desqualificam quem os profere. São como balas de festim contra um alvo. Um bumerangue que não volta suavemente à mão do lançador, mas o atinge na fronte com violência. Pobre de quem xinga, este ser sem equilíbrio.

“Negacionista!” Ele grita, grita de novo. “Como ousa não aceitar minha narrativa?” “Quero sua cabeça, seu antidemocrático!” Aos olhos de quem xinga, negacionista, mil vezes negacionista. Não desses que enxergam o sol girando em torno da Terra, que não veem 6 milhões de judeus mortos por nazistas... Negacionista só porque o grupo que se apropriou da ciência quer. Esse pessoal que não sabe fazer as quatro operações matemáticas e que não compreendeu o correto, o plural: ciências!

Negacionista é quem nega que as taxas de transmissão e de mortalidade cresceram e diminuíram com e sem lockdown, é quem nega aos outros o direito ao trabalho, a ganhar o pão de cada dia

Eles têm memória curta e, vejam só, negam. Tente fazê-los admitir que o isolamento horizontal, o confinamento, o lockdown, chame como quiser, nos foi proposto há praticamente um ano para “achatar a curva”. Quem há de negar? Era para evitar que muitas pessoas fossem contaminadas pelo novo coronavírus ao mesmo tempo, para que o sistema de saúde pudesse se preparar... Eles não podem negar que têm apreço pela medida e que agora nos impõem as restrições como se fossem uma vacina.

Quem é negacionista? É quem nega que as taxas de transmissão e de mortalidade cresceram e diminuíram com e sem lockdown. É quem nega que as pessoas se contaminam mesmo trancadas em casa, embaixo da cama. É quem nega que bares e restaurantes, que o comércio em geral, cumprindo todo o protocolo, não têm culpa no cartório. É quem faz questão de não lembrar o estupefato governador de Nova York diante de pesquisa indicando que dois terços dos infectados pelo novo coronavírus no estado tinham se contaminado em casa.

Negacionista é quem nega a médicos, mesmo que com a concordância de seus pacientes, o direito de decidir pelo tratamento precoce, seja ele qual for. E, principalmente, negacionista é quem nega aos outros o direito ao trabalho, a ganhar o pão de cada dia. Se ele fecha tudo, se tranca tudo e vai para Miami, para o estádio de futebol, podemos chamá-lo também de hipócrita.

Xingamento? Não, um pouco de compaixão... E as “incertezas sobre a vida”? Era a final do principal campeonato da América Latina. Ele tinha esse direito, não tinha? Nós, tratados como negacionistas, não temos. Era um sonho dele, do filho. Não importa que insistam em nos negar a realização dos nossos sonhos, não importam os sonhos, os desejos de todos os filhos daqueles que perderam o emprego, que estão sem renda. Somos mesmo negacionistas, insensíveis e ingratos: negamos que há políticos fazendo de tudo para nos proteger e salvar.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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