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Imagem ilustrativa.| Foto: Pixabay

Olhem que lindo esse trecho de uma carta do Lênin escrita em agosto de 1918 em meio à guerra civil, após o golpe de outubro de 1917 – a fonte é a biografia do Lênin escrita por um general soviético e historiador, Dmitri Volkogonov:

"Camaradas! O levantamento kulak (camponeses ricos) deve ser esmagado sem piedade [...] Deixem-me exemplificar:
1) Enforquem um número não menor que cem [...]
2) Escrevam seus nomes [...]
3) Confisquem seus cereais [...]
4) Façam de modo a que, ao longo de centenas de quilômetros, as pessoas possam ver, saber, tremer e apregoar: eles matam e continuarão a matar [...]
Cumprimentos, Lênin."

Imagino um woke lendo isso. Faria xixi nas calças orgânicas.

Você não sabe o que é um woke? Um woke é uma pessoa muito bacana. Um seguidor da Greta Thunberg.

A expressão significa "acordou" do verbo "to wake" (acordar). Mas, ao longo do tempo, acabou por ser uma expressão usada para a esquerda cultural, oriunda da máxima "stay woke".

A ideia de desperto, como alguém que despertou para a verdade, é antiga e era usada pela heresia gnóstica cristã no início da era comum ou cristã. Os gnósticos eram homens e mulheres que achavam que o mundo fora criado por um deus mau e a única saída era fugir das cidades e ir morar no deserto. A fuga do mundo.

Críticos os acusavam de matar bebês para não aumentar os números das vítimas desse deus mau e de fazer sexo antinatural – leia-se anal e oral – para não engravidar as mulheres.

Não suponho que os wokes de hoje tenham a mínima ideia do que seja um gnóstico antigo. Eles foram perseguidos sistematicamente pelo que veio a ser o cristianismo oficial.

Os wokes estão ocupados em fazer geleia natural e em ensinar as crianças a amar todas as cores do arco-íris. Não conseguem lidar com coisas de gente grande.

Exemplos da agenda woke: casais em que os homens são egressos das novas masculinidades e que sofrem de depressão pós-parto, coitadinhos; pessoas que falam "pessoas que dão à luz" porque mãe não é termo inclusivo; que usam combustível vegano, e têm cachorros trans.

A verdade é que o cruel Lênin os teria considerado mais uma degeneração burguesa e mandaria enforcá-los com gosto. Mas temos que reconhecer que as realidades humanas são históricas e, portanto, pautas que eram queridas aos bolcheviques – gente que nasceu no século 19! – não podem ser, evidentemente, queridas por alguém que vive no século 21, né?

Na época, os bolcheviques queriam destruir o capitalismo, a esquerda de hoje é um fetiche cultural para filhos da elite que brincam de fazer documentários sobre pobres e para suas mães, que brincam de espiritualidade oriental, enquanto seus pais continuam sendo burgueses de sucesso.

A verdade é que não há mercado para bolcheviques hoje em dia, só para wokes.

Lênin e sua patota matavam a rodo. Em meio à fome de 1918, junto com seu Politburo (comitê central do partido comunista da extinta URSS), ele chegou mesmo a recusar dar grana para crianças que morriam de fome, enquanto encaminhava joias para financiar a revolução na Europa.

Para ele, de nada adiantava gastar dinheiro com crianças em meio a tantas mortes, mais importante era alimentar a revolução na Europa. O que um woke fofo diria disso?

Minha hipótese é que o mercado engoliu a esquerda.

Não é à toa que uma das pautas mais importantes para os wokes – ser os inquisidores do politicamente correto – atravessou as fronteiras ideológicas e hoje alimenta os departamentos de marketing das empresas. A esquerda de hoje é um fetiche cultural, algo que cabe num comercial de banco.

Mas será que a justificativa de mudança histórica se aplica ao método revolucionário bolchevique em si?

O argumento da mudança histórica só se aplica à recusa da violência revolucionária bolchevique porque, na verdade, o espírito revolucionário atrofiou, e não porque a esquerda evoluiu. A humanidade não evolui moralmente.

Ninguém mais quer acabar com o capitalismo. Quer, sim, achar um nicho de mercado para chamar de seu: e que seja com todas as cores do arco-íris, esteja repleto de amigues e com iPhones aos montes.

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