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Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Embate entre STF e Congresso

Centrão e seus vereadores federais

Câmara dos Deputados. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Nas últimas semanas, temos visto intensificar o embate entre STF e Congresso Nacional. Infelizmente, o debate se apequenou e leva em conta apenas o lado monetário - quem fica com o dinheiro e quem controla o dinheiro de quem. De um lado o STF, sob o pretexto de querer mais transparência nas emendas, quer ajudar o governo a centralizar mais o orçamento nas mãos da agenda do governo; de outro, o Congresso, liderado pelo Centrão, sempre pedindo mais dinheiro para seus parlamentares.

Ou seja, são duas entidades distintas motivadas por intentos espúrios, digamos, não republicanos. O Executivo não deveria centralizar política pública nem direcionar o orçamento sem respaldo da representatividade e da agenda do legislativo; e o legislativo não deveria estar lutando por mais controle do orçamento só para direcionar mais recursos em emendas individuais dos parlamentares. As duas entidades agem em disfunção.

Essa discussão deve levar em conta que 90% do orçamento federal já está comprometido com despesas obrigatórias, contempladas em constituição, portanto, a briga é por uma pequena parcela do orçamento, mas ainda assim consiste em dezenas de bilhões de reais.  Diante da sanha orçamentária que se apresenta, em que lado devemos apostar?

Congresso deveria assumir 100% do orçamento: Em toda democracia representativa do ocidente o orçamento é do Congresso, em países presidencialistas; ou do Parlamento, em monarquias e repúblicas parlamentaristas.  

Mas por que isso é importante? Toda discussão orçamentária deve ocorrer à luz do debate público, levando em conta diferentes regiões e bancadas e temas que estão representados somente no Congresso Nacional. E também porque, ao final das contas, os recursos federais vêm de todo o Brasil. 

Seguindo o princípio de que “taxação sem representação é tirania”, a opinião pública deve ser representada na sua totalidade, na Câmara e no Senado, e não na minoria que ocupa o Poder Executivo. Este tem a soberania de executar o que o Congresso Nacional determina em diretrizes orçamentárias. Ele pode sugerir, pode fazer contrapontos, mas a dotação deveria ser do Congresso. 

Tratantes: em função da disputa de um orçamento que está nas mãos do Poder Executivo, Câmara e Senado hoje só elegem seus presidentes para negociar apoio ao Governo Federal. 

Essa pequena parcela de orçamento é a moeda de troca. Em vez de representar a agenda do Legislativo, os presidentes de Câmara e Senado são meros tratantes. Note como todo o sistema ficou corrompido pelas emendas individuais.

O resultado absurdo é que o Parlamento deixa de exercer sua função principal, entrega sua soberania legislativa para o governo, em troca dessa parcela ínfima de orçamento que o governo comanda

Se o congresso controlasse 100% do orçamento, não haveria necessidade de comprar deputados nem bancadas, pois transferiria para o Congresso toda a discussão sobre a destinação de verbas e o Executivo ficaria encarregado somente de executar - a função descrita pelo próprio nome. 

Isso é parlamentarismo? Não. Lembramos que o Congresso norte-americano já tem essa competência, e assim se estabelece a relação entre Congresso e Presidência; no caso do Brasil, essa mudança melhoraria o sistema presidencialista, desobrigando o governo de sempre buscar recursos para fechar a conta.

O Poder Executivo poderia ficar somente com a arrecadação enquanto que a dotação orçamentária ficaria com o Legislativo. Hoje, o Poder Executivo arrecada, define para onde vão os recursos e compra o Congresso para aprovar seus planos. Péssima situação.

Como ficaria o orçamento nas mãos do parlamento? Já existem as bancadas dos estados, representados na Câmara Federal, que fazem as alocações estaduais, e é fundamental que estas sejam proporcionais e dentro do contexto do Congresso. Também há demandas temáticas, como as de Defesa, Segurança, Saúde, Educação, e várias comissões especializadas para discutir assuntos estratégicos. Dessa forma, teríamos uma dinâmica de defensoria temática muito qualificada de parlamentares inseridos nesses setores. Isso não inibe os Ministérios da Defesa, da Saúde, da Educação e outros de participarem das discussões do Congresso. 

As emendas individuais não precisam existir nesse cenário, pois se o Congresso é responsável por 100% do orçamento e os recursos federais, seguem alocações proporcionais às regiões e, tocante à importância dos temas, não há como favorecer um ou outro parlamentar de forma desigual, uma vez que o processo segue o rito de debate aberto em comissão. Diante do atual quadro, o governo pode alocar sem pudor para grupos e regiões que visa favorecer de forma desproporcional, ou seja, criminosa.

Vereadores federais: é preciso eliminar por completo o instituto das emendas individuais. Elas não são positivas, pois transformam um parlamentar em vereador federal. Hoje a maior parte dos deputados federais são exatamente isso: vereadores federais, efeito desagradável dessas emendas. 

São deputados e senadores que não querem propor legislação, nem fiscalizar o Poder Executivo, e desejam só barganhar com esse governo para ganhar mais emendas e enviar para prefeitos e cabos eleitorais locais - seja para executar obras que seriam da competência de estados e prefeituras, ou comprar apoio político descaradamente. Isso sem mencionar esquemas de “rachadinhas” e “rachadonas”.

Pode piorar? Existe agora no Congresso um assunto em pauta: criar emendas de partido, o que deve ser extremamente destrutivo, pois esfacela completamente a agenda legislativa, gerando toda sorte de ineficiência e duplicidade nas alocações orçamentárias. 

Esse novo formato beneficiaria líderes partidários e facilitaria acordos do Poder Executivo diretamente com os caciques dos partidos, que poderiam atuar como intermediários dos interesses governamentais.

O jogo está muito claro: alinhar interesses sem passar pelos deputados, acessando ou comprando diretamente as lideranças, o que já ocorre. 

Falta incentivo para o bem e sobra para o mal: todo deputado e senador eleito se depara com o dilema moral entre vender seu voto ao Poder Executivo ou se manter fiel ao eleitor.  O Congresso não é incentivado a melhorar o estado de direito, a fiscalização e os freios e contrapesos. Também não é incentivado a assumir cada vez mais o protagonismo de uma agenda própria. Ao contrário, o Congresso, nos últimos 30 anos, tornou-se mero carimbador do plano do governo – por um preço, é claro. 

Acabar com emendas individuais, assumir controle do orçamento, alocar proporcionalmente o erário por bancada e por tema de comissão, são medidas que apontam o caminho para o legislativo assumir de fato sua soberania.  

O processo começa na eleição do presidente da Câmara e do Senado. Dependendo das escolhas, teremos mais dois anos de vereadores federais que pouco se importam se seu voto irá ajudar a criar uma ditadura. Se nossas escolhas forem idôneas, teremos a chance de criar um Congresso de verdade. Milagres acontecem.   

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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