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Ciência derruba boato: coronavírus NÃO foi feito em laboratório
| Foto: Unsplash

Não foram só as tias do WhatsApp que ficaram desconfiadas, os cientistas também ficaram de orelha em pé com a história obscura sobre a origem da epidemia de coronavírus em Wuhan, na China. Difícil acreditar em qualquer narrativa criada pelo Partido Comunista Chinês, ainda mais diante de fatos que nos deixam a sensação de algo errado no ar.

Houve o médico que primeiro denunciou a contaminação e depois foi obrigado a desmentir, vindo a ser uma vítima fatal da pandemia. Há diversas suspeitas de que a informação não circulou livremente e a recente decisão de expulsar jornalistas norte-americanos do país também deixa a impressão de que há algo a esconder. Pouco adianta, no entanto, tentar especular sobre o que seria o grande mistério sem ter informações e fatos para analisar.

Cientistas de 5 instituições diferentes dos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália se uniram para rastrear o RNA do vírus e verificar se há alguma possibilidade de ele ter sido criado artificialmente. Concluíram que não há.

Participaram do Estudo: Kristian G. Andersen, do Scripps Research Translational Institute, instituição especializada em genoma na Califórnia; Andrew Rambaut, do Instituto de Biologia Evolucionária da Universidade de Endimburgo, no Reino Unido; W. Ian Lipkin, do Centro para Doenças Infecciosas e Imunidade da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos; Edward C. Holmes, do Instituto de Doenças Infecciosas e Biosseguridade da Universidade de Sydney, na Austrália e Robert F. Garry, do Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade de Tulane, nos Estados Unidos.

Por que é importante para a ciência entender exatamente como um vírus responsável por uma pandemia surgiu? Essa informação é essencial para evitar novas infestações da mesma dimensão no futuro e ela precisa ser exata.

Há mais de 5 mil variações de coronavírus já identificadas pelos cientistas. Há 30 anos há trabalhos científicos apontando a possibilidade de que vírus transitassem entre receptores sem necessidades de grandes mutações. Isso efetivamente aconteceu com a epidemia de SARS em 2002 e 2003. Desde então, os cientistas têm tentado buscar vacinas e remédios para essas famílias de vírus e uma das formas é fazer modificações artificiais. Exatamente por isso eles sabem identificar a diferença entre mutações naturais e artificiais.

O estudo publicado na revista científica Nature mostra os pontos específicos de diferença entre dois tipos de coronavírus humanos, sendo um deles o da pandemia atual e aqueles muito semelhantes a ele encontrados no pangolin e no morcego. A intenção é descobrir se as mutações de um para outro coincidem com as já feitas anteriormente ou com os protótipos para mutações laboratoriais que existem.

Desse modelo, analisado tanto pelos cientistas quanto por computadores, a conclusão é que "é improvável que o SARS-CoV-2 tenha surgido pela manipulação laboratorial de algum coronavírus da família SARS-CoV". A primeira evidência analisada é a forma como o vírus entra nas células humanas. Longe de um organismo vivo, o vírus é como um mineral, inerte. Ele utiliza reações químicas para entrar nas células e reprogramá-las, fazer com que elas deixem de se multiplicar para reproduzir novos vírus. Os cientistas dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália avaliaram o estudo feito pelos cientistas chineses utilizando vírus colhido de alvéolos de um paciente com coronavírus em Wuhan.

Nesse estudo se descobriu algo confirmado agora: o RNA do coronavírus do pangolim e do morcego é mais de 90% compatível com o encontrado no ser humano. Eles testaram a hipótese de que o SARS-CoV-2 tenha utilizado o mesmo mecanismo que o vírus da epidemia de 2002-2003 para entrar nas células humanas: a conexão com receptores da enzima conversora de angiotensina, (ACE2), que serve normalmente para regular a função cardíaca. Também desenvolveram modelos matemáticos de quais seriam essas mutações pontuais entre os vírus nos animais e os encontrados nos humanos que tornariam essa conexão possível.

No estudo internacional, a tal conexão foi mapeada e a forma como o vírus conseguiu se conectar com essa enzima humana é diferente e mais eficiente do que o previsto pelos cientistas chineses.

Além disso, os diversos pesquisadores da área, que trabalham com mutações reais e modelos matemáticos de mutação genética da família dos coronavírus conhecem inúmeras "espinhas dorsais" utilizadas com sucesso para fazer mutações em pesquisas ou até em projeções teóricas. O estudo afirma que "se tivesse havido manipulação genética, seria usado algum dos inúmeros sistemas de genética reversa para betacoronavírus. De qualquer forma, os dados genéticos mostram de maneira irrefutável que o SARS-CoV-2 não é derivado de nenhuma 'espinha dorsal' de vírus já usada previamente".

O estudo aborda a hipótese de haver algum vazamento indevido de vírus de laboratório ou de animal utilizado em experiências e, por meio de mutações se ter chegado à cepa atual. Ela foi descartada.

Embora seja um questionamento pertinente, já que há décadas são estudados os coronavírus e, em 2014, o governo dos Estados Unidos chegou a fechar alguns laboratórios e paralisar estudos por medo de que mutações fugissem do controle, o resultado não foi verificado pelos cientistas. Eles analisaram a semelhança genética entre este vírus de agora e os analisados nos estudos anteriores. Concluíram que não há relatos de semelhança genética suficiente.

O estudo projeta 2 hipóteses diferentes para a adaptação do vírus:

1. Seleção natural no receptor antes de ser passado ao ser humano

Alguns vírus sofreram essa pequena mudança necessária para conectar com o ACE2 ainda no corpo do animal e, então esses animais tiveram contato com humanos e passaram o vírus diretamente.

2. Seleção natural nos humanos depois da transmissão pelos animais

Os seres humanos receberam os vírus dos animais quando ainda não eram capazes da conexão da forma correta e eles sofreram uma pequena modificação já no corpo humano e passaram a ser

As pesquisas sobre este vírus específico, o SARS-CoV-2, estão só começando. É fundamental saber o máximo possível sobre o vírus porque pandemias com transmissão pelo ar sempre exigem muitos esforços da humanidade. Quanto mais conhecemos, mais rápido encontramos tanto remédios quanto vacinas.

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