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“O público norte-americano está mais alinhado com a Marcha pela Vida do que com a Marcha das Mulheres quando o assunto é aborto” | Pixabay
“Pelas duas vidas – Pela vida do bebê e Pela vida da mãe”, esse é o tema da 13ª edição| Foto: Pixabay

Falar em valores e respeito é algo totalmente fora de moda em alguns contextos, mas decidi que vale a pena na data de hoje. Desde 2015, 19 de junho é o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Sexual em Conflito. O estupro é utilizado no mundo todo como arma de guerra, principalmente contra civis. Enxergar essa realidade, além de honrar os sobreviventes, nos convida a refletir sobre o nível de humanidade e desumanidade com que aceitamos conviver.

"De como tratamos o corpo de mulher, compreendemos nosso nível de humanidade", diz o Papa Francisco.

Há, no mundo, cerca de 50 conflitos praticamente invisíveis porque esquecemos que eles existem. Nesses, a violência sexual de diversas formas é arma de guerra e, segundo o último relatório da ONU, a situação piora na pandemia porque os civis encontram muitas vezes centros de atendimento de denúncias fechados. Falo aqui de guerras como a Síria, que ainda persiste e às vezes esquecemos, e também de conflitos armados como Iraque, Myanmar, Somália, Afeganistão, Congo, Nigéria e diversos outros países.

A utilização da violência sexual como tática de guerra é tão antiga quanto a humanidade porque ela esfacela a alma humana e tem o potencial de desmontar algo muito poderoso: a célula familiar.

“Nas regiões de conflito, o corpo da mulher torna-se um campo de batalha, porque deste modo não é apenas uma violência contra a mulher ou o menor, mas é destruída também a força de união da comunidade, é colocada em evidência a incapacidade do homem de defender a própria família, é um modo de ofender no íntimo mais profundo”, explica Maurizio Simonelli, um dos especialistas que participou da compilação de dados para o relatório sobre essas violações.

As principais vítimas são mulheres e meninas, mas homens e meninos também sofrem violência sexual como forma de guerra e essa é muito subnotificada, já que o medo da desonra supera muito a vontade de denunciar. Estupros são utilizados por milícias armadas para expulsar inimigos políticos e tomar territórios com muita frequência. Nesses casos, tanto mulheres quanto homens são vítimas, como aconteceu já no Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Burundi e Síria.

Há, além do estupro, outras formas de violência sexual em conflito: abortos e esterilizações contra a vontade da mulher, prostituição forçada e escravidão sexual, além da utilização da mulher como "reprodutora" por milícias ou terroristas.

É comum que algumas pessoas relacionem os crimes sexuais à sexualidade, já que a experiência que elas próprias possuem, como cidadãos corretos, pode levar a essa confusão. Mas, na experiência do criminoso, o sexo não tem a ver com sexualidade, é um jogo de humilhação. Como diferenciar um do outro? O desejo de reciprocidade. Quem sente desejo quer ser desejado, o criminoso quer o prazer de humilhar, subjugar, destruir a humanidade do outro.

Quando pensamos em guerra, obviamente a primeira ideia é a da destruição material, explosões, mortes, penúria. O desespero se instala da alma humana por algo além disso, pela mistura das dificuldades objetivas com a humilhação. Diariamente nas guerras, milhares de pessoas, homens e mulheres, adultos e crianças, são humilhados, zombados, estuprados e temos pouca consciência desse fato e das consequências.

Que a data de hoje também sirva para abrir nossos olhos para o poder que a violência sexual tem na estrutura da nossa sociedade. Se é algo utilizado como arma de guerra, combater como dramas individuais com polícia e juiz não é suficiente. Quando estamos diante de uma arma com potencial de esgarçar famílias e a comunidade, também temos de nos colocar contra ela como sociedade civil.

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