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Como confortar quem sofre durante a pandemia?
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Todos sofremos durante um evento histórico como o que vivemos, sofremos por motivos reais ou pela falta de perspectiva. Há centenas de famílias brasileiras que choram a perda de pessoas amadas, outras tantas as dificuldades financeiras, os sonhos adiados, a incerteza do futuro. Vivemos essas dores coletivamente e sem poder consolar as pessoas da forma que sempre nos acostumamos a fazer.

Uma pandemia como a que vivemos é o caos na Saúde Pública, na Economia, na Educação e também na Saúde Mental. Os profissionais que estão na linha de frente não perderam isso de vista: cuidam dos doentes, trabalham incansavelmente por uma cura e uma vacina e também nos orientam no consolo dos que sofrem.

Não tem como medir sofrimento, como comparar, fazer olimpíada de quem sofre mais. Sofre mais quem perde alguém ou quem vê o negócio da família se transformar em pó da noite para o dia? Sofrimento humano é sofrimento, apenas isso, merece acolhida e solidariedade.

A Fiocruz, Fundação Oswaldo Cruz, ligada ao Ministério da Saúde, centro de excelência que lidera pesquisas sobre o coronavírus, fez um guia para o cidadão comum lidar com as perdas que estamos sofrendo, com foco principalmente na situação de luto.

O documento tem apenas 10 páginas, é de fácil leitura e muito esclarecedor sobre emoções que temos sentido durante este período, embora foque em luto. Traz uma longa explanação sobre a importância dos rituais para a vida humana e não apenas dos rituais religiosos ou que marcam momentos importantes como formaturas e casamentos, dos rituais diários, que sumiram do nosso horizonte de repente. Nele, há 10 dicas práticas de como ajudar pessoas de quem gostamos a lidar com o luto, drama pelo qual muitas famílias brasileiras passam neste momento.

1. Caso não seja possível a presença física, propor estratégias remotas de despedida. Um exemplo é estimular os familiares e amigos a expressarem seu luto com o uso de tecnologias para a despedida, como ligações por vídeo ou mensagens de voz, além das cartas, e-mails e mensagens de despedida ao ente querido;

2. Caso o funeral seja adiado ou realizado num período muito curto, pode-se reservar um tempo para criar um memorial em casa. Uma sugestão seria reservar um tempo olhando as fotografias do falecido, acender uma vela, escrever uma mensagem para ele, seguir um ritual cultural ou espiritual. Caso as recomendações de biossegurança permitam, é possível visitar algum local que traga memórias de conforto e afeto.

3. Organizar um livro de visitas on-line, para amigos e familiares assinarem e oferecerem suas condolências. Os membros da família costumam encontrar conforto ao ler essas mensagens, e tê-las disponíveis on-line facilita olhar para elas quando se sentirem tristes.

Já há organizações da sociedade civil que estão providenciando iniciativas para viabilizar a criação de algo assim, que seja um memorial só para as condolências, longe da poluição das redes sociais. A iniciativa Abraço Digital, lançada pelo Projeto Humanize, é gratuita e pode servir como uma forma interessante de expressar apoio para alguém que sofre com o luto, mas também para pessoas de quem você gosta e sente que precisam de um abraço neste momento.

4. Preparar equipes hospitalares para o contato com os familiares, seguindo orientações claras de atenção e cuidado na comunicação dos óbitos. Este preparo deve considerar o provável quantitativo elevado de mortes por COVID-19 e a atenção também aos profissionais responsáveis por esta comunicação, com indicação de que haja um rodízio dentre eles para evitar a sobrecarga;

5. Celeridade nos processos burocráticos ligados ao sepultamento a fim de evitar mais sofrimentos aos familiares da vítima. Observando as especificidades de biossegurança e as necessidades específicas das famílias enlutadas quanto a seus desejos e significados, possibilitando ao máximo um ambiente acolhedor e o mais seguro possível;

6. Desenvolvimento de rituais fúnebres alternativos, como cultos virtuais, missas virtuais, homenagens virtuais, musicais, fotográficas, entre outras, que auxiliem no processo de despedida, em especial no caso de mortes súbitas. Verificar também a possibilidade de homenagens coletivas a todas as pessoas sepultadas ou cremadas em mesmo local (seja em cada instituição, na mesma cidade, etc), após o término da pandemia;

7. Propor às famílias opções alternativas para o funeral de seus entes, tais como: funerais online – a fim de proteger funcionários, famílias e amigos de aglomerações e possíveis infecções; enterros escalonados, com os familiares sendo solicitados a revezar suas chegadas para manter grupos menores que 10 pessoas e seguir as diretrizes de distanciamento social e higiene;

8. Deve-se também orientar os trabalhadores envolvidos no gerenciamento de cadáveres. É importante cuidar para que estes trabalhadores se sintam seguros na realização de sua atividade e cientes da necessidade de tratar a pessoa falecida com dignidade durante todo o processo, garantindo o respeito pelos familiares sobreviventes;

9. Fortalecimento das redes religiosas e/ou espirituais do falecido e dos enlutados. Possibilitar contato virtual enquanto não é possível presencial, com líderes religiosos importantes para a família e que sejam significativos para esse momento;

10. Atenção da rede socioafetiva às pessoas em processo de luto. Caso alguém perceba que um familiar, ou amigo, está encontrando dificuldade em lidar com a situação, busque ajuda junto a outras pessoas, sejam profissionais de atenção psicossocial, sejam líderes comunitários, religiosos, ou mesmo dentro da própria rede. O fundamental é reconhecer seus limites e pedir ajuda quando esta se faz necessária.

O documento deixa claro que não há uma ordem certa de fazer as coisas ou o que deve ser feito exatamente porque cada um vive o luto de uma maneira diferente. O importante é reconhecer que se trata de uma emoção humana importante, presente em muitas famílias no momento.

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