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Como reverter o aparelhamento político da arte no Brasil?
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Difícil definir com precisão o que é arte, dada a sua ligação estreita com a alma humana. A origem da palavra remonta a técnica, habilidade. Qualquer seja a linha filosófica que você prefira utilizar para analisar a arte, é fato que ela mexe com as emoções humanas e tem sido importantíssima durante toda a história da humanidade.

Política e arte são importantes. Artistas têm todo o direito de fazer manifestações políticas, mas aqui falamos de algo muito diferente: a redução da manifestação artística às pautas políticas.

"A arte, quando é aparelhada para a política, dá filme médio, porcaria, não é bom, não é saudável. A gente tem de saber de que a arte vai além da política, não pode ficar presa nessas pautas, estamos viciados em política, cansamos porque viciou. Todo mundo ficou viciado." - diz o roteirista Newton Cannito, criador do concurso "Histórias para Unir o Brasil.

O concurso vai pagar até R$ 60 mil para quem produzir uma história de ficção que tenha a capacidade de unir por meio de valores humanos pessoas que se dividiram pela política. Podem participar todos que tenham uma história para contar, independentemente da experiência. Os organizadores estão dispostos até a dar aulas de roteiro. A história considerada mais promissora terá seus direitos comprados por R$ 8 mil e receberá outros R$ 52 mil caso se concretize a realização de uma série com base naquele argumento.

Confira frases da entrevista de Newton Cannito:

"Acho que a gente cansou de brigar, a gente não é de brigar. A gente sempre foi de zombar, de tirar um sarro, de fazer um bullying até saudável, mas a gente nunca foi de brigar mesmo assim. Essa coisa de ficar meio psicopata, acreditando demais de um lado ou do outro. Que é isso gente?"

"A pessoa pode até estar sendo burra, idiota, você pode até achar isso. Mas, nossa, é uma pessoa gente boa, cuida da família. Tem de ter um mínimo de recuperação dessas coisas, senão a gente fica doido. Eu acho que a arte tem um papel e um dos motivos desse concurso é ajudar as pessoas a criar arte que não seja tão aparelhada."

"A arte brasileira foi bastante aparelhada. A gente tem um certo consenso na classe, que eu até concordo com certos valores, mas é um consenso excessivo: não é possível que toda uma categoria concorde com uma ideia."

"Todo mundo está muito ativista. Então realmente a gente tem de recuperar a arte irresponsável. Se nem o artista pode ser irresponsável, então quem pode ser? É importante recuperar uma certa brincadeira, o espírito lúdico, multiplicar pontos de vista."

"Eu acho que as histórias ajudam nisso, sair da razão. Essa história de ficar só em opinião, opinião, opinião, minha opinião está certa ou está errada. Sai dessa vibe e vê o ser humano, tira um sarro dele, brinca com ele, aprende a contar uma história sobre o que está te incomodando."

"Se não tivermos um pouquinho de calma e vibração para manter valores humanos, de amor e caridade, a gente está ferrado, gente. Não pode ficar achando que só porque a pessoa não concorda politicamente com a gente não é ser humano."

O roteirista Newton Cannito se diz bastante otimista com a perspectiva de recuperar a importância da arte para a alma do brasileiro. Lembra das nossas tradições profundas, como os "causos" dos caipiras. A arte liberta a alma humana. Chegou a hora de libertar a arte dos limites da militância política.

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