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Ele reclamou que a filha foi estuprada na escola e acabou preso por transfobia
| Foto: BigStock

Dias atrás, um vídeo mostrou o desfecho mais grotesco de reunião de pais e mestres que já vi. E olhem que eu sou escolada, pouca coisa me surpreende nesses encontros. Na pacata Loudoun, no estado da Virgínia, um pai foi retirado da escola algemado pela polícia e o vídeo viralizou. O que um pai pode ter feito para sair desse jeito de lá? Era o debate sobre a política das escolas da região para transgêneros.

Bom, é um Estado conservador, talvez o homem fosse preconceituoso demais. Mas o que teria de fazer para sair algemado? Ele denunciou que a filha foi estuprada no banheiro da escola por um rapaz que usa saia. Descobriu-se agora que ela nem foi a primeira, ele já era investigado por estuprar outra menina em um banheiro escolar feminino. Preso até agora só o pai, acusado de transfobia por uma militante feminista que vociferou não acreditar na filha dele, teria mentido sobre o estupro.

Transfobia existe? Existe, infelizmente. Há pessoas que matam transexuais pela sua condição. O problema da militância é também chamar de transfobia toda vez que se contraria as vontades de alguém autointitulado representante dos transexuais. Na maioria das vezes são pessoas heterossexuais e cis, adeptas de um gosto peculiar para cores de cabelo e parte de um grupo que precisa provar toda hora que é muito melhor que os outros. Experimente contrariar um desses, já apontam a pessoa como transfóbica.

Obviamente todos sabem que a pena para transfobia imaginária, como reclamar que sua filha foi estuprada no banheiro da escola, é acabar com a vida da pessoa, mas fazendo pior que cadeira elétrica. Scott Smith foi difamado pela Associação Nacional de Conselhos escolares como "terrorista doméstico". O terrorismo que ele cometeu foi perder as estribeiras e começar a gritar com uma militante de esquerda usando uma camiseta de arco-íris de coração. Ela gritou primeiro, dizendo que a filha de 14 anos de Scott mentiu sobre o estupro.

Criar regras de uso de banheiros para pessoas trans é um desafio enorme porque abre brechas a serem usadas por criminosos, não pelas pessoas trans. Já houve um caso incendiário nos Estados Unidos em que um homem condenado por estuprar crianças em banheiros alegou ser trans depois de sair da cadeia e reincidiu. Por outro lado, pense se daria certo mandar a Roberta Close usar um banheiro masculino. Também correria riscos. Como fazer? Não sei, só sei que no grito não resolve.

Como sair da distopia em que nos metemos? Pensando seriamente no conceito de inclusão. Vários grupos progressistas entendem que inclusão é proteger de qualquer eventual ofensa grupos que sejam considerados oprimidos pela sociedade. Caso os sentimentos de pessoas desse grupo possam eventualmente ter sido feridos por alguma fala, é preciso destruir a vida do autor. Isso não chama inclusão e, se eu fosse de esquerda, chamaria de fascismo sem dó. Chamo, no entanto, de Zen-Fascismo.

Você já viu o novo especial de Dave Chapelle na Netflix? Até pensei em fazer um artigo ou um vídeo sobre ele. Mas seria completamente desonesto porque sou fã demais. Minto para os amigos e brigo dizendo que são bons até os esquetes mais sem noção do extinto programa de TV do Dave Chapelle. Trouxe um trecho de reflexão para a gente pensar.

O rapper DaBaby era recordista em streaming e queridinho no showbusiness até dias atrás, quando fez uma fala completamente fora de esquadro sobre homossexuais e HIV. Eu não disse que foi uma piada, como ele tem alegado, porque não tem nada de engraçado e não dá nem para entender onde ele quer chegar. Aliás, o próprio Dave Chapelle achou excessivo. DaBaby foi canceladíssimo pela fala. É certo? É ponderado? Foi pura agressão verbal mesmo.

Pela agressão verbal que pode ter ferido homossexuais, transexuais e portadores do vírus HIV, DaBaby até agora praticamente foi banido do showbussiness.
Canceladíssimo. E Dave Chapelle faz um questionamento interessante. Anos atrás, o mesmo rapper matou a tiros uma pessoa dentro do Walmart. Ficou dançando algemado quando foi preso. Isso dá cadeia, mas não é grave o suficiente para um cancelamento.

Por que a reação a um assassinato é mais leve que a reação a uma declaração? O autor é a mesma pessoa. Matar pode, mas falar absurdo não, é isso? Não é tão simples. Há pessoas que hoje se recusam a viver no mundo real. Na realidade paralela, pouco importam consequências ou justiça, importa poder. Atacar os outros xingando de transfóbico, racista ou homofóbico dá poder dentro de grupos. Pode até inventar, dá poder e a imprensa geralmente embarca.

A política de permissão de uso de banheiros não é para pessoas trans, é para qualquer um que confirme verbalmente ser trans. Há inúmeros casos de estupradores, principalmente de crianças, que aproveitam essa brecha. A reunião do Conselho Escolar tentava dizer que a política é acertada porque não havia casos de estupro. Ocorre que havia e a escola omitiu.

A Stone Bridge High School optou por averiguar apenas internamente, sem interferência da polícia, o caso do rapaz vestindo uma saia que entrou no banheiro feminino dia 28 de maio. Ao Conselho Escolar da região nada foi informado. A reunião era para dizer que ataques do gênero são paranoia ou preconceito dos pais conservadores. Quando Scott Smith reclamou do silêncio e falta de providências sobre o estupro de sua filha, foi imediatamente silenciado.

Somente semana passada foi feito o registro policial do estupro da menina de 15 anos. No dia do incidente, a escola chamou o pai dizendo que a filha havia brigado com outra moça no banheiro. Ele é quem levou a filha ao hospital para atendimento e exames pós-estupro. O processo registra relação sexual forçada oral, vaginal e anal. Não é o único. As progressistas dizem que sempre se deve acreditar na mulher, mas não nesse caso. Por quê?

No dia da reunião do Conselho Escolar, mais de 250 pais inscreveram-se para falar. Quase totalidade é contrária à política de permitir que qualquer um dizendo ser mulher entre nos banheiros escolares. Não se trata de permitir uso dos banheiros femininos por mulheres trans, a regra não é essa. Permite-se o uso a qualquer pessoa que diga ser mulher e ponto final. Tem alguma chance de dar certo? Claro que não. Ocorre que estupro não parece ser grave o suficiente para um cancelamento. Já reclamar do estupro é transfobia, dá até cadeia.

A pergunta sobre os grupos é uma só: respeitam a dignidade humana como inerente à condição humana ou ela é relativizada e atrelada às vontades do grupo? Neste caso, estamos claramente na segunda situação. Ah, mas era uma luta em defesa dos oprimidos. Tudo bem. O psicólogo Jonathan Heidt diz que o maior aprendizado da vida é saber que as personalidades sádicas, psicopatas, narcisistas e maquiavélicas sempre encontram uma justificativa moral para praticar perversidades. Sempre arrumarão seguidores.

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