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Facebook e Twitter em guerra: mensagens políticas devem ser impulsionadas?
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Muita gente tomou contato com a política e começou a fazer discussões políticas via internet. Não foi apenas aqui no Brasil, em que deixamos tudo nas mãos dos políticos por tempo demais. Em lugares como o Oriente Médio, onde a palavra é cassada, a internet ajudou a derrubar regimes.

Nós gostamos de pensar que não somos nem manipulados nem manipuláveis e, por isso, nos sentimos tão livres ao coletar e disseminar informações e opiniões políticas nas redes sociais. Mas você sabia que essas informações podem ser filtradas sob medida para você?

No filme "Privacidade Hackeada", que mostra o escândalo do Facebook com a Cambridge Analytica, a plataforma confessa que nos avalia a cada clique, considerando 5 mil pontos diferentes. Sabem do que gostamos ou não e também nossos maiores amores e medos.

Para quem paga, existe a opção de filtrar grupos de pessoas seguindo esses critérios e mandar a eles mensagens específicas, que podem ser verdadeiras ou não - é só pagar e mandar.

O instrumento foi feito para empresas. Não compensa para uma marca de batom, por exemplo, mandar seu material publicitário para homens solteiros com mais de 50 anos que nunca falaram em batom nem compraram um cosmético na vida. Melhor investir nas pessoas que realmente têm esse histórico de compras.

Só que os políticos descobriram isso. Aí está uma ferramenta poderosa para driblar algo que os perseguiu pela história: como falar o que pensam para atrair um determinado grupo sem gerar uma reação contrária que faça as pessoas reavaliarem suas posições.

O número de especialistas em neurologia, psicologia social, psicologia e psiquiatria envolvidos hoje com anúncios em plataforma é impressionante. Alguns arriscam dizer que é maior até que o contingente de pessoas especializadas em TI. Eles traçam os métodos mais eficientes para atingir pessoas com mensagens.

Os principais gatilhos para fidelizar uma pessoa são dois: ódio e medo. Nós tendemos a dar mais atenção àquilo que nos incomoda, principalmente na área da política. Ódio e medo gerarão mais compartilhamentos, mais comentários e mais cliques, deixando feliz quem pagou pelo impulsionamento.

As plataformas também ganham com a disseminação de informações que miram no ódio e no medo específico de um determinado grupo. As pessoas ficam obsessivas com algumas informações, tendem a passar mais tempo na plataforma e, consequentemente, deixar mais dados. Assim, é possível refinar cada vez mais a identificação dos grupos.

Fica mais fácil explicar a importância disso com produtos. Pense que você vende redes de proteção. De repente, podem te oferecer a possibilidade de anunciar para todos que se importaram muito com experiências traumáticas envolvendo queda de crianças. Daí você manda para esse grupo uma mensagem alarmista, insinuando que as "redes comuns não protegem as casas como você pensa". E então oferece a sua rede ou sua forma de instalação como solução.

No público geral, muitas pessoas que não têm um medo específico e não são envolvidas com isso ponderariam. Diriam que é mentira, que é alarmista, pediriam comprovação, confrontariam, tirariam sarro. Mas, se você reduz seu público somente para quem já demonstrou estar profundamente envolvido com isso, além de evitar confrontos, consegue vendas.

Neste momento, grupos em todo o mundo estão pagando para enviar "informações" políticas a grupos segmentados por padrões, que podem envolver traumas e medos específicos. Ninguém checa se são verídicas. O Twitter acaba de banir essa prática.

"Se o anúncio via internet é incrivelmente poderoso e muito efetivo para anunciantes comerciais, esse poder traz riscos significativos para a política, onde podem ser usados para influenciar votos que afetam a vida de milhões de pessoas", escreveu o CEO do Twitter, Jack Dorsey, em uma longa thread na qual explicou por que tomou a decisão de abrir mão do dinheiro que a empresa ganha com o impulsionamento de mensagens políticas.

"O alcance da mensagem política deve ser conquistado, não comprado", declarou Jack Dorsey. Não há como discordar.

É uma jogada muito interessante diante do revés que o Facebook sofreu na semana passada depois do depoimento do CEO Mark Zuckerberg ao Congresso dos Estados Unidos.

Ele fez uma tentativa de demonstrar que estava tomando providências para evitar a manipulação de informações relacionadas à política em sua rede e anunciou um enorme esquema de combate a Fake News. Sim, de novo.

Só que aí uma deputada apertou o calo: e os anúncios políticos? Continuam no Facebook e sem checagem nenhuma. (Confira os detalhes do depoimento e da proposta NESTE LINK). A partir daí a versão da tomada de providências desmoronou.

Proponho um exercício: comece a ler os posts que você recebe nas redes sociais com esse olhar, o de que eles foram filtrados de acordo com 5 mil pontos diferentes de informação sobre o seu comportamento e que podem não ser verdade, podem ser só provocações eficazes. Garanto que diminui muito a ansiedade que alguns temas provocam e muda completamente nossa relação com as redes.

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