• Carregando...
Jesus é transgênero e o lava pés comprova: conheça a teologia queer
| Foto: Bigstock

Outro dia um monte de gente ficou brava comigo porque eu disse ser contra o cancelamento do pastor Ed René Kivitz, da IBAB. A alegação é que não era cancelamento coisa nenhuma, já que ele foi expulso de uma associação de homens mais recente que a igreja dele e continua sendo um Batista Tradicional. Tudo começou com o debate sobre homossexuais na igreja.

Cá entre nós, homossexuais estão na igreja desde sempre. Maldosos dizem que, não fossem eles, seria impossível ter um coral que presta. Outros mais maldosos ainda apontam que batina ia ser tudo igual e da mesma cor. O fato é que ou tem homossexual ou tem mentiroso dentro da igreja. E até tem os dois ao mesmo tempo também. Eu sou a favor de abrir o jogo e acabar com essa esculhambação, mas creio ser minoria.

Se você já sentiu aquela vontade de dar sua opinião e debater este tema, segure um pouco. Brasileiro pensa pequeno demais. Eu amo os ingleses porque têm toda aquela pompa e circunstância mas também têm a baixaria dos tablóides. E é deles que vem uma ideia muito mais ousada do que a dos cristãos brasileiros moderninhos: o Evangelho Segundo a Teoria Queer.

Aqui no Brasil nós já temos o Evangelho Segundo Quentin Tarantino. Os seguidores dizem ser cristãos, principalmente nas redes sociais. Mas discursam e vivem como se fossem um personagem de filme do Tarantino, são seguidores do Jesus Kill Bill. Ocorre que isso é coisa de brasileiro, todo com fama de prafrentex por causa do carnaval, mas um conservador incorrigível.

Os gringos ousados mesmo já estão lá adiante, no Evangelho Segundo Judith Butler. Nossa, mas vão aceitar a homossexualidade no ambiente cristão? Vão casar homossexuais? Típica pergunta de brasileiro, bobinho, café-com-leite em ideia ousada. A Teologia Queer se apresenta como inclusão, mas na prática propõe outra coisa. Os religiosos encontram os momentos do Evangelho em que Jesus é trans. Oi? O lacrador brasileiro ainda precisa comer muito feijão para chegar nisso.

Se você acha que eu estou inventando ou que isso seria coisa dessas denominações novas que ninguém conhece, deixo mais de uma hora de vídeo para comprovar. São igrejas de denominações tradicionais que resolveram adotar o Evangelho Segundo Judith Butler. Provavelmente você conhece essa história como ideologia de gênero, algo de que se fala muito aqui.

Se você der um Google em Teologia Queer, vai achar diversos sites falando de inclusão, aceitação e a possibilidade de homossexuais terem fé genuína. São discussões comuns que nada têm a ver com queer. A teoria queer não é sobre homossexualidade, é sobre a fluidez dos gêneros, que não teriam ligação com o determinismo biológico. Teologia Queer é um termo que surge para fundir e substituir Teologia Gay e Teologia Lésbica. Não é, no entanto, uma fusão das duas teorias, mas uma terceira que não separa homens de mulheres.

Os principais teóricos da área não são cristãos, são acadêmicos ligados à pauta identitária. É por isso que o discurso dos religiosos é de um contorcionismo conceitual tão fantástico. A proposta é encontrar nos textos cristãos a presença do desejo queer e da variação de gênero. Intelectual prafrentex odeia cristão mesmo. Avalie a criatividade que o religioso precisa ter para inventar isso e dizer em público sem rir. Muito sacrifício, mas alguns topam.

Este do vídeo é o Reverendo Simon Woodman, da Bloomsbury Central Baptist Church e tutor no South Wales Baptist College. Nesse vídeo de 2 minutos (você pode ativar legendas no YouTube), ele traz a parte que eu considero mais interessante desse evento todo. As notícias não foram monopolizadas por ele, mas pela declaração "God is Queer", de Angela Sheard. Eu, no entanto, prefiro a fala do reverendo.

O reverendo explica quais são os dois momentos da Bíblia em que Jesus estaria se "transgenerando", ou seja fazendo a transição de gênero. Em inglês, o termo usado foi "transgendering himself. O primeiro exemplo é quando Jesus tem vontade de abraçar Jerusalém como uma mãe abraça os filhos. E o segundo é o lava pés. Quem lavava os pés dos outros? As mulheres. Portanto, não é um sinal de humildade, é a transição de gênero de Jesus.

Juro que fiquei triste por não estar nesse empolgante convescote gospel. Eu já ia carimbar direto um "machismo estrutural eurocêntrico do homem branco de olho azul" bem na testa do reverendo. Não gosto de polêmica, você sabe. Mas seria muito edificante.

Lá em Londres, eu estou na cota das "women of color". Não sou branca, tenho meu lugar de fala garantido no camarote com pulseirinha vip e open bar. Como uma mulher precavida vale por duas, já iria com todo meu freepass progressista documentado. Todos os prints da revista Variety chamando a protagonista de "O Gambito da Rainha" de "woman of color" igual à Queen Latifah. Pouco importa que eles corrigiram depois porque ela pode se identificar como uma latina branca, mas eu iria me identificar como uma "woman of color" legítima para este debate.

O centro da Teologia Queer é quais seres humanos são feitos à imagem e semelhança de Deus. Se a manifestação humana de Deus for o Jesus tradicional, então as pessoas trans não seriam feitas à imagem e semelhança de Deus. As mulheres também não, mas danem-se as mulheres e o princípio da fraternidade humana e de que todos os humanos são filhos de Deus feitos à Sua imagem e semelhança.

Mas meu questionamento seria outro, sobre o machismo estrutural que estaria afastando o glorioso reverendo da busca pela igualdade pela pauta identitária. São só as mulheres as responsáveis por abraçar e acolher os filhos? Jesus só vira transexual quando se dedica a atividades menosprezadas como lavar os pés dos homens? O machismo estrutural impediria o reverendo de se libertar das amarrras colonialistas para enxergar Jesus?

Gostaria de questionar o reverendo. Por que o momento de transição de gênero de Jesus não é quando ele transforma água em vinho a pedido da mãe, seu primeiro milagre? Afinal, só mulheres sabem por que as outras mulheres bebem vinho: por causa dos filhos. A ascensão aos céus não seria o momento mais Beyoncé de toda a história da humanidade? Por que a parte "premium" da Bíblia é masculina e só a das sandálias da humildade é feminina? Machismo estrutural. Desconfio que jamais serei convidada para os encontros de Teologia Queer.

Temos de reconhecer, no entanto, que até eu tenho teorias bem melhores sobre os momentos "queer" de Jesus. Realmente a Teologia Queer deixa os religiosos cristãos em maus lençóis. As teorias fantásticas criadas de forma debochada por quem discorda são mais consistentes do que as teorias que eles levam a sério. Qual a chance que isso tem de dar certo?

Confesso que quase dei uma alfinetada no reverendo batista por usar colarinho de padre. Mas, seguindo fielmente os princípios da Cidadania Digital, fui pesquisar. Como fiquei com birra dessa leitura bíblica aleatória, minha tendência era criticar tudo o que tivesse relação com o pobre do reverendo. E ele realmente está certo, foram os padres que copiaram. O clérgima foi inventado por um presbiteriano no século XIX e usado por protestantes. Os padres é que entraram na onda depois.

Só não entendi até agora por que os cristãos envolvidos na Teoria Queer ficam querendo achar transição de gênero em Jesus e deixam de lado os anjos. Às vezes fico tentada a oferecer consultoria, já que esse povo tem faturado cada vez mais bilhões das Fundações Internacionais que patrocinam a pauta identitária. "Anjo não tem sexo" é um axioma cristão. Poderia ser a prova cabal da Teoria Queer. (Advirto que, se usarem, vou cobrar meus royalties).

A parte triste é que as pessoas buscam as igrejas pelo suporte espiritual e estão recebendo apenas migalhas. O sagrado está acima de ideologias, de políticas, do nosso tempo. O sagrado é o eterno e transcendente. Impor as limitações ideológicas ou da nossa época à religiosidade faz com que ela deixe de ter sagrada e mística. Fé não é racional, está acima disso, é mais profunda que isso e sustenta nossa alma para os desafios de qualquer tempo.

O identitarismo tem uma teoria, divide as pessoas em castas e busca apresentar explicações lógicas. É o oposto da fé cristã. Na fé cristã, a Graça a todos é dada mesmo que não merecida. Nada que um ser humano faça se sobrepõe ou explica os desígnios de Deus. A racionalidade e a divisão da fraternidade humana não podem ser conceitos confundidos com a fé cristã.

O Evangelho é centrado em humildade, misericórdia e redenção. A mistura da fé cristã com identitarismo é como água e óleo. A fé cristã nos coloca a todos no mesmo patamar. Somos filhos de Deus, somos pecadores com defeitos profundamente humanos e alcançamos a Graça porque a todos nós é dada. Quando o Evangelho Segundo os Canceladores entra na igreja, significa que não há mais lugar para Jesus.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]