• Carregando...
Mamatocracia
| Foto:

A rapidez ou a virulência? O que impressiona mais nos militantes lavajatistas que viraram casaca contra Sergio Moro assim que ele desembarcou do governo Bolsonaro? Uma escolha muito difícil.

As cenas do acampamento Lava Jato, em Curitiba, neste final de semana são surreais. Mulheres vestidas de verde e amarelo, que até semana passada idolatravam o juiz da Lava Jato, agora estão queimando camisetas e bandeiras com o rosto dele estampado.

Atos de violência não começam do nada, sempre são precedidos por discursos carregados. Nem todo discurso carregado descamba em violência, é verdade, mas toda violência começa em discurso carregado. Estamos presenciando essa crônica anunciada pipocando aos poucos em diversos cantos do país. Semana passada era um senhor descontrolado batendo numa moça no Rio Grande do Sul, agora são senhoras colocando fogo em tudo o que simboliza Sergio Moro. O que virá em seguida?

Há quem argumente que as pessoas reagem dessa forma tão agressiva porque já não sabem mais o que fazer diante de tantos desmandos, corrupção e gente mamando nas tetas do Estado. Será mesmo? E se, entre os manifestantes houver quem, ao mesmo tempo, reclame e desfrute dos privilégios? Há.

Uma das senhoras que protagonizam o vídeo é antiga conhecida dos escândalos políticos do Paraná, Marli Terezinha Rossi. Há muitos anos, vive saltitando de um cargo comissionado para outro e, no momento, está no gabinete do deputado estadual Everton Marcelino de Souza, que está de saída do PSL para o Aliança pelo Brasil quando e se virar um partido. Recebe salário de R$ 10 mil.

Em 2003, a mesma servidora foi nomeada por Roberto Requião para outro cargo comissionado, um DAS-5 na Casa Civil. Durante todo o mandato do governador permaneceu no cargo e só se desligou um mês após o segundo mandato, desta vez para protagonizar um dos mais famosos escândalos da ALEP, o do nepotismo.

Ela é sobrinha do deputado Nereu Moura que, desde 1990, emenda mandatos na Assembleia Legislativa do Paraná. No ano de 2007, foi nomeada para uma função comissionada por ele e acabou no escândalo do nepotismo detonado por uma ação do Ministério Público. Pressionada tanto pela Justiça quanto pela opinião pública, a ALEP acabou decidindo que todos os parentes de deputados seriam exonerados, o que extinguiu a ação e acabou com o surto de nepotismo.

Mais recentemente, a mesma mulher esteve nas manchetes dos jornais quando se tornou ré num processo movido pela atriz Leticia Sabatella. Em 31 de julho de 2016, ela atravessou uma manifestação e foi agredida por dois homens e uma mulher e resolveu recorrer à Justiça num caso que ganhou proporção nacional.

Nada do que a servidora pública fez é ilegal ou criminoso, está tudo dentro da lei ou em avaliação pelo judiciário. Podemos considerar imoral ou incoerente colocar-se contra a política tradicional e os privilégios enquanto usufrui dos privilégios da política tradicional. Talvez seja incoerente quem faz essa avaliação, não a servidora.

Pense em alguém que vem de uma família tradicional da política, pendura-se em cargos comissionados e, quando surge algum problema, ele logo some por um acordo legal ou brecha da lei. Na bola dividida entre Moro e Bolsonaro, de que lado é mais lógico que esta pessoa fique? Não há dúvidas de que junto de seus iguais, os Bolsonaros.

Sem saber quem são as pessoas que gritam por "moralidade" não é possível compreender o que elas querem. Muitos estão ali para ser vistos como bons cidadãos, idôneos e honestos enquanto tranquilamente desfrutam de privilégios que todos os demais consideram absurdos.

Bater a carteira e gritar pega ladrão é um dos truques mais antigos da mamatocracia. Continua eficiente.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]