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Marcia Tiburi, Jean Wyllys ou Gregório Duvivier: quem mais tira voto de Lula?
| Foto: EFE/Sebastião Moreira

Tudo parecia ir de vento em popa nas eleições 2022 para Lula. Mas alegria de pobre dura pouco. Lula não é mais pobre há décadas mas, se você é fã de stand up e conhece o curitibano Afonso Padilha, obviamente sabe o mantra: "você sai da pobreza mas a pobreza não sai de você". Alegria de pobre dura pouco, todo mundo sabe.

Lula já atingiu um nível de riqueza que ninguém achou cafona ele ter casado de terno azul. E nem era qualquer azul, era azul Eduardo Bolsonaro, daquele terno feito pelo alfaiate daltônico que passou do irmão mais velho para o mais novo. Mas talvez a generosidade da sorte tenha ficado por aí. Quando tudo parecia perfeito, surgem seus apoiadores ricos para jogar água no chopp petista.

Vingança é um prato que se come frio, mas Lula não precisou nem esperar. Sergio Moro virou inimigo de Jair Bolsonaro, saiu do governo e tropeçou nas próprias pernas na corrida eleitoral. No último dia da decisão trocou a certeza do Podemos pelas dúvidas do concorridíssimo União Brasil. Parecia vingado de seu algoz na Lava Jato e pronto para o embate sonhado, um mano a mano contra Jair Bolsonaro. Daí chegaram os luloafetivos.

Num primeiro momento surge uma teoria plantada pelo próprio Lula de que ele seria a única saída democrática. O alvo seriam todos aqueles que não são eleitores do presidente Jair Bolsonaro, com quem a história evidentemente não tem o menor risco de colar. A ideia é de que o Brasil precisa derrotar o atual mandatário a qualquer custo sob pena de perder a democracia conquistada a tão duras penas. Só que não termina por aí.

A única forma de reaver a democracia seria votar em Lula e já no primeiro turno. Uma vitória de Lula de forma inquestionável, coisa que não aconteceu nem nos seus melhores dias, seria a única forma de evitar um golpe de Estado de Jair Bolsonaro, diz a tese petista. E por que Lula seria a única saída democrática? Porque ele é evidentemente um democrata que governou assim por dois mandatos.

Dia desses, Lula já estava falando que a ditadura de Daniel Ortega era "autodeterminação dos povos". Ele também fez um primeiro mandato democrático, depois virou ditador. O número de ditadores latinoamericanos apoiados pelo PT é de perder a conta. Basta surgir um que terá apoio incondicional e Lula como garoto-propaganda na campanha da eleição fake.

As condições de 2002 e de agora são muito diferentes. Tínhamos um fim de governo FHC deixando instituições fortes e um Lula desacreditado por ser radical demais. Lula teve de apresentar um programa detalhado e fazer alianças que garantissem sua moderação há 20 anos. Agora quer um cheque em branco. Não parece nem é um projeto democrático. E seus apoiadores vip são o reflexo disso.

Vocês sabem da minha fé: matemática e antidoping salvarão nosso Brasil. Lulistas têm feito uma chantagem eleitoral com base nos nossos históricos índices pífios de aprendizagem de matemática. Dizem que somente Lula poderia derrotar Bolsonaro no primeiro turno e, por isso, todo mundo deveria desistir da candidatura, então Lula ganha. É verdade. Aliás, se todo mundo desistir e eu me candidatar, até eu ganho. Você também. É só todo mundo desistir.

Existe algo chamado potencial de voto e aí Lula não está correndo sozinho não, está praticamente empatado com seu ex-ministro, Ciro Gomes. Aliás, diz a lenda, é por isso que puxou o tapete dele em 2018 e deu a legenda a Fernando Haddad. Nessa mesma altura da campanha, Haddad não dava nem para o cheiro nas eleições passadas. Ciro ofereceria perigo a Bolsonaro. Mas, se ganhasse, ficaria impossível a volta redentora de Lula. Naquela eleição, a lógica de "tudo contra o fascismo" não valia porque era contra os interesses de Lula.

Agora, a história é de que Lula vence Bolsonaro no primeiro turno se Ciro desistir. Ocorre que Ciro também vence Bolsonaro no primeiro turno se Lula desistir. Só que isso de acordo com as pesquisas e levando em conta que a eleição fosse hoje. Lula jamais ganhou no primeiro turno eleição nenhuma, nem sua reeleição, quando estava com a maior aprovação que já teve. FHC, menos carismático e menos problemático, levou a sua em primeiro turno.

Até aí, normal de campanha política. Ocorre que os luloafetivos do camarote vip resolveram entrar em campo. O primeiro deles é um ex-cirista, Gregório Duvivier. Humorista de mão cheia, meteu-se a fazer uma espécie de registro jornalístico e análise política da candidatura Ciro Gomes. Não é ele quem faz a apuração, é uma equipe que o deixou em maus lençóis.

Impossível saber se o problema foi falta de experiência ou cegueira ideológica. O relato trouxe erros factuais grosseiros, insinuações que distorcem fatos e até mesmo repetiu Fake News criadas pelo PT, como a de que Ciro "foi para Paris", insinuando que tenha ficado isento no segundo turno das últimas eleições. Ele não lavou as mãos. Recomendou voto em Haddad, viajou de comum acordo com o PT porque havia feito muitas críticas à candidatura no primeiro turno e voltou a tempo de votar e recomendar voto no PT. Não importou para o Greg News, foi com Fake News mesmo.

Ocorre que Ciro Gomes tem João Santana como publicitário. Ano passado fiz até um artigo sobre o que isso quer dizer. Gregorio Duvivier foi chamado para um "debate" com o pré-candidato, que já debateu com inúmeras outras figuras famosas de outras ideologias. Ainda não se sabe o resultado, mas é fato que Ciro Gomes não sai dos trending topics desde então e, por consequência, virou manchete na imprensa. Na economia da atenção, isso não é qualquer coisa.

Eu não sei se teria feito um debate desses até porque foi constrangedor e chatérrimo. Na verdade, nem debate foi. O humorista meteu um salto 20 e sapateou arrogância, enfado e revirar de olhinhos o tempo inteiro sem se dar conta da gravidade do que havia feito. Já vi emissoras implorando clemência por uma entrevista em pré-campanha sem dar direito de resposta ao candidato atingido.

Fosse levada à Justiça Eleitoral, a peça colocaria em risco o Greg News e a HBO no Brasil. Não só falseou a verdade, mas pretendeu esvaziar uma candidatura democrática apontando que somente sabotar essa candidatura garantiria a democracia. O pré-candidato em questão sequer foi ouvido. Mas não creio que seja esse o problema que "apoiadores" do gênero causam a Lula.

Muito provavelmente a maioria das pessoas desconhece os "fatos" apresentados no Greg News e vai achar enfadonha a tentativa de desmentido de Ciro Gomes. Mas arrogância é bicho que come o dono. Nem o petista raiz, aquele do movimento sindical e das comunidades eclesiais de base, é autoritário a ponto de deslegitimar outras candidaturas. Fazer isso e ainda revirar o olho depois pega mal porque é arrogante.

Só isso já seria suficiente para colocar Ciro Gomes nos trending topics, algo que não vale nada como medida de realidade mas garante ir parar nas manchetes da imprensa logo em seguida. Daí aparece o grande mago inflador de votos de Jair Bolsonaro, o mais querido vencedor do Big Brother de todos os tempos, Jean Wyllys.

Se você começou a acompanhar Jair Bolsonaro só depois que era moda, eu sou da época em que a Luciana Gimenez não era do Superpop e, aliás, não tinha nem filho do Mick Jagger ainda. O deputado sempre teve uma votação mais ou menos do mesmo tamanho, que garantia sua eleição e dos filhos graças ao volume estratosférico de funcionários públicos federais no estado do Rio de Janeiro. Sempre foi uma espécie de sindicalista dos militares e funcionários públicos.

Quando cabo Daciolo virou uma sensação e se elegeu pelo PSOL, levou Jean Wyllys do BBB para a Câmara dos Deputados. Surge então a gloriosa dupla Jean & Jair. Bolsonaro começa a ser visto como um produto midiático de valor, coisa que jamais havia ocorrido antes de rivalizar com uma sensação global. Além de estrela do Superpop e do CQC, virou suplente da Comissão de Direitos Humanos em pleno governo Dilma. Quadruplicou a votação.

Dizem as más línguas que uma cusparada bem dada de Jean Wyllys elege qualquer um pelo menos deputado federal. E ele resolveu entrar em campo para "ajudar" Lula, já que agora saiu do PSOL e virou luloafetivo. Essa "ajuda" consistiu em colocar Ciro Gomes na mais atualizada lista dos fascistas. Agora vai:

Já tem gente advogando pela construção de um projeto atualização de quem é fascista todos os dias, à semelhança do noticiário que atualiza a cotação das ações na Bolsa de Valores. Um internauta me explicou que a ascensão de Ciro Gomes ao panteão fascista não passa de uma medida padrão do RH Luloafetivo. Como Geraldo Alckmin agora não é mais fascista, precisavam preencher a vaga. Foi feito.

Não creio que eleitores de direita ou bolsonaristas fiquem bravos quando vêem Ciro Gomes ser rotulados. Geralmente cada um tende a proteger apenas e tão somente o seu político de estimação. Ocorre que, nessa jihad petista, todo mundo que não se alinha 100% ao projeto de votar em Lula no primeiro turno é fascista. E isso vai incluir não só Ciro Gomes e os ciristas mas também todos os demais brasileiros que não votam em Lula no primeiro turno.

Já há por aí quem diga que estamos na eleição Dia da Marmota, repeteco de 2018. No que depender de uma das maiores intelectuais de nossa pátria amada, Marcia Tiburi, sim e com certeza. Neste final de semana, ela voltou a defender que não tem dignidade quem não votar em Lula no primeiro turno.

Tem quem queira dourar a pílula e explicar que, na verdade, Marcia Tiburi não é extremista política. Ou seja, não vincularia a dignidade humana à escolha política. Ela quis dizer que o bolsonarismo deixa as pessoas numa posição tão difícil que só restaria Lula, dizem seus defensores. Cada um sonha com o que gosta. A nossa intelectual já dizia isso em 2018, para desespero do presidente do PSOL carioca:

Tarcisio Motta, do PSOL, é uma pessoa de quem você pode discordar politicamente, mas é um militante político. Existe uma premissa básica - além de fazer política - para esse tipo de atuação, que é saber fazer conta. Se você despreza eleitor no segundo turno, você perde voto em vez de ganhar. Daí não adianta ficar tentando fazer vira-voto com bolinho na hora do desespero.

Eu não imagino o Vicentinho fazendo um papelão desses. Aliás, nem o PSOL nem o PSTU perdendo militante em vez de ganhar. No máximo imagino o PCO, que sempre foi o braço forte do lulismo, fazendo esse papel de jagunço. Mas o fato é que a elite luloafetiva é exatamente aquilo que diz da elite brasileira: autoritária e arrogante. Tem de fazer o que eles mandam e agora eles resolveram mandar todo mundo votar no Lula.

Não pode questionar, debater, imaginar outra candidatura. Isso é antidemocrático sim, mas temos de ser autoritários para garantir a democracia. E o que seria a democracia? Seria Lula. Outro dia meu amigo Leonardo Lopes, que é historiador mas não é de esquerda, sugeriu que Lula já vire presidente sem programa nenhum para garantir a democracia.

Ele poderia passar 4 anos falando diariamente que, se fosse Bolsonaro, seria muito pior. Aliás, Bolsonaro fez escola de governar desse jeito. Depois, para garantir a democracia, o próprio Lula escolheria se ficaria para sempre ou ele próprio indicaria um sucessor. Tem várias democracias funcionando assim no mundo. A elite luloafetiva ficaria radiante.

Eu sinceramente não sei se Ciro Gomes sai ganhando com os ataques desse pessoal, embora nunca se tenha falado tanto dele. Só sei que a tese de que Lula quer restaurar a democracia fica mais frágil à medida que seus apoiadores do camarote vip vão abrindo a boca e dizendo verdadeiramente o que pensam. Minha única dúvida é quem tira mais voto de Lula: Duvivier, Jean Wyllys ou Marcia Tiburi? Gostaria de saber sua opinião.

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