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Médica, Miss Inglaterra devolve a coroa para atender pacientes de coronavírus
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Fosse novela, a gente acharia a história de Bhasha Mukherjee muito forçada para ser verdade. Agora, a devolução da coroa de Miss Inglaterra traz mais um capítulo emocionante e inspirador. Indiana de nascimento, mudou aos 9 anos para a Inglaterra com a família na condição de refugiada.

A família vivia com um orçamento apertadíssimo, numa casa compartilhada com outras famílias. Bhasha, o irmão, o pai e a mãe dormiam todos em um mesmo quarto. Ela relata que nunca faltou comida, mas era apertado o orçamento para todo o resto. Usavam apenas roupas e sapatos de segunda mão, o que era motivo de chacota na escola frequentada pelos filhos.

Bhasha Mukerjee entrou na prestigiosa faculdade de medicina da Universidade de Nottingham sem jamais pensar em concursos de beleza. Essa parte foi fruto do acaso: precisou de terapia para depressão e uma sugestão foi "brincar de modelo". Virou Miss Inglaterra poucos anos depois.

Formou-se com dois títulos diferentes aos 23 anos de idade e fez seu primeiro plantão, como médica assistente na unidade respiratória do Pilgrim Hospital, em Boston, na Inglaterra, na manhã seguinte à cerimônia em que foi coroada miss. Claro que a coroa virou motivo de piada entre os colegas, mas ela diz que não liga, abaixa a cabeça e faz o trabalho que tem de fazer.

Além da beleza estonteante, Bhasha Mukerjee foi presenteada pela genética com um QI 146, nível de gênio. Fala 5 idiomas. É muito apegada à família, principalmente à mãe e ao irmão mais novo e se dedica à caridade. Confesso que, quando o primeiro nome indiano a virar Miss Inglaterra apareceu com todos esses predicados, suspeitei de um baita golpe de marketing. Agora ela mostra que não era só discurso de miss.

"Eu sou muito privilegiada por ter sido coroada Miss Inglaterra e estou encantada por representar os verdadeiros valores britânicos neste país, como uma sociedade justa, o sistema de assistência social, as bibliotecas públicas, a educação gratuita, o sistema de saúde gratuito que possibilitam que pessoas de origem pobre prosperem. Eu tive muita sorte em vencer as barreiras e é maravilhoso poder retribuir de alguma forma", disse Bhasha Mukerjee quando foi coroada, em agosto do ano passado.

Agora, ela começou a receber mensagens dos colegas de hospital mostrando o que acontecia no dia-a-dia da ala respiratória, onde ela trabalhava. Estava em eventos na Índia. Devolveu a coroa, embarcou de volta para a Inglaterra, está em isolamento de 14 dias e irá para a linha de frente do combate ao coronavírus. Disse à imprensa que está aflita porque gostaria de ir direto ao hospital atender.

Essa história roda o mundo porque é fantástica, é algo de cinema e a protagonista tem qualidades que apreciamos e desejamos para nossos heróis. Resolvi contar para que você pense em quantas pessoas estão fazendo o mesmo ato de generosidade hoje, aqui no Brasil, e merecem reconhecimento e apoio.

Médicos, enfermeiros, pessoal de limpeza de hospitais, agentes de saúde, legistas, cientistas, agentes funerários, coveiros, motoristas de ambulância e tantos outros que estão lidando diretamente com o vírus na nossa guerra para vencê-lo. Cada um deles poderia simplesmente se refugiar com a família para a Páscoa, buscar proteger a própria vida, tentar ganhar notoriedade debatendo tratamentos, enfim, poderiam muito bem olhar apenas o próprio umbigo e teriam esse direito. Fizeram outra opção moral, por razões íntimas de cada um.

Não nos cabe julgar, só agradecer. Só temos chances na guerra contra o inimigo invisível, o coronavírus, graças a pessoas que, em consulta à própria consciência, decidem se arriscar para curar desconhecidos e vencer uma pandemia. É uma decisão silenciosa, trabalho árduo que não deixa tempo para bater bumbo. Que, nesta Semana Santa, nossos pensamentos e orações estejam com essas pessoas e suas famílias.

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