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O Brasil quer políticos mais competentes? – entrevista com Eduardo Mufarej
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Publiquei este ano uma matéria relatando o que vivi durante o curso do Renova BR e, logo após, vi surgir um incêndio nas redes sociais porque um grupo gritou "Lula Livre" na formatura. Compreendi naquele momento nossa opção pelo fígado, deixando a competência em segundo plano. Não sei se por falta de conhecimento ou excesso de vaidade, muitas pessoas crêem que a ideologia de uma pessoa é a única marca que deixa nesse mundo, algo suficiente para dividir seres humanos em superiores e inferiores, dignos e indignos.

É óbvio que um curso de formação em políticas e cidadania que se propõe ser suprapartidário vai ter gente com todo tipo de ideologia. Estranho seria se fosse diferente como, confesso, desconfiei antes de frequentar. "A cara da classe política vai ser a cara da sociedade. Vai ter gente de centro-esquerda, de centro, de direita, de esquerda, mais conservador, evangélico, liberal, progressista. Vai ter tudo", diz Eduardo Mufarej, fundador do Renova BR.

"A gente elegeu muitas vezes médicos, apresentadores de TV, esportista, entre outras qualificações, sem saber se aquela pessoa estava preparada para ser um representante. Ser um representante não quer dizer ser bem votado. É diferente." - Eduardo Mufarej

O fundador do Renova BR defende que estamos subestimando uma discussão importantíssima que não tem ideologia: a necessidade de ter uma classe política que seja competente. Ao líder político não basta ser capaz de mobilizar o debate e conseguir votos, ele tem de construir um repertório para cumprir seu papel. Eduardo Mufarej diz que viu a necessidade de criar uma instituição disposta a investir na formação de cidadãos comuns com o compromisso de servir o Brasil, qualquer que seja a ideologia.

Outro incômodo é com a mania que temos de pensar que no Brasil nada é bom, nada funciona. Por isso, o melhor marketing político é o de reinventar a roda 24 horas por dia. Já sabemos o resultado. Eduardo Mufarej defende que precisamos valorizar as boas ideias e experiências e transformá-las em modelos escaláveis ou que possam ser adaptados em diversos lugares do Brasil. Se não for feito, crê que será difícil conseguir resultados diferentes.

"Enquanto o brasileiro continuar escolhendo o seu representante a deputado federal um dia antes da eleição e, depois de uma semana, ele esquecer em quem votou, não tem direito de achar que está ruim. Não tem direito. É uma escolha tão importante e você não gastou cinco minutos?" - Eduardo Mufarej

Ele defende que a tomada de consciência sobre a nossa própria responsabilidade é um passo importante para dar o valor necessário à educação para a cidadania. "Brasília não virou o que virou por uma força extraterrestre, mas por uma omissão, falta de interesse", aponta ao defender a necessidade de mudar a forma de escolha. O primeiro passo é entender o papel de cada um dos atores políticos e acompanhar o trabalho deles de forma mais inteligente, avaliando não apenas o afeto e a popularidade, mas se estão cumprindo seu papel.

Hoje, muitos políticos estão surfando em popularidade com a polarização. Como aparecem muito nas redes sociais e acabam sendo automaticamente notícia na mídia, muita gente tem a impressão de que são guerreiros, trabalhadores ou incansáveis. Mas será que eles realmente trabalham? "Se você ficar na rota da polarização, tenha certeza de que você não vai ter pares para viabilizar seus projetos", analisa Eduardo Mufarej.

"O cara que gasta muito tempo antagonizando, polarizando, ele está se alimentando desse personagem, vivendo disso e entregando muito pouco para a população", afirma o fundador do Renova BR. Ele reconhece que há diversas pessoas da área política que dão muito valor a quem levanta os debates e faz com que a população participe deles ativamente. A questão é que se trata do debate errado, não aquele sobre o papel dos nossos representantes, que é melhorar a vida das pessoas.

"Você ficar debatendo ou discutindo com seu opositor em rede social muito provavelmente não está ajudando a vida dos outros, você está simplesmente enaltecendo o seu ego e marcando uma posição." - Eduardo Mufarej

"Vamos sair do barulho, ver quem realmente está entregando? Isso é o mais importante", defende. Um ponto de vista interessante é o de que a "relação de confiança ela é humana, não é ideológica". Nós amamos e confiamos em muitas pessoas que não pensam como a gente e isso nos ajuda a viver melhor, pois são capazes de avisar quando erramos e enxergar pontos de vista que não temos. Confiamos nas pessoas pela convivência, por saber que é uma pessoa boa, embora possa ter convicções diferentes.

Eduardo Mufarej defende que a educação cidadã seja priorizada para mostrar que não é necessário catequizar nem concordar para conviver e que só a união de quem pensa diferente em torno de projetos comuns vai nos fazer avançar. "A minha maior expectativa é que as pessoas se respeitem. Se as pessoas se respeitarem, a gente vai ter um ganho enorme", sentencia o fundador do Renova BR. Você concorda?

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