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O Império dos poderosos vitimistas
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Passamos dos 25 mil mortos por coronavírus no Brasil e o que ocupa a nossa atenção? Choro de poderoso. É impressionante como no nosso país temos essa particularidade interessante, da autoridade que é uma grande vítima da sociedade mesmo tendo muito mais poderes que a imensa maioria dos cidadãos. Ou isso existe ou nossa credulidade precisa ser estudada.

Todos os dias aparece algum poderoso com uma bela desculpa para não ter feito o que era seu dever fazer. Como reagimos? Deveríamos reagir cobrando que entregue, já que é eleito e pago para fazer, não para dar desculpa e fingir que é vítima da sociedade. Mas não, nos dividimos. Passamos a debater como aquele coitado daquele poderoso que leva uma vida nababesca às nossas custas teve seus direitos violados. Eles devem rir bastante pelas nossas costas.

Hoje é o terceiro dia de operações da Polícia Federal e de debates sobre eventuais violações de direitos de pessoas que estão com a vida ganha e têm excelentes advogados. Em tempos de calmaria, vá lá isso virar o centro das atenções, mas diante de mortes? Por que ignoramos quem está carregando o piano e reverenciamos quem só pensa no próprio umbigo?

É uma tristeza e também uma vergonha nacional, fruto da nossa imaturidade política, que não estejam todos os chefes de Executivo unidos num esforço nacional para enfrentar a pandemia e reconhecer, como nação, os sacrifícios individuais que têm sido feitos por milhões de brasileiros, fundamentais para que o país não entre em colapso.

Chega a ser indecente ver cidadãos defendendo políticos - que já são regiamente pagos, têm voz, têm poder e contam com defesas técnicas caríssimas - e sendo ingratos com nossos compatriotas que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Sequer percebem que esses políticos, pagos por nós para prestar serviço ao povo, parecem mais centrados em falar dos próprios problemas e do que fere seus amigos e familiares. Por que fazem isso? Porque podem, simples assim.

Faz 11 dias que não temos Ministro da Saúde fixo durante a pior pandemia da história do país. Ainda não temos um plano nacional concreto de enfrentamento da pandemia com fases de contágio e procedimentos para reabertura. Também não temos um plano nacional para recuperação da economia. O Brasil foi banido dos esforços internacionais de enfrentamento da doença e de recuperação da economia.

Só que, enquanto tudo isso acontece, há milhões de brasileiros que estão garantindo que nosso mundinho não desabe, que tenha comida na nossa mesa, que tenha médico, gasolina, remédio, água, luz. E nós não os agradecemos como deveríamos, não os homenageamos. Por quê? Porque eles não se vitimizam como os espertalhões da política.

Somos ingratos como nação. Vez ou outra, principalmente por causa de vídeos compartilhados nas redes sociais, nos lembramos dos médicos e das enfermeiras. Há muita gente grata, que pensa e ora por eles diariamente, manda boas energias. Choramos o maior número de enfermeiros mortos no mundo durante a pandemia. Amargamos a falta de equipamentos e condições de trabalho diante de uma doença desconhecida. Não são heróis, são pessoas que têm famílias, como nós.

Mas falo aqui também dos outros trabalhadores, milhões, que sacrificam a segurança e a imunidade de suas famílias diariamente para que o mundo não colapse até que a gente descubra como realmente se prevenir dessa doença, qual é o grupo de risco ou, que seja, conseguir uma vacina ou remédio.

São milhões de policiais, bombeiros, trabalhadores de limpeza, coleta de lixo, funerárias, coveiros, porteiros, empregados de supermercados, farmacêuticos, atendentes de farmácias, motoboys, entregadores, taxistas, motoristas de aplicativos, motoristas de ambulâncias, motoristas de guinchos, mecânicos, atendentes de lojas de material de construção, encanadores, pedreiros, padeiros, cozinheiras, agentes penitenciários, motoristas, cobradores, seguranças, guardas municipais. Seria impossível enumerar todos sem esquecer.

Vivemos um momento histórico em que parece que o tempo parou, que as coisas não estão acontecendo, que as notícias são só as ruins. E, verdade seja dita, a vida tem nos colocado diante de dores de dramas muito difíceis de enfrentar. Se não houve comando da crise, se há comando apenas para explicar porque não deu certo, como inúmeras vezes fizeram nossos governos, a sociedade civil está honrando diariamente seu compromisso com o Brasil - e sem reclamar, sem se fazer de vítima. Que saibamos reconhecer.

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