Há muito tempo a gente ouve que o brasileiro não sai da internet, que temos mais de um celular por pessoa, que somos um povo conectado. Em parte, é verdade. O acesso é o que explica o surgimento e manutenção de empresas gigantes que existem somente com ela, como Uber, Netflix e YouTube, por exemplo. O potencial de crescimento desse nicho da economia é gigantesco se conseguirmos vencer desigualdades regionais.
Por que a internet é tão importante na política, por exemplo? Por causa do acesso efetivo a ela onde os políticos estão, Brasília, o único lugar do país com um nível de acesso a serviços de banda larga e telefonia móvel próximo ao dos Estados Unidos. Apenas 9 estados brasileiros estão acima do pior nível de acesso registrado entre países da OCDE.
Há diferentes formas de medir o acesso. A primeira - e mais importante - é se existe a tecnologia no lugar. Essa barreira já vencemos. Há disponibilidade de sinal tanto de telefonia móvel quanto de banda larga na maior parte do país. A outra questão é se as pessoas que moram ali conseguem ter acesso cotidiano àquela tecnologia. Nessa variável entram as questões mais diversas, que vão desde o nível de alfabetização até o preço do equipamento e do serviço. A tendência das famílias é decidir pela compra do que cabe no orçamento e do que se vê como útil.
Claro que o acesso à internet seria algo interessantíssimo, por exemplo, para comunidades de artesãos no Norte e Nordeste do Brasil. Poderia ser uma virada na forma de comercializar os produtos e o início de uma nova trajetória de vida para essas famílias. Mas, para enxergar isso e saber como fazer, é necessário um nível de conhecimento sobre tecnologia e mercado que a maioria dessas pessoas não têm. Além disso, elas precisam decidir entre colocar comida na mesa e crédito no celular. O uso da tecnologia existe, mas ainda é insuficiente.
O Ranking de Competitividade dos Estados, feito desde 2011 pelo CLP - Centro de Liderança Pública - montou um mapa comparando a densidade de acessos por 100 habitantes de telefonia móvel e banda larga. Os dados são da Anatel.
A média geral do Brasil é de 35,1 acessos de banda larga ou telefonia móvel a cada 100 habitantes. Este é um caso em que a média não traduz a realidade do país. O único Estado que podemos encontrar nesse parâmetro é o de Minas Gerais. Há 9 Estados com muito mais acessos e outros 16 com menos. Não temos, no entanto, nenhum Estado que chegue à média da OCDE, que é de 128,1 acessos de banda larga ou telefonia móvel a cada 100 habitantes.
Também entre os países da OCDE falamos de uma média gerada por números muito desiguais. A Grécia, com o pior indicador, está abaixo dos acessos de São Paulo e do Distrito Federal. O indicador médio, que é o dos Estados Unidos, não chega a ser atingido por nenhuma região brasileira. O melhor deles, da Irlanda, é praticamente um sonho para nós: 348,1 acessos para cada 100 habitantes.
A internet não modifica apenas a forma como nos comunicamos, muda a educação, a economia, o potencial da ciência, as possibilidades de vida e escolha dos indivíduos e das famílias. Quanto menos acesso, maior a tendência de usar em coisas simples e perder um universo de conhecimento. Para chegar nele, é preciso ter acesso à vontade e dominar tanto as ferramentas quanto a linguagem. Ainda temos muito para crescer nessa área.
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