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Para cumprir cota de 50% de mulheres, lançam 18 candidatos homens e 18 trans
| Foto: Hannah Busing/Unsplash/Reprodução

Identitarismo - não confundir com lutas justas de minorias - é uma mistificação que impede conquistas de direitos. Essa palavra é usada com muitos sentidos, eu uso com um específico, é a militância "Woke". É aquele povo que fala de desconstrução, letramento e gordofobia como se fossem fatos que só eles vêem porque só eles conseguem romper as amarras com o patriarcado cis hetero branco. Agora você já sabe quem é o grupo do Identitarismo. Nesse vídeo, falo deles como Zen-Fascistas:

O identitarismo é, na definição do meu amigo Marcio Américo, uma espécie de flanelinha de minoria. Esse grupo decide que vai tomar conta da minoria e cobrar dela um pedágio, queira a minoria ou não. E, no final das contas, não cuida de nada e tira os direitos das minorias. No México, os Che Guevara de ar condicionado criaram uma regra eleitoral para favorecer mulheres e LGBT e conseguiram o oposto.

Já ficou dedicido que, nas eleições mexicanas, 50% dos candidatos de cada partido têm de ser mulheres. É um pleito que também existe aqui no Brasil. Não sei se você é favorável ou contra, mas tente deixar isso de lado e focar no modo de execução. É o supra sumo do identitarismo prometendo uma coisa e entregando o avesso do que prometeu.

Como vamos garantir que 50% das candidaturas sejam femininas? Pelo documento dos candidatos seria o mais óbvio. Só que daí começou outra discussão, que tem se tornado a única do movimento feminista de parque de areia antialérgica: incluir ou não trans. Era só botar um documento ali, o México já faz alteração do gênero no documento para quem for trans, não tem erro. Mas não, vamos problematizar.

O foco saiu completamente das mulheres para virar um debate sobre inclusão ou não de pessoas trans nos pleitos feministas. Concretamente, qual a necessidade? Se os documentos já são alterados, pessoas trans seriam oficialmente mulheres no México. Mas e as grandes barreiras que as pessoas enfrentam para mudar o documento? E quem não teve ainda coragem de fazer a transição? Decidiram que basta uma autodeclaração sigilosa para o governo. Olha que ideia boa!

Nas eleições de 2018, grupos feministas já alertavam para o óbvio. Mais fácil do que incluir mulheres nas estruturas partidárias é conseguir que um homem faça uma declaração sigilosa dizendo que se sente mulher. Eu sei que políticos são muito honestos e jamais fariam isso. Há bons documentários sobre eleições no México e o domínio do PRI. Tem até assassinato de candidato a presidência durante comício, mas mentir eles não iriam, né?

Então, os Che Guevara de ar condicionado decidiram ampliar esse método tão eficiente de inclusão. Há um percentual de inclusão nas candidaturas que varia conforme a região. Em algumas há que ter candidatos da minoria indígena local ou de afromexicanos. Também há percentuais obrigatórios de candidatos LGBT. O que os partidos fizeram para atingir esses percentuais? Mágica. Todo mundo atende e, quando você olha a lista de votação, são os mesmos candidatos de sempre.

Este ano, no Estado de Tlaxcala, a Justiça Eleitoral alertou o partido Fuerza Mexico que ele não cumpria o número de 50% de candidaturas femininas. O pessoal tomou providências rapidinho e metade dos candidatos apresentaram uma declaração garantindo que se sentem mulheres. Quem seriam eles? Não pode revelar por questão de intimidade, é algo delicado. O partido cumpriu a regra criada pelo parque de areia antialérgica. Nenhuma minoria ganhou nada com isso.

Já havia acontecido em 2018 no Estado de Oaxaca, mas foi barrado pela Justiça Eleitoral. Ainda era um caso isolado, mas agora virou moda. Ano passado, um deputado desconhecido queria a chapa para a reeleição. Quando um grupo ganha espaço, outro perde. Para abrigar mulheres e indígenas, o PAN resolveu cortar as chapas dos homens mais fracos.

Foi aí que Daniel Martínez Terrazas teve uma grande ideia: virou indígena. Claro que ele não botou um cocar, isso seria algo grave porque é apropriação cultural. Ele declarou que é de uma minoria indígena do município de Tepecuacuilco, Estado de Guerrero. A repórter do El Financiero, Verónica Bacaz, resolveu ir atrás da história.

Realmente há um povo indígena em Tepecuacuilco, mas eles disseram à jornalista que nunca ouviram falar do tal Daniel Martínez Terrazas e muito menos concordam com essa história de ser representados por eles. O flanelinha de minorias não liga, se ele vai tomar conta da minoria, ele vai mesmo e a minoria que pague. A cereja do bolo é quando a repórter pergunta o nome do povo indígena e da aldeia. Ele diz que não lembra.

No final das contas, todas as minorias estão indignadas com o resultado do maravilhoso projeto de inclusão eleitoral do parque de areia antialérgica. Mas por que não falaram antes? Falaram, mas daí foram esculachados como transfóbicos, racistas, homofóbicos, machistas, taxidermistas. Há quem pense que mulheres foram sabotadas por trans. Não foram, ambos os grupos caíram na ladainha do identitarismo e só perceberam quando perderam direitos que imaginavam garantidos.

Os únicos que saíram ganhando com a história foram os Che Guevara de apartamento, que posaram de defensores de minorias esses anos todos mas sumiram na hora de explicar o resultado das ações. Coletivos de mulheres, negros e LGBT agora buscam uma forma de desatar o nó. É complicado, toda a militância foi feita levando em conta o universo simbólico, ninguém perguntou como aquela ideia funcionaria na realidade.

Para se ter ideia da lambança, até as pessoas com deficiência estão reclamando do critério dessa minoria. Basta apresentar um laudo médico de qualquer médico. Adivinha quem está ficando com as vagas? Pois é, os mesmos de sempre. Você já deve ter reparado que algumas ideias fantasiosas de inclusão só são defendidas por quem nasceu com a vida ganha. Não deveria ser surpresa constatar que elas só beneficiam quem já nasceu com a vida ganha.

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