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Não tenho mais paciência para ver uma turba, à esquerda e à direita, cobrando da Janaína Paschoal que se posicione a favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Esqueçam. A deputada jamais vai se posicionar a favor de nada que represente o menor risco da volta do PT ao poder. Quem sofreu na pele as consequências nefastas da máquina de moer reputações do ódio do bem escolhe qualquer coisa para evitar ser refém novamente. Seja você contra ou a favor do impeachment, ponha uma coisa na cabeça: a Janaína Paschoal não vai resolver seu problema.

Antes que me perguntem dessa história de impeachment, deixo claro que sempre fui a favor do psicotécnico. Mais simples e mais rápido, inclusive para ter direito à candidatura. Disse pessoalmente ao presidente Jair Bolsonaro o que penso dele há muito tempo. Neguei pessoalmente apoio e disse os motivos, ao contrário de diversas madalenas arrependidas que dão uma no cravo e outra na ferradura. Tive o prazer de conhecer as duas máquinas de moer reputação, a bolsonarista e a progressista. Nesse artigo, levarei você a um passeio por esse oásis.

Pedir à deputada Janaína Paschoal que apóie o impeachment de Jair Bolsonaro é uma atitude de conforto emocional e psicológico, totalmente desconexa de providências práticas sobre um processo de impeachment. Explico. Ela é deputada estadual, não participa das votações, é muito influente junto ao público mas não tem vida partidária. É na vida partidária que se dá o debate de uma matéria como impeachment, que até pode ter fundamento técnico, mas é um processo unicamente político. O posicionamento dela pode até fazer alguma diferença mas não é decisivo. Aliás, ninguém que cobra liga para o posicionamento dela, que foi dado da tribuna, querem só o prazer de "quebrar a alma" via pressão.

Tanto a deputada quanto eu passamos pelas duas máquinas de moer reputações, a progressista e a bolsonarista. Ambas tomamos todas as providências principalmente na questão de ameaças. Infelizmente não estamos na lista vip das apurações, então nossos resultados são bem modestos. Há, no entanto, uma diferença. Pelo papel exercido por Janaína Paschoal no impeachment, todo tipo de excesso e desumanidade contra ela e a família foi tolerado pela esquerda do bem. Os radicais são poucos, a tolerância da maioria é fundamental para que prosperem.

O mesmo ocorre na direita. Tenho uma impressão de que, se fosse possível transformar gente sonsa em vacina, o Brasil vacinaria a galáxia. É impressionante a quantidade de pessoas que têm a desfaçatez de chamar de "crítica" a tentativa de aniquilar uma pessoa, incluindo enfrentamento físico e ameaças de morte. Os efeitos das "críticas" da milícia bolsonarista contra mim foram infinitamente mais devastadores que aqueles também danosos da milícia progressista. No caso da deputada não, foi o oposto.

Atravessamos um período de chiqueiro moral em que muita gente do bem admite que radicais tentem aniquilar pessoas por esporte em nome de uma causa. Isso existe em todo o espectro político. Depois do que aconteceu na minha vida desde 2015 devido à ação das milícias virtuais, eu jamais os defenderia para evitar coisa pior. Para mim, não há pior, é uma questão de sobrevivência. O mesmo ocorre com Janaína Paschoal e as milícias do ódio do bem.

Quando falo em ataques de milícias virtuais, muitas pessoas confundem com xingamentos e difamação. Fosse isso, eu continuaria dando risada. Ninguém tem obrigação de gostar de mim. Aliás, me xingam tanto de prostituta que, se não tivesse muita firmeza espiritual, começaria a considerar a troca de profissão. O problema são as consequências reais dos esquemas organizados no direito de ir e vir, na vida familiar, no impacto psicológico e nas oportunidades profissionais.

Eu sei que os progressistas gostam de pensar que detêm o monopólio da virtude e são pessoas boas e avançadas. E muitos agora pensam que não têm nada a ver com um punhado de radicais que se dizem progressistas mas vivem de atacar mulheres com as maiores baixarias. São apenas uma "minoria de vândalos", lembra? Não são. Nós somos o que toleramos. Cansei de avisar meus amigos liberais e conservadores que é inaceitável o grau de tolerância deles com pessoas malignas, destrutivas, mentirosas e violentas. Acabaram vítimas ou dominados, não há outro caminho.

Não se trata de desmentir ou não ligar para o que dizem as milícias virtuais do bolsonarismo ou do progressismo, mas dos efeitos na vida real. Os alvos são principalmente mulheres, que passam a se tornar "pessoas tóxicas". Como as reações à presença delas são muito extremadas em alguns grupos, a solução sempre é evitá-las para não causar tumulto. Assim, os grupos de boas pessoas acolhem radicais e expurgam suas vítimas, que sofrem consequências financeiras, profissionais e psicológicas.

Um exemplo. Aqueles que sofreram lavagem cerebral em grupos mobilizados por teorias QAnon têm certeza de que certas pessoas são satanistas e pedófilas. E eles têm "provas", como a foto dessa pessoa com um artista ou o print de um tweet. Se, em um grupo de pessoas alguém mencionar o nome desse alvo, imediatamente a pessoa que sofreu lavagem cerebral vai se revoltar com muita força. Ela crê estar diante de algo maligno e ter uma missão de combate. Veja a que ponto chegaram cidadãos comuns no Capitólio.

Qual será a solução da maioria? Silenciar por não saber como lidar com uma situação tão bizarra. É difícil saber o que fazer quando alguém com quem temos vínculo e que reconhecemos como uma pessoa boa simplesmente surta por algo completamente sem sentido. A outra providência é jamais tocar no nome daquela pessoa de novo. Sabem que a pessoa não é satanista nem pedófila, mas ela é tóxica, provoca reações terríveis. De vez em quando haverá um herói que não vai permitir esse tipo de indignidade. Enquanto for a minoria e seguir sem apoio dos demais, seguimos rumo ao subsolo do poço moral.

Muitos argumentam que há uma falsa simetria entre as milícias bolsonaristas e progressistas. Na verdade têm muita dificuldade para entender que diversas pessoas, principalmente mulheres, são alvos das duas. Precisamos aprender que nossos radicais não têm mais direitos que os outros. Os radicais progressistas estão agora onde estavam os bolsonaristas em 2017. Janaína Paschoal sabe a que ponto chegam, eu também.

Em termos de discurso de ódio, machismo e preconceito, no entanto, as duas milícias se equivalem. Os sonsos que passam pano também. O gaslighting, a prática de fazer algo grave e depois descrever como algo nobre, também se repete. É a tempestade perfeita para que se chegue em algum tempo à estrutura em que os radicais tomem o poder sobre os moderados. Não existe monopólio da virtude. Tanto na esquerda quanto na direita há quem creia que ideologia garante virtude. Constância e disciplina garantem.

Como sei que progressistas realmente crêem na própria superioridade moral e dizem não tolerar machismo, preconceito nem nada que não seja super limpinho e gente fina, fiz um teste. Postei essas considerações no Twitter. Minha expectativa? Haveria uma minoria de radicais progressistas confirmando minha tese. Disse que a tolerância ao comportamento violento de radicais coloca muitas pessoas no colo do lado oposto, por medo ou raiva. Veja como a turminha paz e amor reagiu com respeito e sem machismo:

Muita gente que gosta de mim me aconselha a "não arrumar tanta treta". Meu questionamento é: por que eu não posso fazer uma análise mas diversas pessoas muito agressivas podem me xingar? Isso é sistemático. Eu não estou impedindo nenhuma dessas pessoas de me xingar e só processei quem orquestrava milícias virtuais profissionalmente. Estranho muito quem defende a liberdade dessas pessoas e recomende que eu me cale. Por que não fazem o oposto? Eu nem teria de brigar assim, pensem que coisa linda.

Os progressistas agora estão me falando a mesma coisa que os liberais e conservadores falavam até 2019. Primeiro eles não são condescendentes com isso porque não viram os ataques. Não cola: se escolhem vir me criticar ou pedir que eu me cale mas não tomam nenhuma atitude com relação a quem faz os ataques, é porque apóiam o ataque. Pode não ser de coração, mas é o resultado prático. A segunda coisa é que aquele perfil não tem nada a ver com as lideranças progressistas. Se o comportamento não é repudiado por elas, é endossado. Ser líder político é isso, deixar claro o que pode ou não ser feito em seu nome. Se um comportamento é endossado pelo líder e tolerado pelo movimento, todos são cúmplices.

A primeira reação das pessoas que realmente são boas é correr para mostrar que são diferentes desses radicais e jamais fariam aquilo. Compreendo, é do comportamento humano a necessidade de autodefesa. Mas, numa situação de agressão, quem não enfrenta o agressor podendo fazer está ao lado dele. Aqui ninguém precisa pegar uma espada e dominar Roma, é só dar um toque a um amigo que aquilo extrapolou o limite. Não cai pedaço e compensa.

Já pedi a conhecidos que intercedessem em casos de amigos pessoais que ultrapassaram o limite comigo. Conto nos dedos de uma mão quem mandou um whatsapp ou se dispôs a conversar com o outro para que parasse. E olha que não estou falando de manifestação pública nem pedido de desculpas, só avisar que aquilo era demais. A maioria fala que não vai se meter porque "vocês dois são pessoas boas". Pessoas boas fazem coisas ruins. Lavar as mãos não protege o amigo, ajuda a jogá-lo na radicalização.

Chegamos a um ponto em que a leniência com autoridades que se comportam como milícias virtuais já atrasou a compra dos insumos para a vacina do coronavírus. Não são só idiotas falando bobagens e nem ignorar é solução. Chegou a hora de parar de arrumar desculpas para a indigência moral de bancar o Pôncio Pilatos. Em vez de ficar exigindo mea culpa dos outros, que tal fazer o seu? Eu fiz vários nos últimos anos e a maior beneficiada fui eu. Continuar agindo da mesma forma não nos tirará do atoleiro. Sabemos que estamos insanos quando continuamos agindo da mesma forma pensando que o resultado será diferente.

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