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Alimentos / Supermercado  – 05-03-2018 – Produtos mais consumidos em um supermercado. Na foto, carrinho de supermercado com frutas, verduras e produtos de uso diário.
Alimentos / Supermercado – 05-03-2018 – Produtos mais consumidos em um supermercado. Na foto, carrinho de supermercado com frutas, verduras e produtos de uso diário.| Foto: Gazeta do Povo

Todos vimos, nos últimos dias, as cenas de famílias fazendo compras, sobretudo em mercados que vendem por atacado, como se estivessem se preparando para o armagedom. É uma reação absolutamente natural tanto sob o ponto de vista psicológico quanto sob o ponto de vista prático num momento de pandemia, mas ela pode gerar um efeito que deixa muita gente com a pulga atrás da orelha: prateleiras vazias.

Quando você vê uma prateleira vazia o que você sente? Não pergunto o que pensa, o que racionaliza, mas o que sente. A gente tem a impressão de que vai faltar coisa na nossa casa. Os supermercadistas sabem disso e explicam que NÃO HÁ DESABASTECIMENTO.

A indústria supermercadista está entre as que mais entende da relação entre sentimentos humanos e decisões de compra. Se, em momentos de bonança, podemos nos sentir manipulados, terá grande utilidade agora. Bilhões são movimentados na briga pelo que se chama de "placement", o lugar certo da prateleira onde um produto fica para favorecer sua decisão emocional de compra. É de tanto estudar esse mecanismo por décadas que os supermercados sabem exatamente como nos comportamos em pandemias e estão preparados para isso.

Nosso comportamento em desastres, pandemias e ameaças é analisado há décadas por cientistas, governos e empresas, que precisam estar preparados para esses momentos. O ser humano não é o animal mais forte nem o mais bonito e talvez não seja o mais inteligente. Com toda certeza é o que mais se adapta. Mas até a situações como essas? Sim.

Toda adaptação tem estágios, que geralmente começam com a negação. A partir do momento em que nos conscientizamos de que é real, de que vamos precisar encarar, passamos por 5 estágios diferentes até construir forças para o enfrentamento - e isso explica inclusive a corrida aos supermercados.

A primeira fasé é a AUTOPRESERVAÇÃO, tem ansiedade, medo, busca por informação e fazer o que é necessário para tentar se preservar. Quanto já estamos mais seguros sobre as informações e canais de informação, passamos para a PRESERVAÇÃO DO GRUPO, que é ajudar os outros. Aí, profundamente humano, começamos a BUSCAR CULPADOS, identificar os culpados por transformar uma ameaça numa tragédia e as falhas no sistema que permitiram as coisas chegarem a tal ponto. A quarta fase é a BUSCA POR JUSTIÇA, em que coletivamente as pessoas querem punição de quem provocou ou não evitou o desastre tendo condições para isso. E a última fase é a RENORMALIZAÇÃO, em que a sociedade se adapta àquela ameaça e sabe tanto se defender dela quando lidar com as perdas pessoais, profissionais, sociais e financeiras envolvidas.

A Apas, Associação Paulista de Supermercados, desenhou a nossa reação a essa primeira fase, de autopreservação. Todo mundo correu aos mercados. Obviamente as pessoas pensam na questão lógica de, por exemplo, fazer em casa refeições que faziam na rua. Mas há muito efeito emocional nas compras para haver tanta subida em poucos dias. E a indústria se diz preparada.

É por essa subida repentina que algumas pessoas acabaram vendo prateleiras vazias. "Pode haver falta pontual de alguns produtos em função do tempo de reposição, quando o supermercado, por exemplo, trabalha com estoques ajustados ao movimento rotineiro", explica o presidente da APAS, Ronaldo dos Santos.

A ABRAS, que representa as 27 entidades supermercadistas em todo o Brasil, emitiu uma nota oficial explicando que o setor tem expertise em equilibrar rapidamente oferta e demanda. Os supermercados têm entregas programadas periodicamente de acordo com as vendas e vencimentos dos produtos, mas também têm muita flexibilidade para ajustar demandas em datas específicas ou ocasiões como chuvas, secas e enchentes.

"Não há risco de falta de alimentos nas lojas. O setor supermercadista brasileiro opera com normalidade. Portanto, a população não precisa se preocupar, os supermercados estão preparados, inclusive, para aumentar o abastecimento, caso necessário, como já acontece em datas sazonais", diz a nota da ABRAS.

Citei o caso de São Paulo especificamente porque, segundo a entidade, os casos de abastecimento se concentram na capital paulista e em supermercados dos bairros de classes A e B. Os produtos mais comprados foram: "macarrão, molho de tomate, azeite, sal, bolacha, torrada, creme de leite, leite condensado, açúcar, achocolatado em pó, café, leite, água, suco, produtos de limpeza e higiene, com destaque para o papel higiênico, e álcool gel", segundo a ABRAS.

A entidade já orientou os supermercados no ajuste da demanda. E isso será feito diversas vezes até o final da pandemia porque nosso comportamento vai mudar ao longo do tempo. Mesmo na França, em que é necessário ter permissão para sair de casa agora, os mercados não são fechados completamente.

Há protocolos específicos de higiene para supermercados nessas ocasiões. A higienização, aliás, é prevista de forma detalhada em lei específica, a Lei Federal 13.486/2017. Existem inúmeras leis estaduais e até municipais falando da higienização de prateleiras e carrinhos. A ABRAS já entrou em coordenação com o Ministério da Saúde para saber quais são as medidas extras que precisam ser tomadas nesse período em termos de higienização em limpeza, fez uma cartilha e distribuiu aos filiados.

A segurança e saúde dos funcionários também é objeto de preocupação: se eles estão entre aqueles que precisarão sair de casa até o final da pandemia, têm de estar entre os que mais são cuidados.

Os supermercados foram instruídos a abrir no primeiro horário, logo após a higienização, somente para os idosos e pessoas com necessidades especiais, que são a população de maior risco. Muitos já adotaram a prática.

Os supermercados podem impor limite de quantidade de produtos comprados por pessoa em situações extraordinárias, como prevê o Código de Defesa do Consumidor. No entanto, o Comitê da ABRAS formado para acompanhar os 90 mil supermercados brasileiros durante a epidemia de coronavírus considera que, levando em conta a demanda e os estoques dos distribuidores, a medida não é necessária.

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