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Solidarity e Discovery: 4 terapias promissoras contra o coronavírus em teste
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Desde a década de 90 os cientistas conhecem bem a "família" dos coronavírus. Há mais de 5 mil tipos diferentes catalogados entre os surgidos na natureza e vários outros criados em laboratório. Os cientistas fazem há décadas vacinas para algumas variantes de coronavírus, como aquelas que causam doenças em cães, gatos e vacas.

A cepa específica que causa a pandemia vivida hoje ainda não era conhecida pelos cientistas, mas eles já têm familiaridade com cepas que são geneticamente muito próximas. Essa notícia é boa porque a facilidade de encontrar uma vacina ou remédio aumenta quanto maior a familiaridade com o agente infeccioso.

Depois que o primeiro mapeamento genético do vírus foi feito, não foram necessários mais de dois meses para que cientistas já começassem a testar em seres humanos voluntários a vacina contra o coronavírus. Há times tanto na China quanto nos Estados Unidos nessa empreitada. Não é que tenham se tornado gênios ou estejam desesperados, é ciência. A partir do mapeamento genético do vírus que estava nos alvéolos dos doentes, eles fazem a comparação com o RNA dos coronavírus com que trabalham para identificar semelhanças e diferenças. Alguns estão quase lá.

Como há milhares de pessoas doentes e elas efetivamente precisam de tratamento e não têm tempo para esperar que as pesquisas terminem e indiquem o que realmente funciona, qual é o protocolo médico? Os médicos aplicam o que a literatura indica que é o mais adequado para o caso levando em conta não apenas o vírus, mas o estado geral do paciente e sua reação particular ao tratamento.

Não apenas em situação de pandemias, mas em diversas outras que são dramáticas sob o ponto de vista humano, as pessoas aceitam passar por tratamentos experimentais. Esses pacientes serão analisados em dois projetos internacionais, envolvendo 11 países e cientistas de todo o mundo: Solidarity e Discovery. Eles testarão as 4 modalidades mais promissoras de cura do coronavírus segundo a ciência.

Os estudos serão feitos durante os tratamentos reais nos hospitais. Os cientistas dão às equipes, mesmo àquelas trabalhando com superlotação, instrumentos para coletar os dados necessários para concluir qual dos tratamentos é o mais efetivo na cura do coronavírus. O método de teste se chama RCT, Estudo Clínico Randômico e é conduzido durante o tratamento real dos pacientes. Significa que cada grupo recebe aleatoriamente um dos quatro tipos de tratamento já comprovados como efetivos e serão coletados dados para verificar qual é mais efetivo para quem e quais são as contra-indicações.

O Solidarity, coordenado pela Organização Mundial de Saúde, reúne África do Sul, Argentina, Bahrein, Canadá, Espanha, França, Irã, Noruega, Suíça e Tailândia. Continua aberto para países que mostrem interesse em participar. O Brasil ainda não demonstrou.

Serão testados 4 medicamentos que, de alguma forma, se revelam promissores em conjunto com diversas outras terapias de suporte, sempre sob avaliação e supervisão dos médicos:

1. Remdesivir

É, na visão de cientistas do mundo todo, o que tem melhor potencial. Foi originalmente desenvolvido para combater o Ebola e revelou-se eficiente em laboratório mas, na aplicação prática, foi inócuo. O remédio que resolveu tudo, curiosamente, tinha sido criado para coronavírus e não funcionou. Foi a última tentativa dos médicos para salvar um jovem cuja condição havia piorado no Reino Unido e funcionou. Também foi ministrado na Califórnia a um jovem quando os médicos acharam que ele iria morrer e funcionou. O lado ruim é que ele só pode ser ministrado dentro de hospitais e o sonho dos cientistas é arrumar algo bem mais simples que mate o coronavírus.

2. Cloroquina e hidrocloroquina

Apesar de ser um remédio anunciado por Donald Trump e Jair Bolsonaro como promissor, na comunidade científica só os chineses acreditam nisso. Cientistas chineses escreveram um informe para uma revista científica internacional dizendo que trataram mais de 100 pessoas com cloroquina com sucesso, mas o informe não chegou nem a ser publicado porque foi impossível fazer o peer-review, ou seja, a revisão dos dados científicos por cientistas que não fazem parte do experimento nem da ditadura imposta pelo Partido Comunista Chinês. Médicos franceses também relataram ter tratado 20 pacientes com o mesmo medicamento, mas não houve acompanhamento até a cura nem se sabe o número de mortes. Já é ponto pacífico entre os cientistas que nem cloriquina nem hidrocloriquina podem ser dadas a nenhum paciente grave. É um medicamento muito tóxico e causa a morte.

3. Ritonavir/lopinavir

É um medicamento contra HIV vendido nos Estados Unidos com o nome Kaletra e que foi muito eficiente na pandemia de SARS/MERS em 2002-2003. Já foi feito um primeiro teste do remédio com 199 pacientes em Wuhan, na China. Os médicos os dividiram em dois grupos: um era tratado apenas com os cuidados e remédios normais e o outro tinha o Kaletra adicionado à medicação. Não foi muito empolgante a diferença entre as mortes de um grupo e outro. No entanto, desconfia-se que o estudo deu errado porque os médicos chineses esperaram a condição do paciente ficar grave demais até ministrar essa droga.

4. Ritonavir/lopinavir e interferon-beta

É a combinação utilizada em um Estudo Clínico Randômico conduzido com pacientes de MERS, chamado modestamente de MIRACLE pelos cientistas da Arábia Saudita que o conduziram. Os dois antivirais que formam o Kaletra, remédio anti-HIV, seriam administrados junto com o interferon-beta. Interferons são proteínas produzidas pelos glóbulos brancos que atuam na atividade de defesa de todas as células contra vírus, bactérias, fungos e células tumorais. Este interferon específico não é o mesmo que Cuba mandou para a China, aquele é o Interferon Alfa 2b. O Interferon tem uma atuação que mistura vacina e remédio: ele tanto pode atuar prevenindo a infecção quanto curando. O lado ruim é que não pode ser ministrado a pacientes em estágio avançado porque causa dano de tecidos.

São essas mesmas 4 drogas, seguindo o mesmo protocolo, que serão testadas no outro esforço internacional, o Discovery, anunciado hoje pelo governo da França. A única diferença entre este estudo e o da OMS é que ele terá um grupo a mais: o de controle. São pacientes que receberão apenas os remédios padrão, aqueles que estão sendo ministrados hoje a todos, a ventilação artificial e todos os cuidados, sem nenhuma droga experimental. Nesse grupo estão 3200 pessoas da Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Luxemburgo, Reino Unido e Suécia.

Esses são os dois maiores estudos conduzidos no momento, os que envolvem mais cientistas, mais hospitais e mais países. Há, paralelamente, diversos outros estudos que continuam tentando achar a cura para o Covid-19. Entre os pacientes curados há de tudo: desde pessoas que efetivamente receberam tratamentos alternativos até quem só recebeu os cuidados básicos e aqueles que atravessaram a doença sem sintomas. Os médicos vão entender agora o que diferencia um paciente do outro e como tratar todos da maneira adequada.

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