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O governador do Rio, Wilson Witzel, e o presidente Jair Bolsonaro
O governador do Rio, Wilson Witzel, e o presidente Jair Bolsonaro| Foto: Marcos Correa

Ainda não sabemos exatamente o que está sendo investigado desta vez no Rio de Janeiro e qual a extensão do envolvimento do governador Wilson Witzel. Sabemos que a deputada Carla Zambelli já tinha informações da operação, que se supõe secreta, desde ontem. E só sabemos disso porque, no meio da pior pandemia da história, nossos políticos continuam olhando apenas para os próprios umbigos. Dane-se o povo.

Os governadores brasileiros fizeram uma opção arriscada: o arreglo político no lugar do cumprimento do dever com o povo. Tinham de ter cobrado do presidente e do Congresso a apresentação de um plano nacional de enfrentamento da pandemia. Preferiram as gambiarras regionais que lhes deram holofotes políticos. Vão pagar o preço e repassar a conta para todos nós.

Muita gente bem informada tem a sensação de que o governo federal apresentou um plano ou de que o STF o impediu de implementar. Não é à toa que todos os governos mantém o firme propósito de não ensinar nada sobre cidadania, política e direitos nas escolas: um povo ignorante acredita em qualquer desculpa, mesmo que lhe custe a própria vida. Todos os mandatários, em maior ou menor grau, valem-se da falta de informação que temos sobre os deveres deles e os nossos direitos.

O que seria o tal "plano concreto" de enfrentamento da pandemia? Algo que o ex-ministro Nelson Teich tentou explicar várias vezes em sua entrevista à Globonews. As manchetes acabaram sendo apenas sobre polarização com Bolsonaro e cloroquina, duas coisas que não resolvem nada, pioram tudo mas rendem muitos cliques. Em sua breve passagem pelo ministério da Saúde, Teich diz ter deixado este plano concluído, não sabemos exatamente os parâmetros nem se será implementado, mas trata-se de algo importante para o povo e sem graça para os políticos.

Em que consiste um plano desses? Em elaborar parâmetros objetivos de percentuais de testagem e ocupação de leitos comparados com o número de casos em cada localidade. É combinando estes números que governos do mundo inteiro orientam cidades sobre como proceder e que os cidadãos ficam sabendo exatamente o que acontece ao seu redor, como devem se comportar e que resultados esperar.

Muita gente, incluindo políticos, questiona por que se institui em localidades onde o vírus nem chegou a mesma política de locais que já vivem uma tragédia no contágio. Realmente não faz sentido, a reclamação é justa. Só que, na falta de uma diretriz nacional, cada um faz o que julga mais adequado e a população, que compara medidas mais rígidas e menos rígidas, fica bastante confusa e desconfiada.

Em diversos países divide-se por fases de controle de contágio as localidades e, dependendo da fase, a população já sabe o que vai acontecer. Se está testando muito, a ocupação de UTIs está baixa e os casos estão caindo, então as pessoas sabem que estão numa fase em que, por exemplo, podem ir para algumas reuniões, as lojas podem reabrir tomando cuidados, escolas podem começar a voltar. Já no caso de baixa testagem, UTIs cheias e casos aumentando, é o oposto, são necessárias medidas mais rígidas.

Nossos vizinhos, como Paraguai, Argentina e Colômbia, tinham esses planos nacionais em janeiro - que é quando nós deveríamos ter também. Governadores e Congresso tinham o dever de cobrar, em nosso nome. Não fizeram, preferiram protagonismo regional e um trem da alegria para o centrão. Deixaram o presidente da República livre para fazer debate político em vez de trabalhar pelo povo, por todo o povo, até por quem não gosta dele, como é dever do Chefe de Estado e Governo.

Ninguém diga que Jair Bolsonaro está entregando algo diferente do que prometeu. Repete na presidência o comportamento malemolente que teve durante os 27 anos como deputado e o número de reeleições mostra que o Brasil não cobra trabalho de seus políticos, nem dele nem de ninguém. Gostamos é de bom papo. E nisso, mesmo os inimigos de Jair Bolsonaro têm de concordar, ele tem sido impecável.

Há 6 anos, em 30 de abril de 2014, Jair Bolsonaro anunciou-se como o candidato do que chamou de "nova direita" e disse que surpreenderia. Até hoje, não fez uma linha fora do que prometeu nesse discurso: "Na quinta-feira, eu oficiei o meu partido e coloquei à disposição o meu nome para, por ocasião das convenções de junho, disputar a presidência da República. Alguns levam… não levam muito a sério, como o jornalista Arnaldo Jardim, da Veja online. Só que, em dois dias, ele recebeu 11374 comentários contra ele e favorável a mim. Qual é a cara da direita? A cara da direita que é a minha cara é a defesa da redução da maioridade penal; é uma política de planejamento familiar; é a defesa da família; contra o kit gay que está voltando agora via PNE, onde querem incluir a ideologia de gênero; é a revogação do Estatuto do Desarmamento, onde só o cidadão de bem foi desarmado e os bandidos continuam armados; é o fim da indústria da demarcação de terras indígenas, que sufoca a nossa agricultura; é o fim do Exame da Ordem; é o fim das cotas para concursos públicos e para qualquer vestibular também - nós não podemos estimular o ódio racial no nosso país; é o fim da ideologia nas escolas, nos livros escolares, onde se ensina que ser capitalista está errado e ser socialista está certo; é o respeito e a valoração das nossas Forças Armadas, completamente desmoralizadas por uma comissão dita da verdade; é o fim desse malfadado, que ainda não entrou em vigor, Marco Civil da Internet, onde lá está bem claro que os internautas têm que respeitar os Direitos Humanos; é uma política minha contra os Direitos Humanos, que só defendem marginais em nosso país; contra o auxílio-reclusão dos presidiários", disse o então deputado em discurso no plenário da Câmara.

Reparem que o então deputado não teve o trabalho de dizer como iria fazer isso nem quais seriam as novas diretrizes. Por quê? Ele sabe que não precisa. Falava o que muita gente pensa e o povo não se daria conta de que dever de Chefe de Estado e Chefe de Governo vai muito além disso e mexe com a vida de todos. Pois agora estamos diante da peste, não havia nas promessas uma linha sobre Saúde Pública, quer dizer que ele não precisa cumprir?

Em teoria, precisa. Na prática, como estamos vendo, não. Os governadores optaram por fazer suas próprias ações sem, ao mesmo tempo, pressionar por uma política nacional. Não tem a menor chance de dar certo. Todos os países estão negociando insumos por vias diplomáticas, nacionalmente. Nós estamos comprando regionalmente e negociando com empresas, perdemos a força de ser um gigante de 210 milhões de pessoas, fomos fatiados no momento em que nossa união seria força.

Os governadores talvez tenham calculado sair fortalecidos politicamente ao polarizar com o presidente no meio de uma pandemia. Erraram. O presidente Jair Bolsonaro ficou livre para fazer algo que ele sabe fazer bem: política e falar para a própria base eleitoral. É o que tem feito durante toda a pandemia. Todos os Estados terão problemas na administração da crise de saúde e há aí um campo enorme para ser explorado politicamente.

Estamos chegando aos 25 mil brasileiros mortos. Que sabemos, pois os testes são raros. Outros países já não querem nos receber e não recebem nem quem pisa aqui. Nossa resposta a essa tragédia moldará as futuras gerações. Chegou a hora de, finalmente, nossas autoridades pararem de olhar para seus próprios umbigos e começarem a agir pelo povo, como se realmente pensassem que todos nós somos seres humanos iguais a eles.

O brasileiro confia na Polícia Federal. Não é a primeira e não será a última vez que um governo tenta intervir em investigações, troca gente, expurga quem investiga poderoso, vaza informação. Houve muito trabalho para que a instituição amadurecesse e, mesmo com todos esses obstáculos, conseguisse botar bandido poderoso cara-a-cara com a Justiça. Este trabalho já foi feito e as consequências de quem delinquiu virão.

Não é hora de arrastar o país para a polarização política que tanto interessa às Excelências nem de esfregar na cara do país a podridão moral em que vivem e que toleram. O brasileiro precisa cuidar da saúde e colocar comida na mesa. As Excelências, que estão com salário garantido, precisam começar a fazer aquilo de que não gostam muito: pegar no pesado sem colher dividendos políticos.

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