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“Não tem essa historinha de Estado laico não. O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias”. Defendida a plenos pulmões pelo então pré-candidato Jair Bolsonaro em fevereiro de 2017, a lógica é alarmante. Tanto que, retrospectivamente, impressiona como o fervor eleitoral e a chance de derrotar o PT conseguiram abafá-la.

O termo ‘nazista’ remete a significados e imagens tão pesadas que sua própria utilização acaba jogando a favor de quem classificado assim. Soa caricato. Após tudo o que já foi dito pelo presidente da República, porém, uma avaliação já pode ser feita sem medo de pecar pelo exagero: o governo Jair Bolsonaro, a começar pelo seu líder máximo, despreza profundamente a ordem democrática e suas premissas. Desprezo esse que só perde para o nojo demonstrado em relação às minorias e à pluralidade que encerra o próprio ser humano.

Não, o agora ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, não foi “sacaneado”, como defensores e próceres bolsonaristas começaram a argumentar desde a tarde de sexta-feira. A teoria estapafúrdia não perde somente para os fatos, revelados com exclusividade pela revista Veja, mas também para as evidências: houve a montagem de um cenário nazista, desde a indumentária, passando pela música e culminando na disposição de objetos. A repetição de palavras usadas por Joseph Goebbels apenas compôs um teatro macabro cuidadosamente ajustado para chocar.

Horas antes enaltecido pelo presidente, Alvim conseguiu exatamente isso. Chocou. Tanto que sua travessura abjeta ganhou o mundo. Tanto que acabou demitido — a duras penas e somente graças à repercussão negativa, que acabou tornando a sua permanência no governo insustentável.

Não foi o primeiro e certamente não terá sido o último integrante do governo a fustigar a sociedade para manter a corda tesa e a militância fanática em permanente estado de disputa eleitoral. Para além da defesa dos fanáticos, todavia, desta vez a corda arrebentou.

Ainda há muito para acontecer até outubro de 2022. Levando-se em conta o primeiro ano do mandato de Jair Bolsonaro, entretanto, a maioria dos brasileiros se encontrará, então, como o próprio marisco: pressionada entre o radicalismo de um governo incapaz de se apoiar em outra agenda que não a econômica, enquanto busca impor um retrocesso civilizatório inédito em nossa história, e uma esquerda que reluta em se desvencilhar do jugo petista, em que Lula continua dando as diretrizes, avesso à ideia de fazer uma autocrítica e torcendo para que a retórica bolsonarista faça o resto do serviço.

Como qualquer povo, o brasileiro não é perfeito. Ainda assim, podemos ser melhores.

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