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Foto: Evaristo Sá/AFP
Foto: Evaristo Sá/AFP| Foto: AFP

Pesquisas mostram que Jair Bolsonaro conta com o apoio de 30% dos brasileiros, o que por si só inviabilizaria um processo de impeachment. O recém-celebrado consórcio entre o governo e o Centrão, o momento dramático — que além de tudo impede a realização de protestos — e a relutância de Rodrigo Maia em apreciar denúncias contra o presidente reforçam o quadro.

A narrativa mais perigosa é sempre aquela que, entremeada por fatos, embaralha a nossa visão do todo. É verdade, Bolsonaro ainda não caiu, mas isso não significa que não esteja caindo.

Considerar o copo meio cheio quando se trata de analisar as perspectivas do governo não é fácil, mas se torna imprescindível para concluir que o presidente pisa em terra firme. A realidade é que, em apenas 1 ano e 5 meses, o governo conseguiu exasperar não apenas seus críticos, mas todos a sua volta.

Nem mesmo aliados importantes escaparam da obtusidade bolsonarista — uma sanha pelo caos que só pode ser explicada pelo pavor do presidente em ver exposta a sua inaptidão para chefiar o Poder Executivo. Episódios como os que envolveram Magno Malta, Gustavo Bebianno, o general Carlos Alberto Santos Cruz, mais recentemente Luiz Henrique Mandetta e Sérgio Moro, não permitem outra interpretação.

De tão repetida durante os últimos meses, a afirmação de que Jair Bolsonaro tem garantido o respaldo de um terço do eleitorado ganhou contornos de verdade inquestionável. Não por acaso, virou ponto de partida para qualquer análise. Fenômeno esse curioso, já que, se uma pesquisa deve ser tomada como fotografia, e várias compõem um filme em andamento, o da administração federal se encaminha para um encerramento dramático.

Entre trocas e frituras, nunca sem estardalhaço, o presidente conseguiu erodir o apoio do eleitor que interessa: aquele que não se vê comprometido com ideologias e portanto não sofre para mudar de lado. Ou seja, o responsável pela sua eleição. É o que mostra o agregador de pesquisas do JOTA.

Segundo o compilado, a avaliação negativa de Jair Bolsonaro (ruim ou péssimo) está em 40,5%, contra 29,8% de ótimo ou bom. Há um mês o quadro apresentava 37% e 31,2%, respectivamente. A pesquisa Ipespe, contratada pela XP Investimentos, revela que a avaliação negativa de Bolsonaro atingiu os 49%. Há uma semana era de 42%. A aprovação caiu de 31% para 27%.

O derretimento da popularidade e o aumento da reprovação do presidente extrapolam as estatísticas. Não há margem de erro que comporte dias a fio com brasileiros, em todos os estados da federação, batendo panelas e pedindo pela sua queda. Decerto não estamos falando de uma Avenida Paulista lotada, mas não foi o próprio bolsonarismo que inaugurou a era da quebra de paradigmas? Ou só os panelaços contra governos petistas têm valor?

Principalmente em momentos como esse, claro que a costura dos apoios políticos se torna fundamental. Bolsonaro tanto sabe disso que chutou para longe, e para quem quisesse ver, a demonização do toma lá dá cá, um dos alicerces retóricos de sua campanha à Presidência. A má notícia é que esses acertos são circunstanciais.

Ainda que o vice-presidente Hamilton Mourão não seja exatamente um Michel Temer e o fisiologismo costume ditar o andamento desses acordos, pergunta-se: quando se viu um Congresso Nacional disposto a morrer abraçado com um presidente em franca queda de popularidade, envolvido em imbróglios com o Judiciário e ruim de roda na economia?

Pois Bolsonaro completa essas três casinhas. E de quebra ainda há as dezenas de milhares de mortos por ele menosprezados de maneira tão vil que mancharão o seu nome e a imagem de seus apoiadores para sempre.

Dizer que a situação pelo qual o mundo inteiro está passando impõe mais dúvidas do que certezas seria abusar da obviedade, mas especialmente para o governo de Jair Bolsonaro — com folga o pior desde o fim da ditadura militar, quiçá em toda a nossa história — três tempestades já estão contratadas: na economia, recessão e desempregos recordes, sem falar no balanço de gastos; na política, a constatação de que um discurso irresponsável levou à morte milhares de brasileiros; na Justiça, investigações envolvendo as revelações do ex-ministro Sérgio Moro e um possível esquema de distribuição de fake news.

A narrativa em voga diz que Bolsonaro é sustentado por um grupo homogêneo e consolidado de 30% dos brasileiros, abrindo caminho para a conclusão que sua queda é improvável. Há otimismo em relação aos números, mas acima de tudo condescendência com um cenário que não poderia se pior.

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