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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil| Foto:

Para além da situação ideal, quando conhecemos alguém a ponto de conseguir desfiar as suas virtudes e os seus defeitos, é inevitável que nos deixemos levar pela imagem do sujeito na hora de formar uma opinião a seu respeito. Assim é com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno. Enquanto os cabelos brancos suscitam experiência, o aspecto franzino sugere certa fragilidade. Ainda que a fala passe firmeza.

Nesse sentido, as últimas declarações do ministro chamam a atenção. Descortinou-se não apenas um Heleno arredio, quase agressivo, mas acima de tudo descompensado. Disposto a arroubos comuns em outras bocas governo afora, nunca na sua.

Conversei com pessoas próximas à cúpula da gestão Bolsonaro sobre isso, de modo a destrinchar o que está por trás desses recentes despautérios. Posicionamentos descabidos, como declarar “não existir dúvida” de que as críticas da chanceler alemã, Angela Merkel, à atitude do governo brasileiro em relação à preservação da Amazônia não passam de “estratégia para preservar o meio ambiente do Brasil para depois eles explorarem” — finalizando com um nada diplomático “vão procurar a sua turma”.

Augusto Heleno é tido como sumidade no meio militar. Alguém que se destacou em todas as funções desempenhadas durante a carreira e que muito provavelmente receberá homenagens futuras de toda sorte. Sua obsessão maior, compromisso de vida, é o Exército. Foi pensando nas Forças Armadas que embarcou no governo. Enxergou na administração federal uma oportunidade de levantar a imagem da FA.

Não por acaso, Heleno está longe de ser um fã dos filhos do presidente. Também não foi à toa que, internamente, trabalhou e ainda trabalha para esvaziar personagens como o assessor internacional do Planalto, o olavista Filipe Martins. Faz sentido, portanto, que o ministro tenha sentido como poucos esse escândalo envolvendo um segundo sargento da Aeronáutica — Manoel Silva Rodrigues —, preso na terça-feira com 39 quilos de cocaína em um avião oficial, no aeroporto de Sevilha.

Já em Osaka, por conta do encontro do G20, Heleno foi capaz de declarar que o episódio só afetaria a imagem do Brasil “se não estivéssemos sabendo a quantidade de droga que tem no mundo”. Pior mesmo veio depois, quando afirmou que o governo não dispõe de efetivo suficiente “para controlar todo mundo” em voos oficiais.

O nervosismo do ministro é compreensível. E não se deve apenas ao fato de ter sido esse o primeiro episódio em que a imagem do Exército sai arranhada de forma inquestionável, desde o início de sua aventura no Planalto.

Experiente e arguto como muitos daqueles que o conhecem apontam, Heleno já deve ter entendido que as chances de as Forças Armadas deixarem o poder sem novas escoriações, levando-se em conta que ainda faltam três anos e meio de bolsolavismo, são cada vez menores.

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