Após a fraca atuação de Joe Biden no primeiro debate entre pré-candidatos democratas à presidência dos Estados Unidos, foi a vez de o imbróglio entre Donald Trump e o chamado “squad” — grupo de parlamentares democratas, todas negras ou de origem latina — ganhar as manchetes. Esse embate dificilmente deixará de ser instrumentalizado por ambos os lados do espectro político em 2020. E pode, para regozijo de Trump, levar o Partido Democrata a radicalizar o discurso.
Trocando em miúdos, tudo levaria a crer que o ex-vice-presidente americano sofreria uma queda considerável nas recentes pesquisas. E não só isso, que seus principais adversários reagiriam com vigor.
Isso não aconteceu. Ou, melhor dizendo, aconteceu, mas de maneira tímida. Ainda assim, essa tendência começa a ser revertida, com o outrora par de Barack Obama na Casa Branca voltando a liderar as consultas.
Segundo estatísticas divulgadas pelo Instituto Morning Consult nesta segunda-feira (22/07), Biden é o preferido entre os eleitores democratas com 33% das intenções de voto. Na prática, 1% a mais do que na última pesquisa, enquanto Bernie Sanders aparece com 18% (queda de 1%). As senadoras Elizabeth Warren e Kamala Harris aparecem quase empatadas, com 14% e 13% respectivamente.
Os números revelam que Biden chegou a perder 7% de apoio logo após o primeiro debate, mas já recuperou 2%. Enquanto isso, seus adversários parecem sem força para ameaçá-lo. E não é só. Perguntou-se também aos eleitores que candidato seria sua segunda opção de voto, caso seu preferido não vencesse a disputa pela nomeação. Pois 30% dos apoiadores de Sanders escolheriam Biden, que só não aparece bem nesse quesito entre o eleitorado de Harris (17%).
As projeções não descortinam apenas um caso de robustez eleitoral, embora Biden seja o mais conhecido entre os postulantes. Tampouco houve da parte do candidato um esforço incomum nos últimos dias para reverter uma tendência desfavorável. O que parece começar a ganhar força, e a mover o eleitor democrata, é um sentimento bastante conhecido dos brasileiros, fundamental para definir as nossas eleições em outubro passado: a rejeição extrema. Uma crescente percepção de que, para além do candidato preferido, fundamental mesmo é escolher alguém capaz de derrotar Donald Trump.
Ideológico por natureza, preocupado com pautas facilmente rotuláveis e avesso ao pragmatismo, o eleitor progressista dá indícios de estar disposto a jogar para o alto, ainda que momentaneamente, as próprias convicções. E aceitar que um candidato longe do perfil ideal — homem, branco, moderado e com longa trajetória política — talvez seja a alternativa mais viável para que os democratas voltem ao poder.
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